ANTIGA USINA CACHOEIRA LISA - GAMELEIRA - PE. Parte II

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  • เผยแพร่เมื่อ 26 ส.ค. 2024
  • MEUS PRIMOS
    Numa tarde, resolvemos caminhar pela estrada de ferro e outra coisa não pretendíamos senão dar uma olhada na filha de um vigia novato, morena carregada, de olhos verdes e longas tranças que, de tardinha, lavava os pés, enfeitava a cabeça com uma flor e vinha para o patamar de casa tocar viola de doze cordas e cantar "Sussuarana". No meio do caminho, demos com a ponte de ferro, feita de trilhos, dormentes e mais nada, onde só o trem podia passar. R. G. teimou que atravessar seria uma canja, andando por cima dos dormentes. "E se o trem viesse?", aventamos essa perigosa possibilidade. Não ligou. Nós ficamos no barranco do rio e ele começou, sozinho, a travessia. De repente, parecia coisa do diabo, o trem saiu da curva, a cem metros da ponte. R. G. ia exatamente na metade e não tinha tempo de correr para a frente ou para trás. Fechamos os olhos, pensamos em Deus por sua alma de dezesseis anos. O trem passou, houve um minuto de pausa e, depois, R. G. apareceu no mesmo lugar, fazendo gestos vegetais e gritando que não seria a locomotiva da Great Western que o mataria tão jovem. Garoto de incrível presença de espírito, quando viu o trem à sua frente, agachou-se, segurou com as mãos um dos dormentes e deixou o corpo pendurado. Depois que passaram os doze vagões, suspendeu-se como num exercício de barra e começou a rir do estado de pânico em que estávamos. O maquinista, ao chegar à estação de Gameleira, a dois quilômetros dali, entregou-se à polícia, confessando que tinha matado um menino da usina Cachoeira Lisa. Primos e primas, seis moças e seis rapazes, resolveram passear a cavalo num engenho nosso que se chamava Cuiambuca. Saíram de madrugada e prometeram voltar às três da tarde. Acontece que deu sete horas, estava quase escurecendo e nada deles voltarem. Como era negócio de moças e rapazes, embora primos, as mães ficaram meio assustadas. Eu e Tião, porém, sabíamos que o grupo voltaria são e salvo. Planejamos ir para a Volta da Jaqueira, lugar frequentado por fantasmas e almas penadas. Quando os cavaleiros surgissem, Tião, embrulhado num lençol, iria para o meio da estrada e ficaria parado, rezando, aos berros, uma jaculatória pelo repouso dos espíritos desassossegados. Fiquei atrás da jaqueira e quando ouvi o tropel dos cavalos, mandei Tião com o seu lençol para o meio do caminho. Nossos primos, tomados pelo susto, em vez de correr, baixaram os rebenques no pobre do Tião que, durante quinze minutos, apanhava e gritava: "Não tem graça, não. Vocês sabem que sou eu". Do meu esconderijo, queria intervir, mas a crise de riso era tanta que não conseguia sair do lugar. São estas as pobres e perdidas recordações embora sem ternura para os outros de que me sirvo nos dias de saudade. Meus quinze primos, espalhados, desarrumados no mundo (um deles é frade dominicano em Paris), são, hoje, nestas coisas que conto, minha única maneira de voltar ao moleque da campina que não sabia nada e era rei de tudo, para quem o remorso foi uma simples palavra do catecismo, no tempo em que a reza da noite redimia as viagens impossíveis do sexo. Não desprezeis minhas humildes saudades, mas buscai, em vossa meninice, lembranças parecidas com estas e elas vos restituirão um certo apego, um pouco de bem-querer aos dias de hoje, tão sem graça em sua maioria.
    Crônica de Antônio Maria.
    Manchete, 25/071953
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