Esse papo rola muito também no mangá, acho que até mais que na hq (fazendo essa separação só pra simplificar), a galera do mangá tá muito bitolada nesses conceitos onde é bom pq o desenho é "realista", obras como Berserk ou Vagabond onde nessas mesmas obras esse conceito de "realismo plástico" é quebrado posteriormente pelos próprios autores, mas a narrativa da galera ainda persiste, enquanto isso essa mesma galera fica taxando autores como o Togashi Yoshihiro por não fazer desenhos realistas e perdem de ver o quanto GENIAL o cara é tanto como desenhista mesmo como quadrinista. E é como você disse, todas as obras que eu citei acima são maravilhosas por NÃO serem realistas, e tá tudo bem
E o curioso que essa supervalorização do naturalismo e do realismo na arte é uma construção da cultura ocidental. Se considerarmos as tradições da arte japonesa, eles não supervalorizam essas características. Então esse pessoal que se diz "otaku" nem percebo o quanto eles estão fazendo um julgamento a partir de preconceitos ocidentais sobre os mangas.
@@IlhaKaijuua não supervalorização do realismo e do naturalismo TB é uma construção da cultura japonesa. O otaku ocidental ( ou ocidentalizado, como nós brasileiros) não é antropólogo. Ele absorve as informações vindas do Japão ( não do oriente, visto que oriente e ocidente são muitas coisas, ou podem até ser abstrações vazias, visto que árabes e muçulmanos TB são considerados orientais pela Europa e EUA) de acordo com seu caldo cultural. Ser otaku no Japão e no Brasil são coisas diferentes. Veja bem, até a definição de romantismo tem a ver com o momento histórico do desenvolvimento do capitalismo que a Europa passou. Faz sentido em falar de romantismo no Japão como coisa autóctone? Não há essencialismo otaku. Não há essência oriental nem ocidental. Mas há poder. E, se o Japão consegue exportar cultura é pq está no centro da divisão internacional do trabalho. Sim, há nações ditas orientais que estão na cabeça do imperialismo mundial. Gosto de cultura pop japonesa. Mas orientalismo é uma forma de poder que o ocidente exerce sobre o oriente e o Brasil não é ocidental. Se tenho pré-conceitos sobre a cultura japonesa, na divisão internacional do trabalho o Japão é quem está por cima e nós por baixo. Não há Orientalismo no Brasil, só há papagaios de colonizador europeu e estadunidense...ser metaleiro na Escandinávia e no Brasil são coisas diferentes....
Questionar o "realismo" dessas obras parece que é provocação, mas faz muito sentido e está perfeitamente correto tudo que você disse. Cada vídeo seu é uma aula de Arte!
é ai que tá né, chegou ao ponto de ser 'inquestionavel'! XD passou a ser algum tipo de 'crime' questionar algumas obras, ou mesmo não gostar. em algumas rodas de conversa, ja vi pessoas evitando falar que não gostaram de watchman ou cavaleiro das trevas.
A expressão que mais me incomoda, quando alguém fala de uma historia é "essa ---------- não se leva a sério", fico pensando, de onde as pessoas tiram isso. Só porque uma historia não tenta ser extremamente fiel a realidade, não quer dizer que ela não se leva a sério. Para os personagens da historia, o que tá acontecendo nela, é a realidade, por mais que pra nós, seja uma ficção rídicula.
E mesmo quando a história não se leva a sério de fato, como no caso das comedias de absurdo, isto não é necessariamente um problema se a proposta de história for justamente esta.
Eu estava pensando esses dias justamente sobre como eu sempre uso a palavra épico ou realista em tudo que eu acho bom, e sempre que lembro o significado original da palavra eu percebo que esvaziei o sentido, to precisando ler mais pra ter repertório valeu por esse video serio foi um tapa na cara do bem kkkkkkk
Falando em termos que se esvaziam com o tempo, atualmente algo que venho me deparando muito é com as frases "o personagem só esta vivo por causa do roteiro", "Salvo pelo roteiro", "Ah, esse roteiro fez ele voltou a vida". É estranho, pois usam essas frases como se roteiro fosse uma entidade suprema que esta a cima do autor.
Esse tipo de comentário esquece que tudo mais que aconteceu na história também foi por causa do roteiro. "Fulano só venceu a luta por causa do roteiro", mas se ele perdesse também seria só por causa do roteiro, já que é uma história.
Esse vídeo veio na reprodução automática enquanto estava na cozinha, confesso que comecei com má vontade “pô, o cara vai implicar com termo? Deixa os caras na internet confundirem os significados, leva a nada.” Mas vendo achei incrível, tanto a aula sobre os movimentos artísticos, quanto também a crítica ao “sombrio e realista” que me toca principalmente sobre jogos, que os mais “realistas” sempre tem mais destaque e obras incríveis por terem outra estética ficam de canto. O sombrio me incomoda mais quando vou ver na tv que fica tudo escuro e impossível assistir de dia kkkkk, torço fortemente pra acabar essa moda.
Românticos: eles nos prometeram liberdade e nos deram capitalismo Ótimo vídeo, perverteram tanto os conceitos que graças ao Snyder e ao Nolan, pra mim hoje "sombrio e realista" é meme
Obrigado! Românticos: eles nos prometeram liberdade e nos deram capitalismo. Não queremos capitalismo, mas ainda queremos ser elite e tratados com privilégios.
Conheci o canal hoje e fiquei viciado! Muito bom seu trabalho Mas fiquei com algumas duvidas: A necessidade da experiência no realismo, sofre adaptações no tempo atual? Visto que temos a fotografia hoje em dia Tu citou que as cores de Watchmen não são as mesmas cores que os ambientes reais possuem, mas se as cores ajudam a passar o sentimento daquele local (como cores frias em um quarto em que dois personagens terminaram um relacionamento, por exemplo), não poderia ser considerado realista?
Obrigado! Quanto as questões das cores, é justamente o oposto ao ideal realista. Cor passar um sentimento é uma experiência subjetiva pra cada pessoa específica ou para culturas diferentes, cada uma das cores pode remeter a diferentes emoções. Alguém que viveu uma experiência triste em um ambiente todo laranja pode associar o laranja com as memórias da tristeza. Já o Realismo busca a experiência objetiva, que pode ser compartilhada. O objetivo da arte realista não é transmitir sensações subjetivas, mas a experiência sensorial acessível a todos que estivessem no contexto representado se ele fosse real.
A questão é representar as emoções sentidas nos eventos representados é uma proposta que era usada pelo pessoal do Expressionismo. Eu falei sobre isso no vídeo sobre "Lovecraft", caso tenha interesse: th-cam.com/video/KZut_C0gKlM/w-d-xo.html&ab_channel=IlhaKaijuu
Hoje eu desconheço um quadrinho de herói que o narrador não seja personagem, até estranhei o narrador onisciente quando vi as primeiras histórias do homem aranha.
