as vezes eu penso que também vivenciei esse complexo de édipo "ao contrário". meu pai sempre foi a figura de afago e acolhimento e minha mãe a figura de autoridade.
Putz, eu nasci em 1967, e fui criado num "quartel militar", todo tipo de proibições sem qualquer possibilidade de contestar. Desejei tanto que desaparecessem do mapa, desde muito pequeno. Eu era uma criança, tipo, já aos 3 anos, tinha noção da minha existência, como um ser pensante, por isso tenho recordações vivíssimas dessa época. E já aos 5 anos muito consciente da minha "sexualidade" e fazia perguntas cabeludas, sobre o que eu sentia, muitos porquês, muitos porque não. E hoje, sei que ela descobriu minha homossexualidade muitos anos antes de mim mesmo, aí que a minha Jocasta desapareceu da minha existência por completo. Uma mãe da qual nunca pude ser o Édipo. Hoje ela tem 75 anos, com muita saúde física e mental, eu 52 e é muito desconfortável nosso contato físico, como sempre foi. Aquela repressão da infância se manifestou e se manifesta negativamente de muitas maneiras até hoje e para sempre será.
Paralelamente ao menor grau de repressão, temos a permissividade excessiva, que pode ter um impacto decisivo na formação de um sujeito que nao tem bordas - limites - e daí o termo borderline (limítrofe, em inglês). É curioso pensar que a personalidade do sujeito se estrutura nessa dinâmica do complexo de Édipo, podendo pender para a neurose, psicose, limítrofe ou perversão. Freud não aborda muito a questão da estrutura que hoje chamamos de borderline (vc vai encontrar estudos em Winnicott, inclusive se quiser indicações, me coloco à disposição) porque a classifica dentro da histeria, comum à época e, portanto, em moldes diferentes. No entanto, a questão da personalidade limítrofe se faz cada vez mais presente no nosso cotidiano, principalmente quando levamos em conta a ausência dos pais que é compensada por coisas materiais (influenciando no desejo e no narcisismo, mencionado em videos recentes) e, silenciosamente, atua na permissividade advinda de uma culpa por estar ausente. Como diz meu filho, eita preula! Adoraria ouvir o que vc tem a dizer sobre, Manu. Abs!
Manu, sua intenção de dialogar a Psicanálise com a Educação é maravilhosa! Estudando Winnicott vejo o quanto sua conduta como analista me lembra Paulo Freire. Como educadora vejo sim a possibilidade da Psicanalise se juntar a educação e proporcionar melhores condições para que o sofrimento humano, os traumas não sejam reproduzidos. Estou apaixonada por Winnicott. Vejo que sua teoria sobre o desenvolvimento emocional deveria ser pauta política e educacional para termos pessoas mais saudáveis. Acredito que podemos sim usar por exemplo seus conceitos de ambiente suficientemente bom sendo ele, todos em que as crianças estão inseridas- família, escola, cidade, país. Sendo assim os processos de integração, personalização e realização podem ser pensados não só para relação mãe/bebê, mas para toda relação do indivíduo (professor, escola, sociedade, país, planeta). Quanto mais integrados, mais verdadeiros e pertencentes noa sentiremos e melhores serão nossas relações com estas instâncias. Como vc concebe essa aproximação? De que forma poderíamos caminhar para a construção de uma sociedade mais saudável e humana?
Tb acho que é possível sentir prazer por viver. Acho que o caminho é este mesmo. Quanto a desejar a morte dos pais, sempre desejei a dos meus. Mas quando falo isso, as pessoas ficam horrorizadas. Mas alguém precisa ter coragem de dizer a verdade. Esta coragem em geral não me falta. Quando meu pai faleceu de verdade, foi um grande alívio. Nem fiquei triste no enterro, pelo contrário. Mas tb é preciso que eu tenha gratidão por ele ter deixado a família materialmente amparada. Isso é preciso reconhecer e agradecer. Também penso que a grande vantagem de não termos pais muito bons está em não sentir muita falta deles quando partem. Tudo tem suas vantagens e desvantagens... Também houve momentos bons com meus pais, claro. Mas a opressão gigantesca, que me impedia de ser o que eu era, e me obrigava a ser o que eu não era, pra me sentir minimamente aceita, isso machucou demais. Me tranquei pra eles e pro mundo de uma tal forma, que me levou a muita angústia e a uma depressão severa. Talvez eu não devesse, mas eu ainda os culpo pelo meu adoecimento, que me roubou anos da minha vida, da minha carreira profissional, e me impediu a realização de muitos sonhos. Claro que sou responsável pelo que faço e farei daquilo que fizeram de mim. Por isso hoje tento sentir prazer em estar viva, tento fazer trabalhos voluntários (que me ajudam muito, mais a mim que as pessoas a quem procuro servir), e ser uma pessoa que procura combater a opressão, de onde quer que ela venha. E ela tem vindo. Estamos vivendo um momento político de muita opressão. É preciso fazer resistência a este governo que está aí, que defende a violência, a discriminação, que tem feito aumentar a desigualdade social. Não dá pra se alienar politicamente. Todos acabarão sofrendo as sinistras consequências de viver sob um governo autoritário como o atual. É preciso que a gente continue lutando para sermos livres, vivermos em uma democracia que reconhece os direitos humanos e conquistar a paz, a justiça e a dignidade. Enfim, vamos tentar deixar um mundo o menos pior possível para as próximas gerações. Falar em um "mundo melhor" está difícil, não ponho muita fé, pois as emissões de carbono na atmosfera continuam altíssimas... Menos pior é o máximo que vai dar... Mas vamos tentar manter a esperança e ir vivendo um dia de cada vez, tentando fazer o melhor que pudermos! Tmj!
