George Cristian V. Pereira - 'Interstícios', pela Orquestra de Sopros da UFRJ (2022)

Esta foi a estreia de minha peça "Interstícios, em Tributo a Charles Ives" realizada em 24 de outubro de 2022, justamente no dia de abertura do XXX Panorama da Música Brasileira Atual. Ela foi regida por Rafael Oliveira, um aluno do maestro Marcelo Jardim, que organizou a adaptação da partitura de minha peça para a orquestra. Para o programa original da peça, escrevi:
"Interstícios para banda sinfônica é uma peça que teve em mente o revolucionário desenvolvimento textural criado pelo compositor norteamericano Charles Ives na marcante peça The Unanswered Question, como também as eventuais citações melódicas. Na formação instrumental, quem faz as “perguntas” da peça é o saxofone alto que, ao final de tais perguntas, executa uma nota em microtom. Os instrumentos restantes “respondem” a este sax solitário sem trazerem uma real resposta. Há citações dos metais e madeiras a hinos representativos para a identidade tanto esportiva (o Hino do Bahia), quanto religiosa (o Hino ao Senhor do Bonfim) para a constituição de uma identidade baiana. Entretanto, esta mesma identidade baiana é posta em questão no momento da escuta e no transcorrer da peça, como também a incapacidade de lidar com determinados desafios - como a dissonância microtonal."
Devo dizer que esta estreia foi uma ocasião que MUITO me surpreendeu. Eu a escrevi quando era um mero graduando ainda no Curso de Composição em outubro de 2017. Não estava dando absolutamente NADA e não esperei que essa peça pudesse ser selecionada para um evento tão importante quanto o XXX Panorama da Música Brasileira Atual. Isso me motivou tanto que viajei de ônibus pela primeira vez para o Rio de Janeiro, especialmente para ver essa estreia no Salão Leopoldo Miguez. Foi memorável para mim.
A minha motivação de escrita, para além da proposta do prof. Marcos da Silva Sampaio de escrever uma peça politonal para tal formação instrumental, era o fato de as orquestras ou os intérpretes tradicionais não abarcarem o microtonalismo. Há reais entraves técnicos, mesmo para instrumentos que têm real facilidade de execução. A nota microtonal do sax tenor foi o meu protesto sonoro, e a cada execução dela, abriam-se os "interstícios". Para esta interpretação, o maestro fez algumas adaptações para tornar a peça mais significativa para a orquestra de sopros: a inclusão de uma requinta dobrando o saxofone tenor em alguns trechos (diminuindo a solidão de minha intenção original) e uma seção que precede o final, que era para ter o andamento de um frevo, acabou tendo o mesmo andamento da seção anterior. Infelizmente, o arquivo original da peça (feito no programa Sibelius) não existe mais, mas ainda tenho o PDF dela e pretendo reescrevê-la tendo em mente as acertadas adaptações do maestro.
georgechristia...

[@TheCostacesar]

Caralho meu amigo, isso é coisa séria, tenho nem roupa pra isso hehe, mas falando sério coisa fina demais, é incrível como vários instrumentos assim dão uma profundidade ao som, nuances de timbres e tudo mais, a peça em si também é de uma beleza e estranheza (no bom sentido) únicos, uma honra já ter feito sons com um compositor tão inspirado, Parabéns mais uma vez.

[@GCSoundArtifacts]

Que bom que você curtiu, meu amigo! A honra é toda minha! Muitíssimo obrigado, isso muito me incentiva! 😉