Foi uma coisa que se popularizou nos anos 80 justamente por essa influência do Romantismo. E teve gente que passou a considerar necessário para se considerar uma HQ "adulta".
Nao se se ja tinha comentado nesse video antes, mas estava revendo ele enquanto trabalhava e algo me veio mente, acredito que existem obras com mais conteúdos "realistas" em slice of life e nos iyashikei do que nas obras que são colocadas como realistas, como no caso da obra que voce citou no video. Em grande parte os Slice Of Life vão tentar retratar a vida de forma muito próxima a realidade e algumas vão ate usar locais reais como em Yuru Camp por exemplo onde é possível visitar os exatos locais onde as personagens passam parte da historia, nao sei se meu pensamento está correto, mas foi algo que me veio a cabeça agora.
Muito bom! Então, acho que existe um sequestro natural de conceitos criados em áreas específicas, para um determinado uso, num determinado contexto, mas, que muitas vezes acabam por descrever também coisas que não foram consideradas na sua concepção. Além do mau uso involuntário a partir de compreensões equivocadas e da simples má fé ou subversão do significado original. Fora, claro, os termos mais antigos cuja origem linguística avançam muito no passado e ganham novos significados na evolução das línguas. Um exemplo disso, no momento, é o termo "macho alpha", originado na biologia, mais tarde renegado pelo próprio criador, e que foi cooptado por determinados grupos para uma aplicação, ainda mais equivocada, para justificar os preconceitos de certos indivíduos humanos. O termo meme, criado por Richard Dawkins, também vem da biologia e no entanto, poucas pessoas associam imagens engraçadas que tanto veem na internet com o conceito original. Isso sem contar a clássica confusão entre a teoria do Big Bang com a "teoria" criacionista, onde há uma evidente desconsideração das diferenças que o termo apresenta no meio acadêmico e no meio popular. No Brasil, mas não só aqui, existe um processo anti-intelectual e acadêmico, estimulado pela extrema direita, que tenta equiparar simples opiniões ao conhecimento. Talvez o maior defensor desse tipo de visão de mundo absurda tenha sido Olavo de Carvalho. E o resultado desse tipo de posicionamento pode ter suas consequências avaliadas no governo de Jair Bolsonaro, onde o pensamento anticientífico e o negacionismo atingiram seu ápice, com o desmonte da educação, os cortes de verbas para pesquisa etc. Obviamente, nos meios da cultura pop os objetivos e razões para a desconsideração de um rigor conceitual mínimo são outros, mas ainda assim relacionados com nossa educação devedora e a luta árdua na busca de subsistência, da crença, sempre conveniente, que todas as opiniões tem o mesmo valor e devem ser respeitadas. Felizmente, temos canais como esse, e outros poucos, onde quem fala é um estudioso da área, e é capaz de ajudar a esclarecer e enriquecer o debate. E, por favor, isso não se trata de uma defesa de nenhum tipo de elitismo cultural, mas sim de um reconhecimento que precisamos de mudanças urgentes na nossa sociedade. Onde cada vez mais pessoas tenham acesso à uma educação melhor. Aliás, isso é algo que segundo o Novo Ensino Médio, criado por Michel Temer em 2017, não vai acontecer, pois esta proposta de ensino se fundamenta basicamente em muitas horas de português e matemática, eliminando ou diminuindo drasticamente outras matérias de suma importância, como história, sociologia, artes e filosofia. Ou seja, é uma educação voltada apenas aos interesses do mercado de trabalho, aos interesses do capital. Se hoje existe má compreensão de conceitos, no futuro, muitos conceitos nem mesmo serão conhecidos.
Ótima argumentação Msm tenho observado a respeito da afirmação q: A DC é sombria e a Marvel é colorida É engraçado como as pessoas buscam se firmar no senso comum
Obrigado! O mesmo vale para personagens. Pra dizer que "o Batman é sombrio" a pessoa não pode ter lido nenhuma das histórias do personagem feitas na segunda metade da década de 1950 e durante a de 1960.
Cara como sempre, ótimas análises sobre quadrinhos. Queria saber se você teria alguma recomendação de canal ou podcast com conteúdos sobre quadrinhos/animes/games que abordem essas paradas com a mesma profundidade que tu.
Obrigado! Nenhum destes têm uma abordagem exatamente como a minha, mas todos trazem discussões relevantes em português, e recomendo: www.youtube.com/@CanalOtaking www.youtube.com/@GaroQuadrinhos www.youtube.com/@FormigaEletrica www.youtube.com/@QuadrinhosNaSarjeta www.youtube.com/@EntrePlanosCinema www.youtube.com/@QuadroemBranco
Quando você explica sobre os movimentos artísticos há um foco maior nas artes visuais, o que eu entendo, mas eu gostaria de saber o quanto dessas explicações englobam o que estava acontecendo ao mesmo tempo na literatura. Muito didática sua explicação.
Muito do que falei vale pra Literatura também, já que, apesar de formalmente se manifestarem de forma diferentes devido às especificidades das mídias, as bases conceituais eram as mesmas.
@@IlhaKaijuu Eu fiquei confusa pq me lembro de aprender em uma aula que o naturalismo aparecia na literatura ao dar características meio "animalescas" aos personagens, no sentido que aparências e certos comportamentos eram comparados ao de animais, e não como uma representação mais fiel do que acontecia.
@@jg_rosa O termo tem dois sentidos mesmo. O termo naturalismo era usada desde o Renascimento com o sentido de mimetização de características da experiência do mundo real. Mas pelo século XIX se passou a usar o termo "Naturalismo" (com "N" maiúsculo) como um estilo/tradição paralela ao realismo que tratava de questões sociais e que construía leituras a partir dessa perspectiva animalesca dos seres humanos.
Excelente video como sempre! Uma dúvida sobre o realismo literário: na escola aprendi que a obra de Machado de Assis é realista - pelo retrato da sociedade, vivências do Machado que estão espelhadas nos livros, descrições da burguesia etc. Mas sempre me confundiu porque são obras que fogem apenas de um retrato realista da sociedade. Existem elementos fantásticos (Brás Cubas e a morte), românticos (Dom Casmurro e subjetivismo, questionamento da realidade). Você acha que mesmo assim se enquadra num realismo? Ou vai além?
Respondi em outra pergunta com conteúdo parecido: é complicado definir o Machado de Assis em uma caixa especifica porque a obra tele tem muitas nuances. Ele escreveu contos segundo as convenções do romantismo antes de se destacar como realista, então manjava das duas técnicas. Mas quando ele escreve o "Memórias Póstumas" e "Dom Casmurro", temos um único narrador em primeira pessoa. Então ,apesar de não ser confiável, não há outros pontos de vista pra se comparar e destacar as contradições. Além de que por muito tempo se interpretava a narrativa do Bentinho em "Dom Casmurro" como sendo de fato o que acontecia na diegese, fazendo a traição da Capitu algo que se entendia como ter acontecido de fato na história. Levou-se décadas para se levantar a teoria de que ele era um narrador não confiável, o que provocou uma ressignificação de toda a obra.