Muito interessante sua forma de cuidar! Não sou psicóloga nem psicanalista, mas espero dar uma educação mais livre aos meus filhos, pois sei o quanto sofro por ter sido muito presa na minha própria educação e vejo o quanto de culpa poderia não sentir, caso fosse diferente. Hoje ja tento dialogar com meu afilhado de uma forma mais livre, assim como minha psicóloga faz comigo, tento entender o que ele está sentindo no momento de raiva e não repreender logo de cara, pois o amor e o ódio andam juntos, como você mesmo disse, tem horas que queremos a "morte" de nossos pais, mas entender que também existe amor.
Perfeito! Exatamente isso! O meu desafio é como não replicar na minha criança essa repressão, Q foi minha única referência. . Mesmo sabendo q é errado parece automático. . Ta dentro de mim de maneira muito forte. . Afinal é nadar contra a corrente.. é fazer o oposto do q vi a vida toda..
Bom dia, Manu. Muito bacana essa visão. Nunca tinha olhado por esse ângulo. Sou madrasta de um casal de fofuxos. De uns meses pra cá tenhi observado esse papel com outro olhar. Conversando com oa amigos e amigas que vivem essa condição, percebi o quanto, de certa forma, assumimos um papel amoroso, protetor, mas especialmente esse "das leis". Quanto maiores os enteados, mais presente vejo essas atitudes. Não consegui elaborar o por quê ainda. Por outro lado, vejo esse acolhimento em minha experiência e dos demais do meu círculo de amigos. A liberdade que eles têm comigo nunca passou perto de existir em minha família de origem. Novos tempos, novas dinâmicas e profundos novos aprendizados. Que a gente consiga colaborar numa geração mais segura e afetuosa.
Bom dia,Manu! Admiro muito a maneira como você cria o Martin! Aqui em casa também procuro não reprimir tanto!rsrs Mas como opera o complexo de Édipo na menina??tenho uma filha de 3 anos que mora comigo e tem uma figura paterna muito ausente. Beijo!
Desde meu lugar de madrasta de duas meninas (sendo que apenas uma mora com a gente), tenho pensado muito a respeito da necessidade de um certo nível de “repressão” no processo de formação da criança. Já que, em muitos dos casos de pais separados, reina um clima de disputa para ver qual dos dois é o mais amado e mais amigo do filho, e acabam se isentando de exercer uma autoridade mínima (por medo de perder o amor do filho?), enquanto sustentam uma imagem de pais-amigos. Não falo de qualquer autoridade sem elaboração, é claro, mas em certa medida é inclusive determinante no processo subjetivo de constituição dos desejos. Talvez à juventude de hoje que vive esse clima geral depressivo, afogada num mar de positividade, lhe falte uma dose de negatividade.
