Os santos são mais livres do que nós? - Perguntas e Respostas #15
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- เผยแพร่เมื่อ 23 ก.ย. 2024
- Perguntas e Respostas, 15º vídeo, com o prof. Luiz Gonzaga de Carvalho Neto.
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Pergunta completa: "O senhor disse uma vez que os santos são os mais livres dos homens. Em que sentido os santos são os mais livres de todos os homens? A primeira impressão é a contrária, que a condição necessária para a santidade é a supressão dos próprios desejos e a modulação dos desejos a partir do modelo de Jesus Cristo. Portanto, nesse sentido, a santidade seria a negação da própria liberdade, tendo em vista um fim maior do que ela e que compensa infinitamente a sua negação."
• Os santos são mais liv...
Quando fazemos apenas que gostamos, a única coisa que conseguimos é sermos escravos das nossas próprias vontades.
Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
João 8:36
Transcrição:
Pergunta: Em que sentido os santos são os mais livres dos homens? A primeira impressão é a contrária, que a condição necessária para a santidade é a supressão dos próprios desejos e a modulação dos desejos a partir do modelo de Jesus Cristo. Portanto, nesse sentido, a santidade seria a negação da própria liberdade tendo em vista um fim maior do que ela e que compensa sua negação.
Se Jesus Cristo fosse um modelo ou uma medida extrínseca ao ser humano, é evidente que a conformação a esse modelo teria algum elemento de violação da liberdade humana ou diminuição dela. Mas, o Verbo divino é o próprio modelo segundo o qual é feito o ser humano. Uma coisa é mais perfeita na medida em que ela é mais adequada ao seu modelo. Ou seja, a própria liberdade humana é uma participação da liberdade criativa divina. Quanto mais o homem, que é a imagem, se assemelha ao modelo, mais ele é livre, pois a liberdade é um elemento intrínseco do modelo, e o homem é livre porque ele é feito à imagem desse modelo.
Daí a frase de Santo Agostinho, segundo a qual Jesus Cristo é mais eu do que eu mesmo. Se você for procurando em seu interior, chega uma hora em que você chega a uma pura interioridade da alma, e lá você encontra o Verbo divino. Não encontra eu ou você, mas encontra Jesus Cristo.
Pode parecer acidentalmente que ao agir deste jeito e não daquele porque Jesus Cristo falou, o modelo aparece como um ente externo e uma medida extrínseca. Parece que se deve moldar o comportamento deste indivíduo segundo o daquele outro indivíduo. Mas na verdade você não está moldando seu comportamento em razão das diferenças de individualidade, mas em razão do fato daquele ser justamente, primeiro, o verbo divino, o modelo supremo a partir do qual são moldados os homens. Quando Deus criou o homem, Deus pensou assim: "se eu fosse fazer uma coisa que nasce, cresce, vive e morre, mas que fosse semelhante a mim". É como se a gente fosse pintar um quadro que lembra uma pessoa. O quadro tem duas dimensões e não se mexe. Daí temos de pensar "se essa pessoa aqui, que eu conheço, com esse temperamento, com essa aparência, se ela tivesse duas dimensões e fosse imóvel, como eu a representaria?". Foi mais ou menos isso que Deus pensou quando fez o homem: Se eu fosse mortal, se eu tivesse uma vida orgânica, como eu apareceria? Este é o homem. Uma coisa que é feita segundo um modelo, é tão mais perfeita quanto ela se assemelha ao modelo.
E ainda há um acréscimo: além de ser o Verbo divino, ou seja, esse modelo intrínseco, Jesus Cristo ainda assumiu a natureza humana e aparece como um ser humano. Já que a semelhança entre o homem e o Verbo divino é de natureza puramente espiritual e difícil de captar pelo homem, então ele aparece não somente como modelo mas também como alguém que é perfeitamente semelhante ou conforme a esse modelo.
Então há duas razões para imitar Jesus Cristo e essas duas razões são causa de liberdade, e não o contrário.