Professor, há algum quadrinho que siga a estética e regras do Realismo, ou só podemos reproduzir quadrinhos naturalistas por causa das escolhas estéticas dos autores? E se tiver qual seria? Foi um ótimo vídeo, parabéns pelo trabalho!
Obrigado! É possível sim produzir obras segundo regras realistas, mas elas podem ser completamente realistas ou só parcialmente. Dá pra fazer uma HQ com temática realista, mas com desenhos não realistas, como "Maus". Ou com desenhos dentro das regras do realismo, mas com temática não realista, como alguns cenários de algumas obras do Ishinomori. Ou temas e abordagens realistas com desenhos que combinam realismo com abstracionismo, como "Shouwa" do Mizuki. Ou com propostas com tema realista e com imagens que combinam Realismo com naturalismo, como "Berlim" e "Beco do Rosário".
Rafa, eu acho que tema você poderia comentar e explicar séria os mangas/animes de fetiche de ryona, explicar o quanto que ele tem haver com o contexto do Japão dos anos noventa pra cá e como os conservadores do Japão acham desse tipo de conteúdo explícito.
Conteúdo excelente! Muitos movimentos artísticos foram banalizados tal qual a palavra "literalmente". Tenho a percepção que a maioria das pessoas usa o termo "realista" para apontar uma história que "poderia" acontecer no mundo real. No caso do Batman do Nolan, no Watchmen, etc, acho que a maioria tenta extrapolar para o mundo real a história narrada ali. "Uau, parece que, se esse(s) personagem(ns) existesse(m) no mundo real, seria assim mesmo que aconteceria" Existe um termo mais adequado para histórias assim ou isso nem faz sentido do ponto de vista artístico?
Obrigado! Quando se tenta criar uma representação que se propõe a imaginar como algo que não existe de fato seria se existisse no mundo real, o termo que se usa pelo menos desde os séculos XV-XVI é "naturalista".
Minimalismo é usado de forma genérica, e nesse caso a culpa é muito de gente do Design que começou a empregar de forma banalizada. (Pessoas do Design, não fiquem bravas comigo.)
@@IlhaKaijuu Eu sou do Design e eu DISCORDO! hahaha Na nossa faculdade pelo menos, nossa professora de Filosofia do Design sempre nos encorajava a falar "limpo" ou clean ao invés de usar "minimalista", mas eu entendo que pode ser algo que começou bem antes.
Para mim até a obra mais fantasiosa é lúdica vai expressar a realidade, pois essas obras são criadas por pessoas que vão passar nas obras que eles fazem aspectos dás suas próprias vidas que eles passaram, só que transformado em metáforas, hipérboles é narrativas que vão expressar sentimentos é acontecimentos que o artista passou! Pois mesmo o conceito de realidade criado pôr nós seres humanos para entender o mundo a nossa volta não expresse a realidade de fato (pois nem sabemos se a realidade é mesmo verdadeira ou só um conceito criado pôr nós) mais mesmo assim tentamos expressar essa tal realidade na arte que fazemos para entenderá melhor!! E se nós exageramos ou erramos em dar maior apreço a obras ditas mais reais dó que outras e pura especulação, pois mesmo toda forma de arte se originar de nosso preceito de realidade ainda será o preceito do artista que a criou, é depois nos iremos tirar da obra de arte os nossos próprios preceitos de realidade!! Por isso mesmo que não existe de fato uma representação fiel da realidade, mais sim pontos de vistas destintos que tentam entenderá (embora nos nunca iremos entenderá de fato)!!! Mais como sempre adorei o vídeo é tú pode contar com a gente que nos sempre estaremos te apoiando, valeu!!!👍👍👍
Pode ser um pouco mais complicado. Porque existem obras que são completamente abstratas, que são formas que não representam nada. Como também tem aquelas que são geradas por aleatoriedade, como sorteando os elementos ou só jogando coisas que levarão a resultados gerados pelo acaso fora do controle direto do autor.
"Romantizar" nesse sentido é o de "idealizar", de projetar na coisa uma imagem dela melhor do que ela é de fato. Ou então focar na beleza da coisa e ignorar toda a parte ruim dela. Algo que os românticos faziam em relação ao passado medieval, por exemplo. Imaginavam e representavam a Idade Média como um período de cavaleiros honrados que seguiam códigos de conduta heroica, enquanto fingiam que não existia toda a questão dos abusos, violência, traição e miséria do período.
Não vejo porque se incomodar com a classificação se for em relação ao jeito popular que as pessoas se referem. Realismo é sim um movimento que iniciou em XIX, mas comumente as pessoas se referem a plausibilidade se a historia fosse transportada para um mundo real. O problema é quando alguém que se diz autoridade no assunto não respeitar isso, seja por falta de conhecimento ou de honestidade. Um paralelo seria um biólogo se incomodar por chamarem informalmente jabuti de tartaruga, no meio cientifico/profissional seria o correto mas informalmente todo mundo vai conhecer aquilo por qualquer um dos nomes.
O problema de modificar o sentido de conceitos básicos é que se cria barreiras para se compreender conceitos mais complexos. "Realismo" não é só um termo para designar um objeto, mas toda uma forma de se compreender, se relacionar, pensar e produzir arte. Se ficarmos com a analogia à Biologia, seria como acreditar que "evolução" é igual a "melhoria". Daí se alguém vai ler, pesquisar ou interagir com contextos que apresentam o termo "evolução", e este sujeito acha que "evolução" é igual a se tornar melhor em critérios absolutos, irá interpretar de uma forma bem equivocada, como já aconteceu, que resultou em várias teorias de superioridade racial, por exemplo. No contexto específico do Realismo, aparece gente com preconceitos de hierarquia entre artes, como o de que quanto mais realista for uma obra, melhor ela é. E esse tipo de pensamento é consequência de não se entender direito o que é o Realismo.
@@IlhaKaijuu Não sabia que existia esse preconceito pelo estilo de arte, conheço pouco sobre essa área e por isso usei o exemplo da biologia. Entendo que sua preocupação é com a distorção do que aquilo representa, meu ponto é que essa distorção só aconteceria se fosse por alguém que tem autoridade no assunto, um professor ou critico de cinema por exemplo. Não vejo um outsider ou leigo mudando algum conceito na historia da arte porque me parece algo mais consolidado. Olavo tentou fazer isso com filosofia e não impactou a área, até porque nem era filosofo.
Eu não gosto de usar a palavra "realista" nesses casos, eu uso o "verossímil". Os Vulcanos em Star Trek foram baseados nos Iluministas e o Romulanos numa ideia subjetiva?