Manu, seus videos me despertaram interesse nos estudos sobre Freud. Tenho buscado entendimento de como funcionamos através de textos e videos sobre psicanálise (até para entender melhor seus videos heheh). Estou achando muito interessante e tenho achado que faz muito sentido. Ainda quero ler "O Mal-estar na Civilização". Bem, hoje consigo entender algumas coisas sobre mim, sobre as pessoas do meu convívio, sobre meus filhos. Consigo entender que quando meu filho expressa raiva de mim, algo como se eu fosse a pior pessoa do mundo, num momento de conflito, consigo perceber como algo inerente a todos nós mas que ele apenas ainda nao consegue elaborar. Assim, consigo não levar mais pro lado pessoal e não sentir raiva de volta. Tento esperar os momentos que estamos conectados para falar a respeito do ocorrido. Percebo muita receptividade nesses momentos acolhedores. Você comentou sobre escola, tenho percebido que a escola é uma questão, daria muitos assuntos a respeito. Fui me informar sobre Ana Thomaz, me identifiquei com ela a respeito de educação. Já pensei em escola com pedagogia Waldorf, por exemplo, mas não tem na minha cidade. Como dizia meu saudoso Rubem Alves, a escola deveria provocar encantamentos e não aprisionamento. Quando pergunto pro meu filho de 9, o que ele mais gosta da escola, ele responde: "da hora de ir embora". Acho que não deveria ser assim. Já me informei na escola dele, me disseram que tem nenhum problema. A questão é que realmente não desperta interesse. Nada é mais legal que brincar e jogar video game, acho. Já o mais velho, de 13, nao gosta mas tolera bem. É uma dessas escolas particulares com foco no vestibular. Tento fazer essa parte de "encantamento pelo conhecimento" em casa, tentando relacionar com coisas do dia-a-dia. Em pequenas doses acho a gente vai ajudando nossos filhos. Na verdade, ainda estou aprendendo a como ajudá-los. Desculpa o texto grande. Obrigada 🌷
Rs Bom dia Manu! Essa história do Martin me fez lembrar da sobrinha do meu namorado. Ela adora brincar com o nosso cachorro e fica chateada quando vamos embora e o levamos. Um dia ela falou que quando morrermos ficará com ele. Ainda sem a noção do tempo de vida de um cachorro, só com o desejo de poder ficar sempre com ele. Rs Abraços!
Fiquei com uma dúvida, será que na conversa na mesa, quando ele indagou se vocês sabiam que morreriam primeiro, deveria ter sido dito que "não necessariamente" -pois realmente não há nada que garanta isso - ou, por ser uma criança não deveriam aprofundar sobre a morte. Não sei se me expliquei bem mas o questionamento me bateu na hora quando você disse que responderam "sim".
Nossa! Eu vejo claramente a presença do Complexo de Édipo na minha vida atual. Também vejo claramente a vontade inconsciente de que certos desejos e figuras de desejo "morram" por não querer encarar a realidade. Acabei de ver uma palestra do Alain de Botton que vc recomendou em outro vídeo e lembrei dele falando sobre o nosso lado infantil...
Acho fundamental que a relação entre pais e filhos se estabeleça numa base de confiança/segurança. Em cada família isso pode se construir de uma forma, nem sempre se manifestando em todas as esferas da relação, mas essa base é fundamental para o desenvolvimento daquele ser humano.
Lembrei muito da minha infância , meus pais me pedindo para bate na Madeira cada vez que falava algo relacionado a morte deles kkk velhos tempos , e muito bom ver que hoje em dia podemos criar nossos filhos com mais liberdade de expressão e sem tantas cobranças.
Nossa fiquei impressionada com esse vídeo! Me identifiquei muito quando vc falou sobre os cacoetes quando criança por medo dos pais morrerem, tbm tive isso. Levo até hoje pra análise a questão da morte de perder meus pais e não estar presente.
Eu particularmente curti! Gosto muito da ideia dessa relação de hoje entre pais e filhos. Todos menos castrados e cheios de repressão. Não sabemos ao certo os resultados, mas creio que serão melhores do que gerações passadas.
Recentemente uma amiga me contou, muito triste e decepcionada, que descobriu que seu namorado mentiu para ela em várias situações, não ao ponto de trair sexualmente, mas de esconder ou mentir sobre situações que ele provocava com outras mulheres para inflar seu ego. Pelo o que eu entendi, ele meio que tinha um comportamento na frente dela, mas na sua ausência tinha um trato de intimidade com outras mulheres que ele abominaria se fosse ela quem tivesse. Ela entrou em crise, primeiro porque esses motivos por si só não abortam a relação, mas continuar requer uma dor profunda. Daí veio a coisa da repressão, em que ela reprime exponencialmente ele como forma de fazê-lo entender o mal e a dor que causou e nunca mais fazer de novo (compreensão minha)... daí perguntei a ela: e isso funciona? Esse é o caminho? Mas também não sei o que faria funcionar, nem qual é o caminho... pois como ela poderia colocar uma pedra em cima disso e seguir? Quando uma pessoa que amamos mente pra gente pra ter vantagens, privilégios, como devemos agir diante do nosso sentimento? Até que ponto a mentira é "perdoável" (coloco entre aspas porque não sou cristã para perdoar ninguém...kkk)?
Isso é muito bonito, ao mesmo tempo muito maduro... Que possamos nós dar espaço para um crescimento e uma educação menos repressora. Tu poderia dizer qual foi o texto, Manu?
