O humor precisa ser irreverente ou então vira propaganda de margarina | Revista Bula

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  • เผยแพร่เมื่อ 10 ก.ย. 2024
  • Existem inúmeros motivos para ler a nova edição de “Pantagruel e Gargântua” (Editora 34), de François Rabelais, traduzida por Rodrigo Gontijo Flores. Aí vão 8.
    1. Muito antes de inventarem Star Wars, já existia a “prequel”. Parece que em português se diz “prequela”. Sério. “Prequela” lembra um cancro venéreo nos Países Baixos, então vamos de “prequel” mesmo. Gargântua é o pai do Pantagruel, como Anakin é pai do Luke, mas a história dele foi publicada em 1534, dois anos depois do primeiro livro. Os dois são gigantes e comem, bebem e transam como se o mundo estivesse à beira do Juízo Final. Vem daí as expressões “banquete pantagruélico” ou “proporções gargantuescas”. Literatura também é cultura!
    2. O autor francês François Rabelais faz parte do chamado “cânone literário ocidental”, um conjunto de obras que pouca gente leu, mas que todo mundo adora odiar. Ele é contemporâneo do inglês William Shakespeare e do espanhol Miguel de Cervantes.
    3. Embora tenha sido um erudito poliglota, com formação em medicina e teologia, Rabelais brilha mesmo é como escritor de humor. Ele é satírico, crítico e abusadamente debochado. A graça surge disso: da subversão do pernosticismo acadêmico com a escatologia mais vulgar saída das ruas.
    4. Isso também está presente nessa nova tradução. Rodrigo Gontijo Flores consegue trazer o texto do século 16 para o 21, utilizando o mesmo recurso estilístico do autor. No meio de um trecho pretensamente erudito, ele enfia expressões como “pitchula”, “chama o Raul” ou “cair o cu da bunda”. Gontijo Flores tem a ambição de traduzir toda a obra de Rabelais. “Pantagruel e Gargântua” é apenas o primeiro da série. Complete sua coleção!
    5. Todo livro é um produto do seu tempo. E peço perdão ao leitor da Bula por escrever essa cretinice. A obviedade é sempre óbvia, além de muito chata. Mas o que não falta, hoje em dia, é gente pra “desconstruir” as cartas do Pero Vaz de Caminha com a sensibilidade de quem cresceu nos Jardins comendo sucrilhos Kellogs. “Pantagruel e Gargântua” está inserido no período chamado de Renascença, que foi quando godos, visigodos e ostrogodos resolveram fingir que eram civilizados. O livro é contemporâneo das grandes navegações, dos tipos móveis e do cisma protestante. Rabelais investe contra o academicismo porque, na época, a Universidade da Sorbonne era o braço intelectual do catolicismo e decidia o que podia ser publicado e o que devia ser censurado. Ainda bem que vivemos no século 21, onde nenhum acadêmico fica postulando sobre o que pode e o que não pode, né? Né?
    6. E isso nos leva ao sexto motivo: a função do humor. O brasileiro adora pontificar. Todo mundo sempre foi 30% técnico de futebol, 30% sociólogo, 30% juiz do Supremo e 30% estatístico. De uns anos pra cá, virou também especialista em humor. O que pode, o que não pode e, principalmente, qual é a punição para quem diz o que não pode. Esse movimento autoritário não vem apenas da direita, mas também da esquerda, formando um caldo de intolerância social que gera aberrações políticas do tipo Trump e Bolsonaro. É a praga do século 21 e ela é muito mais letal do que a Covid. François Rabelais traz uma lição importante nos seus livros: o humor precisa ser sempre irreverente com os grupos que detém o poder, seja político ou cultural. Quando passa a ser reverente, deixa de ser humor e vira propaganda de margarina.
    7. Além de tudo isso, “Pantagruel e Gargântua” é muito engraçado, especialmente na tradução do Guilherme Contijo Flores. E o livro ainda tem desenhos do Gustave Doré, um dos maiores ilustradores franceses do século 19.
    8. Rabelais também influenciou Raul Seixas, mas eu não estou a fim de falar sobre isso. Dá uma googlada. Dica: “Faça o que tu queres, pois é tudo da lei, da lei...”
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ความคิดเห็น • 11

  • @Mozarteen
    @Mozarteen 3 หลายเดือนก่อน +1

    Ótima análise, rachei aqui com as comparações e a tradução hahahah mt obg

  • @ocartunistafrustrado
    @ocartunistafrustrado 2 ปีที่แล้ว +7

    Aran sua análise me conquistou! Já quero ler Pantagruel e Gargântua. Gosto muito do trabalho de vocês aqui na Revista Bula ❤

    • @lucaslibanio7019
      @lucaslibanio7019 2 ปีที่แล้ว +2

      leia os livros do Aran,são muito bons.

    • @ocartunistafrustrado
      @ocartunistafrustrado 2 ปีที่แล้ว

      @@lucaslibanio7019 Opa! Vou ler sim, valeu a recomendação.

    • @lucaslibanio7019
      @lucaslibanio7019 2 ปีที่แล้ว +1

      @@ocartunistafrustrado se puder comece pelo "Imbecilismo"

    • @alineabdelnur1766
      @alineabdelnur1766 ปีที่แล้ว

      Isso. O "Imbecilismo" tenho há anos. Muito divertido.

  • @talissateixeira5223
    @talissateixeira5223 2 ปีที่แล้ว +1

    👏👏👏👏👏👏

  • @guilhermeguimaraes1762
    @guilhermeguimaraes1762 2 ปีที่แล้ว

    Sobre o ponto 8 na descrição, thelema de crowley influenciou Raul. É bem diferente

  • @talissateixeira5223
    @talissateixeira5223 2 ปีที่แล้ว

    Adoro suas comparações

  • @leticiatavares872
    @leticiatavares872 2 ปีที่แล้ว

    Vou ter de reler

  • @ncfification
    @ncfification 5 หลายเดือนก่อน

    Adam Sandker? Que horror!