Verossimilhança é outra coisa, é coerência interna. É uma obra cumprir as regras que ela mesmo propôs. Se foi proposto uma abordagem realista, então ser verossímil é todos os desenvolvimentos e consequências da diegese acontecerem dentro das premissas realistas. Mas se foram propostas regras não realistas, então é levar a série essas regras até o fim. Por exemplo, uma história do Superman que apresenta como regra as características conhecidas do Superman. Se mais pra frente da história trancam o Superman em uma cela normal e ele não consegue sair de lá e não explicam por que ele não conseguiu sair, daí é uma quebra da verossimilhança, porque o pacto inicial é que o Superman tem super força. Um exemplo de falta de verossimilhança é em "The Batman" do Matt Reeves. A história propõe que o Batman é um sujeito cujas habilidades físicas são no máximo a de um atleta de alto nível que usa alguns equipamentos de proteção. Na crena em que ele salta planando do topo de um prédio, ele bate com tudo em uma parede, mas logo se levanta e sai caminhando quase de boa. Se o Batman é só um humano bem equipado, aquele impacto específico deveria ter causado um dano maior nele. Em "The Batman" é pontual nesta cena, mas esse mesmo problema tem aparecido direto nos filmes mais recentes na Marvel. Completamente normal o Capitão América tomar um soco de alguém com superforça, voar longe com o impacto e logo em seguida se levantar e estar pronto pra lutar de novo. A própria história estabelece que ele tem capacidades físicas acima da média. Agora quando o Shang-Chi, o Gavião Arqueiro ou a Jennifer Walters não transformada tomam um soco que os joga contra uma parede de tijolos que se despedaça, e eles se levantam e voltam pra luta sem demonstrar nenhum dano, daí tem problema de verossimilhança.
@@IlhaKaijuu Exatamente, tipo, o Batman em The Batman espatifando no chão depois de planar é mais verossímil que o fazendo a mesma coisa na versão do Tim Burton, porque ali está entrando no lado lúdico. Eu sempre considero a "realidade" como o parâmetro de verossimilhança. Quando entra na própria regra imposta do filme, eu entro na área da coerência, esqueço o verossímil. Exemplo, Man Of Steel, cada kryptoniano segue uma casta e função. Jor-El era um cientista, pensador, mas ele mete a porrada no Zod e ainda é todo ágil para buscar o embrião do Kal-El, isso não fez sentido na "regra" do filme. Se ele tivesse mandado os drones lá buscar os embriões, aí sim, faria total sentido ele ter reprogramado os robôs para roubar o embrião e quiçá o proteger de improviso quando o Zod surgiu. Por sinal, é a única coisa que me dá raiva no filme e não vejo a galera reclamar. O resto acho bem verossímil até, quando a Faora mata os soldados só no soco, tem um frame do grandão lá arrancando a cabeça de um piloto. Se fosse MCU, ele apenas teria o tirado do avião pela cabeça.
@@gabichulmb2127 Em relação a conceitos, acontece sim, mas havendo contexto relevante para isso. Se pegarmos qualquer termo sem critério pra usar em qualquer lugar ignorando a construção teórica de séculos sobre eles, acabariam se esvaziando e se tornaria inútil usar conceitos. Mas um exemplo que se pode apontar é a da própria definição de arte. Alguns autores na década de 1980 levantaram o ponto de que a arte que se conhecia e produzia antes havia acabado, e, com a arte contemporânea, outra coisa surgiu e foi aos poucos ocupando o lugar e o conceito de arte em um processo gradual que não se notou que a antiga coisa que se chamava de arte não era mais produzida e uma nova coisa passou a ser chamada de arte. Então a própria noção do que é arte hoje não é a mesma do que era no século XIX.
Complicado definir, porque o Machado era muito f*d@. Ele escreveu contos segundo as convenções do romantismo antes de se destacar como realista, então manjava das duas técnicas. Mas quando ele escreve o "Memórias Póstumas" e "Dom Casmurro", temos um único narrador em primeira pessoa. Então ,apesar de não ser confiável, não há outros pontos de vista pra se comparar e destacar as contradições. Além de que por muito tempo se interpretava a narrativa do Bentinho em "Dom Casmurro" como sendo de fato o que acontecia na diegese, fazendo a traição da Capitu algo que se entendia como ter acontecido de fato na história. Levou-se décadas para se levantar a teoria de que ele era um narrador não confiável, o que provocou uma ressignificação de toda a obra.
Esse papo rola muito também no mangá, acho que até mais que na hq (fazendo essa separação só pra simplificar), a galera do mangá tá muito bitolada nesses conceitos onde é bom pq o desenho é "realista", obras como Berserk ou Vagabond onde nessas mesmas obras esse conceito de "realismo plástico" é quebrado posteriormente pelos próprios autores, mas a narrativa da galera ainda persiste, enquanto isso essa mesma galera fica taxando autores como o Togashi Yoshihiro por não fazer desenhos realistas e perdem de ver o quanto GENIAL o cara é tanto como desenhista mesmo como quadrinista.
E é como você disse, todas as obras que eu citei acima são maravilhosas por NÃO serem realistas, e tá tudo bem
E o curioso que essa supervalorização do naturalismo e do realismo na arte é uma construção da cultura ocidental. Se considerarmos as tradições da arte japonesa, eles não supervalorizam essas características. Então esse pessoal que se diz "otaku" nem percebo o quanto eles estão fazendo um julgamento a partir de preconceitos ocidentais sobre os mangas.
Eu pensava que era ponto comum entre os otakus que o togashi é genial, doido saber que tem gente que critica por não ser sombrio e realista
@@IlhaKaijuua não supervalorização do realismo e do naturalismo TB é uma construção da cultura japonesa. O otaku ocidental ( ou ocidentalizado, como nós brasileiros) não é antropólogo. Ele absorve as informações vindas do Japão ( não do oriente, visto que oriente e ocidente são muitas coisas, ou podem até ser abstrações vazias, visto que árabes e muçulmanos TB são considerados orientais pela Europa e EUA) de acordo com seu caldo cultural. Ser otaku no Japão e no Brasil são coisas diferentes. Veja bem, até a definição de romantismo tem a ver com o momento histórico do desenvolvimento do capitalismo que a Europa passou. Faz sentido em falar de romantismo no Japão como coisa autóctone? Não há essencialismo otaku. Não há essência oriental nem ocidental. Mas há poder. E, se o Japão consegue exportar cultura é pq está no centro da divisão internacional do trabalho. Sim, há nações ditas orientais que estão na cabeça do imperialismo mundial. Gosto de cultura pop japonesa. Mas orientalismo é uma forma de poder que o ocidente exerce sobre o oriente e o Brasil não é ocidental. Se tenho pré-conceitos sobre a cultura japonesa, na divisão internacional do trabalho o Japão é quem está por cima e nós por baixo. Não há Orientalismo no Brasil, só há papagaios de colonizador europeu e estadunidense...ser metaleiro na Escandinávia e no Brasil são coisas diferentes....