Acredito que a figura do pai, por sí, já repercuto na criança as noções de certo e errado, a repressão exercida pelo pai precisa ser clara, sempre num tom de amparo, pois esta presença tem outro lado, o amparo diante da realidade, o pai representa a saída amparada para a realidade. È a construção de um superego, que óbvio, não precisa ser severo, mas justo para ajuizar assertivamente o enfretamento a realidade fora de casa.
Como solucionar o complexo de Édipo feminino? Como lidar quando uma menina de 3 anos chama o padastro de marido? Estou a procura de um vídeo que ensine como educar nessa situação, mas não consigo encontrar
Manu, em minha maneira de enxergar, o "pai" é sempre o pai morto...porque é simplesmente da lei que Freud fala. Tanto faz se isso advém encarnado pelo pai, pela avó, pela mãe, pela tia, etc. Enfim, se trata de ocupar uma função de barrar o 'gozo' e essa função pode - e vai - se apoiar e ser encarnada por inúmeras figuras. Inclusive, a criança pede isso...ela oferta o corpo para que esse limite, essa lei advenha. De parte disso, ao meu ver, começa operar a possibilidade do desejo, que está estritamente ligado à proibição, ou seja, à lei (ao pai morto de Totem e Tabu...que não é o pai biológico necessariamente..é só a função que obstaculiza o gozo).
Estou lendo Tudo Que Você Precisa Saber Sobre Psicologia, ele é bem básico, introdutório. Pesquisando por conteúdo extra, como esse, trago uma reflexão bem particular: Até meus 5 anos morei com minha mãe, com algumas visitas do meu pai. Quando passamos a morar todos juntos, a figura de autoridade, respeito pelo medo, começou a ser bem recorrente com repressão em todos os sentidos. Inúmeras desobediências acusadas arbritariamente, longo períodos de trégua sem contato direto. Até que um dia ele faleceu quando tinha 16 anos e me senti aliviado, inexplicavelmente aliviado; senti certa culpa por não estar comovido, por não nutrir nenhum luto e sim o contrário, apenas uma leve pena de não termos tido a chance de um relacionamento saudável. Isso é muito chocante para qualquer um que eu imagine dizer, porque ele era muito carismático com qualquer outra pessoa.
Não sei se seu filho tem um vínculo maior com sua atual esposa, se for desta forma, a paixão do menino seria mesmo com ela, caso não. a maior protagonista do corte seria a mãe biológica e em segundo plano. sua esposa atual, como coadjuvante. Você entraria para legitimar a castração de fato.
Sou mãe, sou psicanalista, e também estou criando o meu filho com um pouco menos repressão, dando total espaço pra ele falar das angústias dele em relação a mim e as pessoas com as quais ele convive. Percebo que ele é anos luz mais evoluído emocionalmente do que eu quando eu tinha a mesma idade.
Não acredito em seres humanos mais evoluídos, isso me parece pura vaidade dos pais do tipo: "vejam como o MEU filho é mais evoluído, estão vendo? Ele é incrível, afinal é o MEU filho, né?" Cuidado para não colocar seu filho no divã, você é mãe dele, não analista dele.
Boom dia Manu ! Você acha que essa busca egocêntrica de satisfação do desejo e busca por prazer individual é algo inato de um instinto do humano, talvez pouco elaborado, formando até mesmo sistemas econômicos em escala social ( capitalismo) ou você acredita que o capitalismo é formador ou grande influenciador dessa maneira de busca por satisfação ?! Sendo beeem simplista, obviamente...
Sinto que você não parece constituir uma ameaça para o vínculo que seu filho teria para com sua esposa, que, por mais afetuosa e acolhedora que seja, pode haver uma dúvida na cabeça da criança, quanto ao amor pelo qual ela deva lutar. Fico pensando que sua esposa atual, repito, por mais esforços por parte dela, ela parece aparecer aí como o quarto elemento nesta relação. É como se você fosse aí o terceiro personagem reivindicado para que ele faça o corte da paixão pela mãe biológica.
as vezes eu penso que também vivenciei esse complexo de édipo "ao contrário". meu pai sempre foi a figura de afago e acolhimento e minha mãe a figura de autoridade.
Putz, eu nasci em 1967, e fui criado num "quartel militar", todo tipo de proibições sem qualquer possibilidade de contestar. Desejei tanto que desaparecessem do mapa, desde muito pequeno. Eu era uma criança, tipo, já aos 3 anos, tinha noção da minha existência, como um ser pensante, por isso tenho recordações vivíssimas dessa época. E já aos 5 anos muito consciente da minha "sexualidade" e fazia perguntas cabeludas, sobre o que eu sentia, muitos porquês, muitos porque não. E hoje, sei que ela descobriu minha homossexualidade muitos anos antes de mim mesmo, aí que a minha Jocasta desapareceu da minha existência por completo. Uma mãe da qual nunca pude ser o Édipo. Hoje ela tem 75 anos, com muita saúde física e mental, eu 52 e é muito desconfortável nosso contato físico, como sempre foi. Aquela repressão da infância se manifestou e se manifesta negativamente de muitas maneiras até hoje e para sempre será.
