Prosa com Fernando Haddad

Fernando Haddad (São Paulo, 25 de janeiro de 1963) é um acadêmico, advogado, professor e político brasileiro, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Foi ministro da Educação de 2005 a 2012, nos governos Lula e Dilma Rousseff, e prefeito da cidade de São Paulo de 2013 a 2016. É professor de ciência política da Universidade de São Paulo (USP), instituição pela qual se graduou bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia (wikipedia).
Entrevista realizada em 29/01/2021
revistarosa.co...
00:02:42 Sua saída da Folha teve impacto importante. Ao longo dos últimos anos, entretanto, não terão faltado motivos para essa atitude, em especial o infame editorial em que, antes do primeiro turno, você foi equiparado a Bolsonaro como um candidato com pouco compromisso com a democracia. Houve também o editorial “Jair Rousseff”, que causou indignação na ex-presidente e em muitos outros. Por que sair neste momento? Foi uma reação pessoal?
00:10:21 Esquematicamente, há duas posições na esquerda sobre a necessidade atual de frentes políticas no Brasil. Uma delas defende que, diante do risco do avanço do autoritarismo, é necessário formar uma frente tão ampla quanto possível, incluindo a direita democrática. A outra entende que a ascensão do autoritarismo resultou, ao menos em parte, das políticas neoliberais e que, por essa razão, a frente política deve recusar concessões ao neoliberalismo. Como você vê esse dilema?
00:22:27 No começo, o PT tinha apoio de sindicatos, servidores públicos, classe média universitária e esquerda católica, com proximidade das organizações de trabalhadores rurais.. A configuração das relações de trabalho, nestes últimos dez ou quinze anos, parece ter criado um “público” para as organizações de esquerda bem diferente desse de 1980. Trabalhadores precários, universitários de faculdades privadas da classe C, negros, movimento sem teto, parecem adquirir novo protagonismo, a ser explorado pelo PSOL. Como você vê o futuro das “bases” do PT?
00:26:45 É importante pensar em tudo o que PT fez de errado e naquilo que não fez durantes os últmos anos. O PSOL surge como uma opção para quem não ficou contente pelos rumos tomados pelo PT. As críticas são fartas e conhecidas. Você em algum momento pensou em sair do PT?
00:35:39 A saída da FORD do Brasil causou muito debate entre economistas e cientistas políticos. A esquerda acusou o governo de levar adiante um processo de desindustrialização do Brasil. A política econômica dos governos do PT tinha um projeto consistente de desenvolvimento? Esse projeto era pautado na reversão da desindustrialização, ou o PT se contentou com um modelo pautado na apenas na inclusão financeira precarizada dos mais pobres?
00:56:14 Você acha que a concessão de Belo Monte foi uma decisão acertada?
01:03:10 Um dos marcos dos anos do PT foi o programa Bolsa Família, e já há anos a esquerda discute a instituição de uma renda básica. Com a pandemia, foi instituído pelo Congresso o Auxílio Emergencial, a que muitos creditam os índices de avaliação positiva do Governo Bolsonaro e que agora Paulo Guedes discute retomar. O prefeito Bruno Covas também incluiu como promessa de campanha a renda básica emergencial, além de ter instituído uma série de vouchers à população, como na merenda escolar e na distribuição de uniformes e material escolar, e parece colher daí dividendos políticos. Para além do contexto da pandemia, em que medida o pagamento de benefícios diretos à população diferencia direita e esquerda?
01:16:14 Em um livro recente, Leo Panitch e Sam Gindin, ao comentar o caso de Jeremy Corbyn, argumentam que um programa político deve ser avaliado menos pela radicalidade de suas propostas e mais pela forma como problematiza a implementação de transformações e contribui para abrir possibilidades futuras, ampliando as capacidades políticas das classes populares. Nas suas experiências de governo, suas iniciativas foram barradas por interesses poderosos? Em caso positivo, que transformações são necessárias para ampliar a capacidade da esquerda de adotar políticas emancipatórias?
01:21:46 Qual é sua opinião com relação ao projeto desenvolvimentisma do governo da Dilma?