@@sergiopinheiro3200 pra mim também, eu achava que o Togashi era um dos poucos autores que eram unanimidade no meio do mangá/anime
Épico, mito e realista viraram palavras plásticas
O "mito" tem um fator ainda pior que é o uso como culto ao ex-presidente.
E eu acho que a palavra "clássico" também se encaixa nesse perfil, ultimamente tem muitos "clássicos", ou associam isso a algo que é só antigo mesmo.
@@joaoaraujo4064 Eu penso nisso com futebol brasileiro, todo mês tem vários clássicos. Hahaha
@@JhonataPactio Kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Nostálgico, aleatório, realmente, literalmente, clichê... muitas perderam seu impacto
Já seguia no insta, n sabia q tinha canal! Muito fodaaa
Bem-vindo!
Questionar o "realismo" dessas obras parece que é provocação, mas faz muito sentido e está perfeitamente correto tudo que você disse. Cada vídeo seu é uma aula de Arte!
é ai que tá né, chegou ao ponto de ser 'inquestionavel'! XD
passou a ser algum tipo de 'crime' questionar algumas obras, ou mesmo não gostar. em algumas rodas de conversa, ja vi pessoas evitando falar que não gostaram de watchman ou cavaleiro das trevas.
Excelente vídeo!
Acho desafio mudar a forma de usar certas palavras, mas seguimos tentando...
Obrigado!
A expressão que mais me incomoda, quando alguém fala de uma historia é "essa ---------- não se leva a sério", fico pensando, de onde as pessoas tiram isso.
Só porque uma historia não tenta ser extremamente fiel a realidade, não quer dizer que ela não se leva a sério. Para os personagens da historia, o que tá acontecendo nela, é a realidade, por mais que pra nós, seja uma ficção rídicula.
E mesmo quando a história não se leva a sério de fato, como no caso das comedias de absurdo, isto não é necessariamente um problema se a proposta de história for justamente esta.
Eu estava pensando esses dias justamente sobre como eu sempre uso a palavra épico ou realista em tudo que eu acho bom, e sempre que lembro o significado original da palavra eu percebo que esvaziei o sentido, to precisando ler mais pra ter repertório valeu por esse video serio foi um tapa na cara do bem kkkkkkk
Falando em termos que se esvaziam com o tempo, atualmente algo que venho me deparando muito é com as frases "o personagem só esta vivo por causa do roteiro", "Salvo pelo roteiro", "Ah, esse roteiro fez ele voltou a vida". É estranho, pois usam essas frases como se roteiro fosse uma entidade suprema que esta a cima do autor.
Esse tipo de comentário esquece que tudo mais que aconteceu na história também foi por causa do roteiro. "Fulano só venceu a luta por causa do roteiro", mas se ele perdesse também seria só por causa do roteiro, já que é uma história.
O Deus roteiro
Esse vídeo veio na reprodução automática enquanto estava na cozinha, confesso que comecei com má vontade “pô, o cara vai implicar com termo? Deixa os caras na internet confundirem os significados, leva a nada.” Mas vendo achei incrível, tanto a aula sobre os movimentos artísticos, quanto também a crítica ao “sombrio e realista” que me toca principalmente sobre jogos, que os mais “realistas” sempre tem mais destaque e obras incríveis por terem outra estética ficam de canto.
O sombrio me incomoda mais quando vou ver na tv que fica tudo escuro e impossível assistir de dia kkkkk, torço fortemente pra acabar essa moda.
Românticos: eles nos prometeram liberdade e nos deram capitalismo
Ótimo vídeo, perverteram tanto os conceitos que graças ao Snyder e ao Nolan, pra mim hoje "sombrio e realista" é meme
Obrigado!
Românticos: eles nos prometeram liberdade e nos deram capitalismo. Não queremos capitalismo, mas ainda queremos ser elite e tratados com privilégios.
Conheci o canal hoje e fiquei viciado! Muito bom seu trabalho
Mas fiquei com algumas duvidas: A necessidade da experiência no realismo, sofre adaptações no tempo atual? Visto que temos a fotografia hoje em dia
Tu citou que as cores de Watchmen não são as mesmas cores que os ambientes reais possuem, mas se as cores ajudam a passar o sentimento daquele local (como cores frias em um quarto em que dois personagens terminaram um relacionamento, por exemplo), não poderia ser considerado realista?
Obrigado!
Quanto as questões das cores, é justamente o oposto ao ideal realista. Cor passar um sentimento é uma experiência subjetiva pra cada pessoa específica ou para culturas diferentes, cada uma das cores pode remeter a diferentes emoções. Alguém que viveu uma experiência triste em um ambiente todo laranja pode associar o laranja com as memórias da tristeza. Já o Realismo busca a experiência objetiva, que pode ser compartilhada. O objetivo da arte realista não é transmitir sensações subjetivas, mas a experiência sensorial acessível a todos que estivessem no contexto representado se ele fosse real.
@@IlhaKaijuu Aaaah sim, obrigado por esclarecer!
A questão é representar as emoções sentidas nos eventos representados é uma proposta que era usada pelo pessoal do Expressionismo. Eu falei sobre isso no vídeo sobre "Lovecraft", caso tenha interesse:
th-cam.com/video/KZut_C0gKlM/w-d-xo.html&ab_channel=IlhaKaijuu
obgd por mais um vídeo épico e realista 👏👏👏
O próximo será gravado no escuro para também ficar sombrio.
Hoje eu desconheço um quadrinho de herói que o narrador não seja personagem, até estranhei o narrador onisciente quando vi as primeiras histórias do homem aranha.
Foi uma coisa que se popularizou nos anos 80 justamente por essa influência do Romantismo. E teve gente que passou a considerar necessário para se considerar uma HQ "adulta".
Nao se se ja tinha comentado nesse video antes, mas estava revendo ele enquanto trabalhava e algo me veio mente, acredito que existem obras com mais conteúdos "realistas" em slice of life e nos iyashikei do que nas obras que são colocadas como realistas, como no caso da obra que voce citou no video.
Em grande parte os Slice Of Life vão tentar retratar a vida de forma muito próxima a realidade e algumas vão ate usar locais reais como em Yuru Camp por exemplo onde é possível visitar os exatos locais onde as personagens passam parte da historia, nao sei se meu pensamento está correto, mas foi algo que me veio a cabeça agora.
que vídeo épico e realista meus parabéns Rafael. Espero que o próximo vídeo seja sombrio
Faltou só também ser "o mais icônico".
