medo da eternidade - Clarice Lispector

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  • เผยแพร่เมื่อ 15 ต.ค. 2024
  • medo da eternidade - Clarice Lispector
    Narração: Tainá Stark
    Instagram: @vagandonafrustracao
    / vagandonafrustracao
    Instagram pessoal: @starktaina
    / starktaina
    contato: vagandonafrustracao@gmail.com
    Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
    Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu
    nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava
    para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
    Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
    - Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
    - Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
    - Não acaba nunca, e pronto.
    - Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a
    pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia
    acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para
    chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente,
    tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
    Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
    - E agora que é que eu faço? - perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
    - Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a
    mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
    - Perder a eternidade? Nunca.
    O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos
    para a escola.
    - Acabou-se o docinho. E agora?
    - Agora mastigue para sempre.
    Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa
    cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na
    verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de
    medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.
    Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu
    mastigava obedientemente, sem parar.
    Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no
    chão de areia.
    - Olha só o que me aconteceu! - disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A
    bala acabou!
    - Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a
    gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um
    dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
    Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo
    que o chicle caíra da boca por acaso.
    Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
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ความคิดเห็น • 5

  • @edsonfonseca2614
    @edsonfonseca2614 8 หลายเดือนก่อน +1

    Foi uma grande escritora melancólica..

  • @mariomoreira5823
    @mariomoreira5823 8 หลายเดือนก่อน

    ❤ Clarice Lispector no Mundo das Letras será sempre ÚNICA e IMORTAL ... ❤

  • @MariaCapra-s3k
    @MariaCapra-s3k 10 หลายเดือนก่อน +1

    Olha outra coincidência, ❤❤❤❤❤❤

  • @rogerioferrari2386
    @rogerioferrari2386 8 หลายเดือนก่อน

    Que conto lindo!!

  • @andyaracristianealves4736
    @andyaracristianealves4736 8 หลายเดือนก่อน

    Maravilhoso