Paralelamente ao menor grau de repressão, temos a permissividade excessiva, que pode ter um impacto decisivo na formação de um sujeito que nao tem bordas - limites - e daí o termo borderline (limítrofe, em inglês). É curioso pensar que a personalidade do sujeito se estrutura nessa dinâmica do complexo de Édipo, podendo pender para a neurose, psicose, limítrofe ou perversão. Freud não aborda muito a questão da estrutura que hoje chamamos de borderline (vc vai encontrar estudos em Winnicott, inclusive se quiser indicações, me coloco à disposição) porque a classifica dentro da histeria, comum à época e, portanto, em moldes diferentes. No entanto, a questão da personalidade limítrofe se faz cada vez mais presente no nosso cotidiano, principalmente quando levamos em conta a ausência dos pais que é compensada por coisas materiais (influenciando no desejo e no narcisismo, mencionado em videos recentes) e, silenciosamente, atua na permissividade advinda de uma culpa por estar ausente. Como diz meu filho, eita preula!
Adoraria ouvir o que vc tem a dizer sobre, Manu. Abs!
Sensacional! Estou iniciando a psicologia e amando !
Muito bom! Eu acho que o equilíbrio é chave entre o acolhimento e a repreensão .
Manu, sua intenção de dialogar a Psicanálise com a Educação é maravilhosa!
Estudando Winnicott vejo o quanto sua conduta como analista me lembra Paulo Freire.
Como educadora vejo sim a possibilidade da Psicanalise se juntar a educação e proporcionar melhores condições para que o sofrimento humano, os traumas não sejam reproduzidos.
Estou apaixonada por Winnicott. Vejo que sua teoria sobre o desenvolvimento emocional deveria ser pauta política e educacional para termos pessoas mais saudáveis.
Acredito que podemos sim usar por exemplo seus conceitos de ambiente suficientemente bom sendo ele, todos em que as crianças estão inseridas- família, escola, cidade, país. Sendo assim os processos de integração, personalização e realização podem ser pensados não só para relação mãe/bebê, mas para toda relação do indivíduo (professor, escola, sociedade, país, planeta).
Quanto mais integrados, mais verdadeiros e pertencentes noa sentiremos e melhores serão nossas relações com estas instâncias.
Como vc concebe essa aproximação? De que forma poderíamos caminhar para a construção de uma sociedade mais saudável e humana?
Tb acho que é possível sentir prazer por viver. Acho que o caminho é este mesmo. Quanto a desejar a morte dos pais, sempre desejei a dos meus. Mas quando falo isso, as pessoas ficam horrorizadas. Mas alguém precisa ter coragem de dizer a verdade. Esta coragem em geral não me falta. Quando meu pai faleceu de verdade, foi um grande alívio. Nem fiquei triste no enterro, pelo contrário. Mas tb é preciso que eu tenha gratidão por ele ter deixado a família materialmente amparada. Isso é preciso reconhecer e agradecer. Também penso que a grande vantagem de não termos pais muito bons está em não sentir muita falta deles quando partem. Tudo tem suas vantagens e desvantagens... Também houve momentos bons com meus pais, claro. Mas a opressão gigantesca, que me impedia de ser o que eu era, e me obrigava a ser o que eu não era, pra me sentir minimamente aceita, isso machucou demais. Me tranquei pra eles e pro mundo de uma tal forma, que me levou a muita angústia e a uma depressão severa. Talvez eu não devesse, mas eu ainda os culpo pelo meu adoecimento, que me roubou anos da minha vida, da minha carreira profissional, e me impediu a realização de muitos sonhos. Claro que sou responsável pelo que faço e farei daquilo que fizeram de mim. Por isso hoje tento sentir prazer em estar viva, tento fazer trabalhos voluntários (que me ajudam muito, mais a mim que as pessoas a quem procuro servir), e ser uma pessoa que procura combater a opressão, de onde quer que ela venha. E ela tem vindo. Estamos vivendo um momento político de muita opressão. É preciso fazer resistência a este governo que está aí, que defende a violência, a discriminação, que tem feito aumentar a desigualdade social. Não dá pra se alienar politicamente. Todos acabarão sofrendo as sinistras consequências de viver sob um governo autoritário como o atual. É preciso que a gente continue lutando para sermos livres, vivermos em uma democracia que reconhece os direitos humanos e conquistar a paz, a justiça e a dignidade. Enfim, vamos tentar deixar um mundo o menos pior possível para as próximas gerações. Falar em um "mundo melhor" está difícil, não ponho muita fé, pois as emissões de carbono na atmosfera continuam altíssimas... Menos pior é o máximo que vai dar... Mas vamos tentar manter a esperança e ir vivendo um dia de cada vez, tentando fazer o melhor que pudermos! Tmj!