Muito bom! Então, acho que existe um sequestro natural de conceitos criados em áreas específicas, para um determinado uso, num determinado contexto, mas, que muitas vezes acabam por descrever também coisas que não foram consideradas na sua concepção. Além do mau uso involuntário a partir de compreensões equivocadas e da simples má fé ou subversão do significado original. Fora, claro, os termos mais antigos cuja origem linguística avançam muito no passado e ganham novos significados na evolução das línguas.
Um exemplo disso, no momento, é o termo "macho alpha", originado na biologia, mais tarde renegado pelo próprio criador, e que foi cooptado por determinados grupos para uma aplicação, ainda mais equivocada, para justificar os preconceitos de certos indivíduos humanos. O termo meme, criado por Richard Dawkins, também vem da biologia e no entanto, poucas pessoas associam imagens engraçadas que tanto veem na internet com o conceito original. Isso sem contar a clássica confusão entre a teoria do Big Bang com a "teoria" criacionista, onde há uma evidente desconsideração das diferenças que o termo apresenta no meio acadêmico e no meio popular.
No Brasil, mas não só aqui, existe um processo anti-intelectual e acadêmico, estimulado pela extrema direita, que tenta equiparar simples opiniões ao conhecimento. Talvez o maior defensor desse tipo de visão de mundo absurda tenha sido Olavo de Carvalho. E o resultado desse tipo de posicionamento pode ter suas consequências avaliadas no governo de Jair Bolsonaro, onde o pensamento anticientífico e o negacionismo atingiram seu ápice, com o desmonte da educação, os cortes de verbas para pesquisa etc.
Obviamente, nos meios da cultura pop os objetivos e razões para a desconsideração de um rigor conceitual mínimo são outros, mas ainda assim relacionados com nossa educação devedora e a luta árdua na busca de subsistência, da crença, sempre conveniente, que todas as opiniões tem o mesmo valor e devem ser respeitadas.
Felizmente, temos canais como esse, e outros poucos, onde quem fala é um estudioso da área, e é capaz de ajudar a esclarecer e enriquecer o debate. E, por favor, isso não se trata de uma defesa de nenhum tipo de elitismo cultural, mas sim de um reconhecimento que precisamos de mudanças urgentes na nossa sociedade. Onde cada vez mais pessoas tenham acesso à uma educação melhor. Aliás, isso é algo que segundo o Novo Ensino Médio, criado por Michel Temer em 2017, não vai acontecer, pois esta proposta de ensino se fundamenta basicamente em muitas horas de português e matemática, eliminando ou diminuindo drasticamente outras matérias de suma importância, como história, sociologia, artes e filosofia. Ou seja, é uma educação voltada apenas aos interesses do mercado de trabalho, aos interesses do capital. Se hoje existe má compreensão de conceitos, no futuro, muitos conceitos nem mesmo serão conhecidos.
Me senti em uma aula de português. Isso não foi uma crítica
Cara, muito interesante.
Ótimo vídeo. Você já pensou em fazer um vídeo sobre o monstro do pantano?
Já, mas como é uma HQ que já tem muito conteúdo comentando, acaba não sendo uma prioridade.
Ótima argumentação
Msm tenho observado a respeito da afirmação q:
A DC é sombria
e a Marvel é colorida
É engraçado como as pessoas buscam se firmar no senso comum
Obrigado!
O mesmo vale para personagens. Pra dizer que "o Batman é sombrio" a pessoa não pode ter lido nenhuma das histórias do personagem feitas na segunda metade da década de 1950 e durante a de 1960.
@@IlhaKaijuu
Pq esse público atual faz questão de ignorar essas fases
Deve ser modinha
Cara, parabéns pelo vídeo.
Gostaria de saber quais as diferenças do realismo na artes em relação à literatura.
As diferenças são nas técnicas específicas de cada mídia ou linguagem em relação à execução. Mas os princípios teóricos geais são os mesmos.
Eu não mereço um vídeo tão bom
Acreditarei que merece, sim.
Cara como sempre, ótimas análises sobre quadrinhos. Queria saber se você teria alguma recomendação de canal ou podcast com conteúdos sobre quadrinhos/animes/games que abordem essas paradas com a mesma profundidade que tu.
Obrigado!
Nenhum destes têm uma abordagem exatamente como a minha, mas todos trazem discussões relevantes em português, e recomendo:
www.youtube.com/@CanalOtaking
www.youtube.com/@GaroQuadrinhos
www.youtube.com/@FormigaEletrica
www.youtube.com/@QuadrinhosNaSarjeta
www.youtube.com/@EntrePlanosCinema
www.youtube.com/@QuadroemBranco
Quando você explica sobre os movimentos artísticos há um foco maior nas artes visuais, o que eu entendo, mas eu gostaria de saber o quanto dessas explicações englobam o que estava acontecendo ao mesmo tempo na literatura.
Muito didática sua explicação.
Muito do que falei vale pra Literatura também, já que, apesar de formalmente se manifestarem de forma diferentes devido às especificidades das mídias, as bases conceituais eram as mesmas.
@@IlhaKaijuu Eu fiquei confusa pq me lembro de aprender em uma aula que o naturalismo aparecia na literatura ao dar características meio "animalescas" aos personagens, no sentido que aparências e certos comportamentos eram comparados ao de animais, e não como uma representação mais fiel do que acontecia.
@@jg_rosa O termo tem dois sentidos mesmo. O termo naturalismo era usada desde o Renascimento com o sentido de mimetização de características da experiência do mundo real. Mas pelo século XIX se passou a usar o termo "Naturalismo" (com "N" maiúsculo) como um estilo/tradição paralela ao realismo que tratava de questões sociais e que construía leituras a partir dessa perspectiva animalesca dos seres humanos.
@@IlhaKaijuu ah, faz sentido. Obrigada pela explicação!
Excelente video como sempre! Uma dúvida sobre o realismo literário: na escola aprendi que a obra de Machado de Assis é realista - pelo retrato da sociedade, vivências do Machado que estão espelhadas nos livros, descrições da burguesia etc. Mas sempre me confundiu porque são obras que fogem apenas de um retrato realista da sociedade. Existem elementos fantásticos (Brás Cubas e a morte), românticos (Dom Casmurro e subjetivismo, questionamento da realidade).
Você acha que mesmo assim se enquadra num realismo? Ou vai além?
Respondi em outra pergunta com conteúdo parecido: é complicado definir o Machado de Assis em uma caixa especifica porque a obra tele tem muitas nuances. Ele escreveu contos segundo as convenções do romantismo antes de se destacar como realista, então manjava das duas técnicas. Mas quando ele escreve o "Memórias Póstumas" e "Dom Casmurro", temos um único narrador em primeira pessoa. Então ,apesar de não ser confiável, não há outros pontos de vista pra se comparar e destacar as contradições. Além de que por muito tempo se interpretava a narrativa do Bentinho em "Dom Casmurro" como sendo de fato o que acontecia na diegese, fazendo a traição da Capitu algo que se entendia como ter acontecido de fato na história. Levou-se décadas para se levantar a teoria de que ele era um narrador não confiável, o que provocou uma ressignificação de toda a obra.