Não existe liberdade sem conhecimento da verdade. A gente tem na nossa vida muito pouco conhecimento dos efeitos últimos das nossas ações sobre a nossa própria alma, mas muito pouco. A gente calcula, por exemplo, eu estou dando essa aula aqui, o pessoal vai achar interessante, vai pagar um dinheirinho, etc, e no dia do juízo? Os efeitos disso aí sobre a minha alma continuarão até o dia do meu juízo, e quais serão esses efeitos? Eu não tenho a menor ideia. Isso quer dizer que a minha liberdade humana se dá até o ponto em que eu posso antecipar consequências das minhas ações. Ora, as ações de Jesus Cristo são ações que você pode garantir que têm efeito benéfico para a alma de Jesus Cristo, considerando-o como homem. Como todos os homens são mais ou menos semelhantes uns aos outros, você sabe que se você repetir aquelas ações e procurar conformar-se exteriormente e interiormente a elas, é procurar também obter efeitos análogos para você no dia do juízo. Causas análogas têm consequências análogas. Isso é numa tremenda ampliação da sua liberdade. Como quando ele fala: "Quando fordes orar, fazei assim: Pai Nosso, que estais no céu..." Ora, na maior parte do tempo, eu não sei o que pedir a Deus. Eu peço as coisas que me parecem que terão um efeito benéfico, mas e o efeito em última análise? E o efeito último dessas coisas que eu estou pedindo, vai ser bom ou mau? Eu não sei. Isso significa que o meu grau de liberdade ao fazer esses pedidos é bem pequeno, mas quando eu digo "Pai Nosso que estais no céus, santificado seja o vosso nome", eu sei que o efeito benéfico dessa intenção alcança até o juízo final. Eu sei que a consumação desse pedido terá um efeito benéfico para mim de hoje para sempre. Agora e sempre eu só tenho uma coisa para oferecer. Dentro desse modelo, você tem uma garantia de liberdade que é incomparável com qualquer outro tipo de garantia que você pode oferecer. Ora, como o santo é o sujeito que chegou maximamente a essa intimidade ou união com Jesus Cristo e conformação com Ele, é evidente que eles são os mais livres de todos os homens.
A questão é toda essa. Jesus Cristo não é uma medida externa, mas ele aparece como uma medida externa para facilitar, para dar mais um meio de acesso a uma medida intrínseca, que é a medida do homem. O homem é livre, porque Deus é livre, e o ele é uma imagem de Deus, uma imagem vivente de Deus. Assim como quando você representa num quadro uma pessoa bela, o quadro é belo e o quadro manifesta a qualidade da beleza, mas não como a pessoa. A nossa liberdade não é senão uma participação da liberdade divina. Quando a gente desvia desse modelo, você tem 99% de chance de estar, aí sim, perdendo sua liberdade.
O intelecto humano é da mesma essência que todo e qualquer intelecto (num sentido específico, não no sentido tomista). O princípio eficiente de todos os intelectos é um só: o intelecto divino. E quando uma coisa tem um único princípio eficiente, um único sentido, ela é análoga ao seu princípio eficiente. Por exemplo, se tem uma coisa que tem como se efeito característico aquecer, e uma outra coisa cuja natureza característica é ser aquecida, essa coisa que é aquecida, quando é aquecida, por sua natureza aquece outras coisas. A inteligência humana é assim em relação à inteligência divina. Ou seja, a inteligência divina é o próprio modelo mesmo da inteligência humana que é a sua coisa mais característica, que o define como homem.
O princípio teórico é simples, mas há também um exemplo prático. Se você observar a vida dos santos, você vai ver que é exatamente nas situações em que eles se atém mais literalmente a seguir o modelo de Jesus Cristo, que eles alcançam o máximo de liberdade e os efeitos são maximamente de acordo com a intenção deles. O santo não pode imitar literalmente a biografia de Jesus Cristo, ele não pode nascer no estábulo, ele não pode criar a mesma circunstância. Então, o exemplo deve ser modulado pela circunstância, e às vezes a circunstância da vida dele oferece uma situação em que ele pode fazer exatamente igual, e esses são os momentos do ápice de liberdade deles.