Muito interessante sua forma de cuidar! Não sou psicóloga nem psicanalista, mas espero dar uma educação mais livre aos meus filhos, pois sei o quanto sofro por ter sido muito presa na minha própria educação e vejo o quanto de culpa poderia não sentir, caso fosse diferente. Hoje ja tento dialogar com meu afilhado de uma forma mais livre, assim como minha psicóloga faz comigo, tento entender o que ele está sentindo no momento de raiva e não repreender logo de cara, pois o amor e o ódio andam juntos, como você mesmo disse, tem horas que queremos a "morte" de nossos pais, mas entender que também existe amor.
Perfeito! Exatamente isso!
O meu desafio é como não replicar na minha criança essa repressão, Q foi minha única referência. . Mesmo sabendo q é errado parece automático. . Ta dentro de mim de maneira muito forte. . Afinal é nadar contra a corrente.. é fazer o oposto do q vi a vida toda..
Bom dia, Manu. Muito bacana essa visão. Nunca tinha olhado por esse ângulo. Sou madrasta de um casal de fofuxos. De uns meses pra cá tenhi observado esse papel com outro olhar. Conversando com oa amigos e amigas que vivem essa condição, percebi o quanto, de certa forma, assumimos um papel amoroso, protetor, mas especialmente esse "das leis". Quanto maiores os enteados, mais presente vejo essas atitudes. Não consegui elaborar o por quê ainda.
Por outro lado, vejo esse acolhimento em minha experiência e dos demais do meu círculo de amigos. A liberdade que eles têm comigo nunca passou perto de existir em minha família de origem.
Novos tempos, novas dinâmicas e profundos novos aprendizados. Que a gente consiga colaborar numa geração mais segura e afetuosa.
Sim, quero ouvir mais sobre o tal complexo de Electra. E tb fiquei feliz com o exemplo de salto evolutivo nas comunicações parentais.
Bom dia,Manu!
Admiro muito a maneira como você cria o Martin! Aqui em casa também procuro não reprimir tanto!rsrs
Mas como opera o complexo de Édipo na menina??tenho uma filha de 3 anos que mora comigo e tem uma figura paterna muito ausente.
Beijo!
Desde meu lugar de madrasta de duas meninas (sendo que apenas uma mora com a gente), tenho
pensado muito a respeito da necessidade de um certo nível de “repressão” no processo de formação da criança. Já que, em muitos dos casos de pais separados, reina um clima de disputa para ver qual dos dois é o mais amado e mais amigo do filho, e acabam se isentando de exercer uma autoridade mínima (por medo de perder o amor do filho?), enquanto sustentam uma imagem de pais-amigos. Não falo de qualquer autoridade sem elaboração, é claro, mas em certa medida é inclusive determinante no processo subjetivo de constituição dos desejos. Talvez à juventude de hoje que vive esse clima geral depressivo, afogada num mar de positividade, lhe falte uma dose de negatividade.
Manu, seus videos me despertaram interesse nos estudos sobre Freud. Tenho buscado entendimento de como funcionamos através de textos e videos sobre psicanálise (até para entender melhor seus videos heheh). Estou achando muito interessante e tenho achado que faz muito sentido. Ainda quero ler "O Mal-estar na Civilização". Bem, hoje consigo entender algumas coisas sobre mim, sobre as pessoas do meu convívio, sobre meus filhos. Consigo entender que quando meu filho expressa raiva de mim, algo como se eu fosse a pior pessoa do mundo, num momento de conflito, consigo perceber como algo inerente a todos nós mas que ele apenas ainda nao consegue elaborar. Assim, consigo não levar mais pro lado pessoal e não sentir raiva de volta. Tento esperar os momentos que estamos conectados para falar a respeito do ocorrido. Percebo muita receptividade nesses momentos acolhedores. Você comentou sobre escola, tenho percebido que a escola é uma questão, daria muitos assuntos a respeito. Fui me informar sobre Ana Thomaz, me identifiquei com ela a respeito de educação. Já pensei em escola com pedagogia Waldorf, por exemplo, mas não tem na minha cidade. Como dizia meu saudoso Rubem Alves, a escola deveria provocar encantamentos e não aprisionamento. Quando pergunto pro meu filho de 9, o que ele mais gosta da escola, ele responde: "da hora de ir embora". Acho que não deveria ser assim. Já me informei na escola dele, me disseram que tem nenhum problema. A questão é que realmente não desperta interesse. Nada é mais legal que brincar e jogar video game, acho. Já o mais velho, de 13, nao gosta mas tolera bem. É uma dessas escolas particulares com foco no vestibular. Tento fazer essa parte de "encantamento pelo conhecimento" em casa, tentando relacionar com coisas do dia-a-dia. Em pequenas doses acho a gente vai ajudando nossos filhos. Na verdade, ainda estou aprendendo a como ajudá-los. Desculpa o texto grande. Obrigada 🌷
Rs Bom dia Manu!