Toda literatura é fantástica, disse Jorge Luis Borges.
E um videozinho maroto sobre DonBrothers hein hein?!
Talvez mais para o futuro.
não vi o video e já concordo 100% só no titulo
Já concordo 100% com o teu comentário.
Virei fã desse canal
Obrigado!
esse vídeo foi realisticamente épico
Vou escurecer mais a imagem pra ficar também "sombrio".
Que aula!
Professor, há algum quadrinho que siga a estética e regras do Realismo, ou só podemos reproduzir quadrinhos naturalistas por causa das escolhas estéticas dos autores? E se tiver qual seria?
Foi um ótimo vídeo, parabéns pelo trabalho!
Obrigado!
É possível sim produzir obras segundo regras realistas, mas elas podem ser completamente realistas ou só parcialmente. Dá pra fazer uma HQ com temática realista, mas com desenhos não realistas, como "Maus". Ou com desenhos dentro das regras do realismo, mas com temática não realista, como alguns cenários de algumas obras do Ishinomori. Ou temas e abordagens realistas com desenhos que combinam realismo com abstracionismo, como "Shouwa" do Mizuki. Ou com propostas com tema realista e com imagens que combinam Realismo com naturalismo, como "Berlim" e "Beco do Rosário".
@@IlhaKaijuu vlw professor!
Rafa, eu acho que tema você poderia comentar e explicar séria os mangas/animes de fetiche de ryona, explicar o quanto que ele tem haver com o contexto do Japão dos anos noventa pra cá e como os conservadores do Japão acham desse tipo de conteúdo explícito.
Ryona é pesado demais pra mim. Não aguento ler, não. Comentei um pouco sobre isso no vídeo de "Zeorymer".
quanto mais se analisa watchmen mais claro fica que a adaptação do snyder é horrível
Conteúdo excelente! Muitos movimentos artísticos foram banalizados tal qual a palavra "literalmente".
Tenho a percepção que a maioria das pessoas usa o termo "realista" para apontar uma história que "poderia" acontecer no mundo real.
No caso do Batman do Nolan, no Watchmen, etc, acho que a maioria tenta extrapolar para o mundo real a história narrada ali. "Uau, parece que, se esse(s) personagem(ns) existesse(m) no mundo real, seria assim mesmo que aconteceria"
Existe um termo mais adequado para histórias assim ou isso nem faz sentido do ponto de vista artístico?
Obrigado!
Quando se tenta criar uma representação que se propõe a imaginar como algo que não existe de fato seria se existisse no mundo real, o termo que se usa pelo menos desde os séculos XV-XVI é "naturalista".
Então pelo que eu entendi, o seu enquadramento nos vídeos não é realista? Kkkk é romantista
A tua birra com o "realista" é a minha com galera falando de minimalismo sem colocar em questão o suprematismo, etc.
Minimalismo é usado de forma genérica, e nesse caso a culpa é muito de gente do Design que começou a empregar de forma banalizada. (Pessoas do Design, não fiquem bravas comigo.)
@@IlhaKaijuu Eu sou do Design e eu DISCORDO! hahaha Na nossa faculdade pelo menos, nossa professora de Filosofia do Design sempre nos encorajava a falar "limpo" ou clean ao invés de usar "minimalista", mas eu entendo que pode ser algo que começou bem antes.
@@heitorsantoslima9289 Tua professora é uma heroína e merece todo o respeito pela competência.
Vc pretende falar de Spectreman ?
É possível, mas ainda não planejei.
Baita Vídeo. .🤝
Obrigado!
Para mim até a obra mais fantasiosa é lúdica vai expressar a realidade, pois essas obras são criadas por pessoas que vão passar nas obras que eles fazem aspectos dás suas próprias vidas que eles passaram, só que transformado em metáforas, hipérboles é narrativas que vão expressar sentimentos é acontecimentos que o artista passou!
Pois mesmo o conceito de realidade criado pôr nós seres humanos para entender o mundo a nossa volta não expresse a realidade de fato (pois nem sabemos se a realidade é mesmo verdadeira ou só um conceito criado pôr nós) mais mesmo assim tentamos expressar essa tal realidade na arte que fazemos para entenderá melhor!!
E se nós exageramos ou erramos em dar maior apreço a obras ditas mais reais dó que outras e pura especulação, pois mesmo toda forma de arte se originar de nosso preceito de realidade ainda será o preceito do artista que a criou, é depois nos iremos tirar da obra de arte os nossos próprios preceitos de realidade!!
Por isso mesmo que não existe de fato uma representação fiel da realidade, mais sim pontos de vistas destintos que tentam entenderá (embora nos nunca iremos entenderá de fato)!!!
Mais como sempre adorei o vídeo é tú pode contar com a gente que nos sempre estaremos te apoiando, valeu!!!👍👍👍
Pode ser um pouco mais complicado. Porque existem obras que são completamente abstratas, que são formas que não representam nada. Como também tem aquelas que são geradas por aleatoriedade, como sorteando os elementos ou só jogando coisas que levarão a resultados gerados pelo acaso fora do controle direto do autor.
@@IlhaKaijuu verdade!
Ele não estava usando capacete nesse vídeo. ⛑️
Mas estava de cinto de segurança.
mas é possível haver obras que sejam (ou que possuem conceitos) naturalistas e realistas ao mesmo tempo?
O Realismo é um estilo surgido dentro da tendência naturalista, mas tem especificidades que outras convenções naturalistas não seguem.
Se eu romantizo alguma coisa eu to agindo de forma romantica ? por exemplo, pessoas q ficam romantizando a pobreza, tem haver com isso ?
"Romantizar" nesse sentido é o de "idealizar", de projetar na coisa uma imagem dela melhor do que ela é de fato. Ou então focar na beleza da coisa e ignorar toda a parte ruim dela. Algo que os românticos faziam em relação ao passado medieval, por exemplo. Imaginavam e representavam a Idade Média como um período de cavaleiros honrados que seguiam códigos de conduta heroica, enquanto fingiam que não existia toda a questão dos abusos, violência, traição e miséria do período.
por mais que este video seja extremamente realista ele infelizmente não é sombrio logo é ruim
Os próximos vídeos serão todos gravados no escuro.
Não vejo porque se incomodar com a classificação se for em relação ao jeito popular que as pessoas se referem. Realismo é sim um movimento que iniciou em XIX, mas comumente as pessoas se referem a plausibilidade se a historia fosse transportada para um mundo real. O problema é quando alguém que se diz autoridade no assunto não respeitar isso, seja por falta de conhecimento ou de honestidade. Um paralelo seria um biólogo se incomodar por chamarem informalmente jabuti de tartaruga, no meio cientifico/profissional seria o correto mas informalmente todo mundo vai conhecer aquilo por qualquer um dos nomes.