Então não é uma renúncia à liberdade tendo em vista outra coisa. É uma renúncia à aparência de liberdade, que é você fazer o que você gosta. Como se fizesse de conta que ao fazer o que eu gosto minha ação não tem efeitos que eu ignoro. Nesse círculo em que não existe nenhum efeito que é ignorado, é claro que quando eu faço o que eu gosto eu sou totalmente livre, mas em tudo o que eu faço existem inúmeros feitos (muitas vezes os principais efeitos) que eu ignoro e desconheço. Então é evidente que isso é brincar de liberdade dentro do pátio da escola. A liberdade que o santo adquire é incalculavelmente maior do que essa. Um santo adquire uma liberdade tal em que se você matá-lo, você não o está privando de sua liberdade. Se você o matar agora, ele sabe exatamente o que vai acontecer com ele, e isso é liberdade. Quando que a gente tem essa liberdade? Nunca.
Ótima transcrição
@@joaolucascruz9127 🙏🙏
São Justino, o Filósofo, logo antes de receber o martírio, quando perguntado por seu algoz se achava que ao morrer entraria no Céu e seria recompensado por Deus respondeu:
"Não acho, sei."
Também tem o fato de como somos manchados pelo pecado original, temos uma propensão ao pecado, o fato de você repudir essa propensão, algo que está em você, é um sinal de liberdade tremenda. Para quem quiser uma explicação mais teológica, ao invés de filosófica, pode procurar um vídeo do Pe.Paulo Ricardo, em que ele cita esse tema da liberdade!
A pergunta do sujeito teve uma visão muito materialista de liberdade... pra ele a liberdade é apenas para os prazeres, e não para algo transcendente.... a verdadeira liberdade é conhecer as causas últimas das ações e todo o caminho que será traçado... porque caso contrário, se faria algo que era ignorado ou desconhecido - até mesmo algo que não se goste. Excelente!
Sensacional! Obrigado professor.
Jesus Cristo é mais eu do que eu mesmo.
🔥❤️
Muito boa explicação!! Obrigado! Deus continue te abençoando
É justamente o contrário do que o rapaz propôs, quem obedece ás suas paixôes desordenadas, maus hábitos e impulsos obsessivos, quem faz o que lhe der na telha, quem obedece ao egocentrismo jamais é livre, mas escravo. O santo, o homem inspirado por Deus, não é condicionado pelas paixôes, desejos obsessivos, apegos, maus hábitos e pensamentos recorrentes, logo é livre para eleger o que fazer. Um exemplo prático: o homem que se libertou do vício do cigarro é livre para sair de casa ou não num dia frio e chuvoso, já o dependente deste vício não é livre, pela vontade de fumar vai ter de se arrumar, pegar o guarda chuvas e sair na chuva, não é livre para ficar em casa, mas um marionete escravo de suas paixôes. Quase não há livre arbítrio em alguém dominado pelas paixôes, condicionado pela mesma mentalidade, apegos, hábitos e impulsos recorrentes. Só quando somos livres das paixôes e que podemos exercer o livre arbítrio de fato, por isso o santo é mais livre.
As pessoas estão presas a estes padrões obsessivos compulsivos, sempre à mesma maneira de pensar, aos mesmos hábitos e desejos semelhantes, nao mudam, se convivemos com estas algum tempo já sabemos como irão reagir ante tal situação. Só o auto-conhecimento, o arrependimento e o esforço em anular tais impulsos ("suprimir") é que lhe faz livre. No Budismo e no Vedanta esta repetição de reações emocionais, mentalidade, hábitos, desejos, é a roda do samsara, e sair disto é a verdadeira liberdade, moksha ou nirvana (a extinção das delusões do falso ego).
Seria liberdade mesmo na medida onde eu posso olhar tudo aquilo que me oprime, como os desejos, e tomar uma decisão racional, como a imitação de Jesus Cristo, que possui potências humanas?
Será que o Olavo de Carvalho jovem era assim? Eles falam muito semelhantemente.
Deve ser dahora ter pai...
reflexao maravilhosa
Intelecto divino.
Aula maravilhosa.
Magistral
Espetacular!!!!!
Gugu, gostei muito da explicação. Parabéns!
Que vídeo!
show
❤️
E feito benéfico agora e sempre
Não temos essa liberdade dos santos... mas, sem dúvida, devemos almejá-la, não?
Somos feitos para a santidade