Essa história do Martin me fez lembrar da sobrinha do meu namorado.
Ela adora brincar com o nosso cachorro e fica chateada quando vamos embora e o levamos. Um dia ela falou que quando morrermos ficará com ele. Ainda sem a noção do tempo de vida de um cachorro, só com o desejo de poder ficar sempre com ele. Rs
Abraços!
Existem elaborações feitas mais recentemente (e de forma menos heteronormativa) a respeito do Complexo de Édipo e a homossexualidade masculina?
Fiquei com uma dúvida, será que na conversa na mesa, quando ele indagou se vocês sabiam que morreriam primeiro, deveria ter sido dito que "não necessariamente" -pois realmente não há nada que garanta isso - ou, por ser uma criança não deveriam aprofundar sobre a morte. Não sei se me expliquei bem mas o questionamento me bateu na hora quando você disse que responderam "sim".
Nossa! Eu vejo claramente a presença do Complexo de Édipo na minha vida atual. Também vejo claramente a vontade inconsciente de que certos desejos e figuras de desejo "morram" por não querer encarar a realidade. Acabei de ver uma palestra do Alain de Botton que vc recomendou em outro vídeo e lembrei dele falando sobre o nosso lado infantil...
Acho fundamental que a relação entre pais e filhos se estabeleça numa base de confiança/segurança. Em cada família isso pode se construir de uma forma, nem sempre se manifestando em todas as esferas da relação, mas essa base é fundamental para o desenvolvimento daquele ser humano.
Lembrei muito da minha infância , meus pais me pedindo para bate na Madeira cada vez que falava algo relacionado a morte deles kkk velhos tempos , e muito bom ver que hoje em dia podemos criar nossos filhos com mais liberdade de expressão e sem tantas cobranças.
Oi!Como é o complexo de édipo para mulher?fiquei curiosa!
Nossa fiquei impressionada com esse vídeo! Me identifiquei muito quando vc falou sobre os cacoetes quando criança por medo dos pais morrerem, tbm tive isso. Levo até hoje pra análise a questão da morte de perder meus pais e não estar presente.
Eu particularmente curti! Gosto muito da ideia dessa relação de hoje entre pais e filhos. Todos menos castrados e cheios de repressão. Não sabemos ao certo os resultados, mas creio que serão melhores do que gerações passadas.
Ei Manu! Acho mto interessante os desdobramentos da sua relação com Martin, parabéns também pela educação que você dá pra ele. Eu adoro seus vídeos 😊
Recentemente uma amiga me contou, muito triste e decepcionada, que descobriu que seu namorado mentiu para ela em várias situações, não ao ponto de trair sexualmente, mas de esconder ou mentir sobre situações que ele provocava com outras mulheres para inflar seu ego. Pelo o que eu entendi, ele meio que tinha um comportamento na frente dela, mas na sua ausência tinha um trato de intimidade com outras mulheres que ele abominaria se fosse ela quem tivesse. Ela entrou em crise, primeiro porque esses motivos por si só não abortam a relação, mas continuar requer uma dor profunda. Daí veio a coisa da repressão, em que ela reprime exponencialmente ele como forma de fazê-lo entender o mal e a dor que causou e nunca mais fazer de novo (compreensão minha)... daí perguntei a ela: e isso funciona? Esse é o caminho? Mas também não sei o que faria funcionar, nem qual é o caminho... pois como ela poderia colocar uma pedra em cima disso e seguir? Quando uma pessoa que amamos mente pra gente pra ter vantagens, privilégios, como devemos agir diante do nosso sentimento? Até que ponto a mentira é "perdoável" (coloco entre aspas porque não sou cristã para perdoar ninguém...kkk)?
Isso é muito bonito, ao mesmo tempo muito maduro... Que possamos nós dar espaço para um crescimento e uma educação menos repressora. Tu poderia dizer qual foi o texto, Manu?