O problema de modificar o sentido de conceitos básicos é que se cria barreiras para se compreender conceitos mais complexos. "Realismo" não é só um termo para designar um objeto, mas toda uma forma de se compreender, se relacionar, pensar e produzir arte.
Se ficarmos com a analogia à Biologia, seria como acreditar que "evolução" é igual a "melhoria". Daí se alguém vai ler, pesquisar ou interagir com contextos que apresentam o termo "evolução", e este sujeito acha que "evolução" é igual a se tornar melhor em critérios absolutos, irá interpretar de uma forma bem equivocada, como já aconteceu, que resultou em várias teorias de superioridade racial, por exemplo.
No contexto específico do Realismo, aparece gente com preconceitos de hierarquia entre artes, como o de que quanto mais realista for uma obra, melhor ela é. E esse tipo de pensamento é consequência de não se entender direito o que é o Realismo.
@@IlhaKaijuu Não sabia que existia esse preconceito pelo estilo de arte, conheço pouco sobre essa área e por isso usei o exemplo da biologia. Entendo que sua preocupação é com a distorção do que aquilo representa, meu ponto é que essa distorção só aconteceria se fosse por alguém que tem autoridade no assunto, um professor ou critico de cinema por exemplo. Não vejo um outsider ou leigo mudando algum conceito na historia da arte porque me parece algo mais consolidado. Olavo tentou fazer isso com filosofia e não impactou a área, até porque nem era filosofo.
7:00 Como assim??? Eles não existem de verdade???
Talvez seja o momento de te contar uma coisa sobre o Papai Noel...
Eu não gosto de usar a palavra "realista" nesses casos, eu uso o "verossímil".
Os Vulcanos em Star Trek foram baseados nos Iluministas e o Romulanos numa ideia subjetiva?
Verossimilhança é outra coisa, é coerência interna. É uma obra cumprir as regras que ela mesmo propôs. Se foi proposto uma abordagem realista, então ser verossímil é todos os desenvolvimentos e consequências da diegese acontecerem dentro das premissas realistas. Mas se foram propostas regras não realistas, então é levar a série essas regras até o fim. Por exemplo, uma história do Superman que apresenta como regra as características conhecidas do Superman. Se mais pra frente da história trancam o Superman em uma cela normal e ele não consegue sair de lá e não explicam por que ele não conseguiu sair, daí é uma quebra da verossimilhança, porque o pacto inicial é que o Superman tem super força. Um exemplo de falta de verossimilhança é em "The Batman" do Matt Reeves. A história propõe que o Batman é um sujeito cujas habilidades físicas são no máximo a de um atleta de alto nível que usa alguns equipamentos de proteção. Na crena em que ele salta planando do topo de um prédio, ele bate com tudo em uma parede, mas logo se levanta e sai caminhando quase de boa. Se o Batman é só um humano bem equipado, aquele impacto específico deveria ter causado um dano maior nele. Em "The Batman" é pontual nesta cena, mas esse mesmo problema tem aparecido direto nos filmes mais recentes na Marvel. Completamente normal o Capitão América tomar um soco de alguém com superforça, voar longe com o impacto e logo em seguida se levantar e estar pronto pra lutar de novo. A própria história estabelece que ele tem capacidades físicas acima da média. Agora quando o Shang-Chi, o Gavião Arqueiro ou a Jennifer Walters não transformada tomam um soco que os joga contra uma parede de tijolos que se despedaça, e eles se levantam e voltam pra luta sem demonstrar nenhum dano, daí tem problema de verossimilhança.
@@IlhaKaijuu Exatamente, tipo, o Batman em The Batman espatifando no chão depois de planar é mais verossímil que o fazendo a mesma coisa na versão do Tim Burton, porque ali está entrando no lado lúdico. Eu sempre considero a "realidade" como o parâmetro de verossimilhança.
Quando entra na própria regra imposta do filme, eu entro na área da coerência, esqueço o verossímil. Exemplo, Man Of Steel, cada kryptoniano segue uma casta e função. Jor-El era um cientista, pensador, mas ele mete a porrada no Zod e ainda é todo ágil para buscar o embrião do Kal-El, isso não fez sentido na "regra" do filme. Se ele tivesse mandado os drones lá buscar os embriões, aí sim, faria total sentido ele ter reprogramado os robôs para roubar o embrião e quiçá o proteger de improviso quando o Zod surgiu.
Por sinal, é a única coisa que me dá raiva no filme e não vejo a galera reclamar. O resto acho bem verossímil até, quando a Faora mata os soldados só no soco, tem um frame do grandão lá arrancando a cabeça de um piloto. Se fosse MCU, ele apenas teria o tirado do avião pela cabeça.
um pouco fora do tema mas pensei nisso durante o video.
Você considera a Arte Polissêmica?
Em que sentido? Na ressignificação de conceitos a arte? Ou polissemia no próprio fazer artístico?
@@IlhaKaijuu na ressignificação em especifico
@@gabichulmb2127 Em relação a conceitos, acontece sim, mas havendo contexto relevante para isso. Se pegarmos qualquer termo sem critério pra usar em qualquer lugar ignorando a construção teórica de séculos sobre eles, acabariam se esvaziando e se tornaria inútil usar conceitos. Mas um exemplo que se pode apontar é a da própria definição de arte. Alguns autores na década de 1980 levantaram o ponto de que a arte que se conhecia e produzia antes havia acabado, e, com a arte contemporânea, outra coisa surgiu e foi aos poucos ocupando o lugar e o conceito de arte em um processo gradual que não se notou que a antiga coisa que se chamava de arte não era mais produzida e uma nova coisa passou a ser chamada de arte. Então a própria noção do que é arte hoje não é a mesma do que era no século XIX.
Então Machado de Assis é um realista híbrido ou não?
Complicado definir, porque o Machado era muito f*d@. Ele escreveu contos segundo as convenções do romantismo antes de se destacar como realista, então manjava das duas técnicas. Mas quando ele escreve o "Memórias Póstumas" e "Dom Casmurro", temos um único narrador em primeira pessoa. Então ,apesar de não ser confiável, não há outros pontos de vista pra se comparar e destacar as contradições. Além de que por muito tempo se interpretava a narrativa do Bentinho em "Dom Casmurro" como sendo de fato o que acontecia na diegese, fazendo a traição da Capitu algo que se entendia como ter acontecido de fato na história. Levou-se décadas para se levantar a teoria de que ele era um narrador não confiável, o que provocou uma ressignificação de toda a obra.
foda
Primeiro 1#
De fato
Temos um campeão!
@@IlhaKaijuu
🤣
quanto mais se analisa watchmen mais claro fica que a adaptação do snyder é horrível