Acredito que a figura do pai, por sí, já repercuto na criança as noções de certo e errado, a repressão exercida pelo pai precisa ser clara, sempre num tom de amparo, pois esta presença tem outro lado, o amparo diante da realidade, o pai representa a saída amparada para a realidade. È a construção de um superego, que óbvio, não precisa ser severo, mas justo para ajuizar assertivamente o enfretamento a realidade fora de casa.
Como solucionar o complexo de Édipo feminino? Como lidar quando uma menina de 3 anos chama o padastro de marido? Estou a procura de um vídeo que ensine como educar nessa situação, mas não consigo encontrar
Manu, em minha maneira de enxergar, o "pai" é sempre o pai morto...porque é simplesmente da lei que Freud fala. Tanto faz se isso advém encarnado pelo pai, pela avó, pela mãe, pela tia, etc. Enfim, se trata de ocupar uma função de barrar o 'gozo' e essa função pode - e vai - se apoiar e ser encarnada por inúmeras figuras. Inclusive, a criança pede isso...ela oferta o corpo para que esse limite, essa lei advenha. De parte disso, ao meu ver, começa operar a possibilidade do desejo, que está estritamente ligado à proibição, ou seja, à lei (ao pai morto de Totem e Tabu...que não é o pai biológico necessariamente..é só a função que obstaculiza o gozo).
Estou lendo Tudo Que Você Precisa Saber Sobre Psicologia, ele é bem básico, introdutório. Pesquisando por conteúdo extra, como esse, trago uma reflexão bem particular:
Até meus 5 anos morei com minha mãe, com algumas visitas do meu pai. Quando passamos a morar todos juntos, a figura de autoridade, respeito pelo medo, começou a ser bem recorrente com repressão em todos os sentidos. Inúmeras desobediências acusadas arbritariamente, longo períodos de trégua sem contato direto. Até que um dia ele faleceu quando tinha 16 anos e me senti aliviado, inexplicavelmente aliviado; senti certa culpa por não estar comovido, por não nutrir nenhum luto e sim o contrário, apenas uma leve pena de não termos tido a chance de um relacionamento saudável. Isso é muito chocante para qualquer um que eu imagine dizer, porque ele era muito carismático com qualquer outra pessoa.
Não sei se seu filho tem um vínculo maior com sua atual esposa, se for desta forma, a paixão do menino seria mesmo com ela, caso não. a maior protagonista do corte seria a mãe biológica e em segundo plano. sua esposa atual, como coadjuvante. Você entraria para legitimar a castração de fato.
Fala, manu!
Qual o melhor livro na sua opinião para começar a ler Freud?
Kaio H. Mal estar na civilização
Fui conhecer esse livro somente na faculdade na disciplina de Filosofia.
Amei o livro, podia ter lido antes.
Quantos anos ele (Martin) tem?
Claro que vou compartilhar! 😊
fala simm do complexo de electra!!
Sou mãe, sou psicanalista, e também estou criando o meu filho com um pouco menos repressão, dando total espaço pra ele falar das angústias dele em relação a mim e as pessoas com as quais ele convive. Percebo que ele é anos luz mais evoluído emocionalmente do que eu quando eu tinha a mesma idade.
Não acredito em seres humanos mais evoluídos, isso me parece pura vaidade dos pais do tipo: "vejam como o MEU filho é mais evoluído, estão vendo? Ele é incrível, afinal é o MEU filho, né?"
Cuidado para não colocar seu filho no divã, você é mãe dele, não analista dele.
Boom dia Manu ! Você acha que essa busca egocêntrica de satisfação do desejo e busca por prazer individual é algo inato de um instinto do humano, talvez pouco elaborado, formando até mesmo sistemas econômicos em escala social ( capitalismo) ou você acredita que o capitalismo é formador ou grande influenciador dessa maneira de busca por satisfação ?! Sendo beeem simplista, obviamente...
É uma relação dialética
Manu chama a Isa Minatel...please!!!!
Gostei!!! Parabéns :)
Sinto que você não parece constituir uma ameaça para o vínculo que seu filho teria para com sua esposa, que, por mais afetuosa e acolhedora que seja, pode haver uma dúvida na cabeça da criança, quanto ao amor pelo qual ela deva lutar. Fico pensando que sua esposa atual, repito, por mais esforços por parte dela, ela parece aparecer aí como o quarto elemento nesta relação. É como se você fosse aí o terceiro personagem reivindicado para que ele faça o corte da paixão pela mãe biológica.
Acho que ainda não dá pra saber as consequências dessa maior liberdade de expressão da criança , mas me agrada a ideia.
Gente nem vou comentar , tanto papo cabeça aqui que eu vou me calar 😶🤐😂
Seus vídeos são muito longos