Da poesia que quero

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  • เผยแพร่เมื่อ 16 ก.ย. 2024
  • DA POESIA QUE QUERO - ROBERTO MENEZES
    Quero poesia cinza, cabelo piaçava. Com rima de palha, sem saber se na água flutua, sem saber se se mete na brasa.
    Não quero poesia boazinha, quero poesia que não me dê a mínima, poesia picareta, poesia cafajeste, daquela que se me bater, eu vou gostar. Daquela sem esquema, que me dê dor de rima, que me faça borrar as calças, padecer de isquemia. Poesia melancolia a escorrer nas linhas com som de zinco.
    Não aquela que me acorrente e passe o trinco, não aquela de chazinho das seis e meia, poesia coada com a meia sola das outras vontades. Quero aquela que não se aguente e seja dada a dar vexame, das que correm nuas ladeira acima e gritam quais freiras com os pássaros. Poesia boa bota pra fora partes impublicáveis, se joga na parede, vai caindo, caindo, bem devagarinho, feito uma lagartixa desapegada. Quero poesia absurdamente gelada que me marque feito gado, poesia de aperto no coração, que me consuma o juízo e dê nó de marinheiro no intestino delgado.
    Saberá quem a ver, a minha poesia, ela vai chegar sem alegorias, sem escoltas, sem costas largas. Não vai bater na porta, nem gritar olá-tem-alguém-em-casa. Aqui dentro, não fará questão de me procurar, de escolher cadeiras, de reservar canto na mesa. Ela, toda dona dela, vai esperar que seja. Seja manhã ou já escuro, quem quiser vai vê-la. É só passar a língua entre os dentes, ou sei lá, cruzar os cílios, arregalar os ouvidos, arreganhar para perder-se em si. Se ela estiver aqui, quase todos, ou quase-eu, a gente vai sentir.
    A poesia que quero se sabe de letra. É cachorro manso entrando na jaula, virando aqui dentro, bicho feroz. Cérbero no cérebro, reverberando verbos, rebordosamente em doses, em porres, até que, eita-porra, o que é que foi que aconteceu? Poesia vigarista, de mil agruras, que me pise no pé com seu salto do tipo agulha, alcaparra que me escarre narinas adentro o seu sabor exorbitante, tal qual mordida na semente da pimenta. É dessa poesia que quero daqui por diante, sem oba-oba, sem ó-doutor-chegue-aqui, sem baba-ovo, sem bovarismo, sem avareza, sem vileza. Poesia que não valha nada, que nem merece o pinico que mije.
    Não tenho certeza se poesia nasce das vontades, se é feita de luz ou feita de sal, não sei sua cor, não sei por quais estradas caminhará pra chegar até aqui. Pode chegar cansada, pedir água, uma dose de cana. Pode bem me tirar pra dançar, entoar a sua rumba, poesia cigana, com seu bailado de black mamba, me rodear redondilhamente e na minha traqueia desferir a poderosa porção que nunca ninguém além de mim provará. Quem ouvir meu grunhido baterá palma com vontade, fará de conta que é masoquista. No chão, voando em tapetes, eu, ferido por seu veneno, chamarei ela pra deitar ao meu lado. Ela, não tenho certeza se é de água ou se é de chama, me pegará nos braços, em seus tiranos braços, e com o carinho de torturadora, me aninhará até eu esquecê-la.
    A poesia que eu quero me verá, tolo, deitado anestesiado em meus sonhos de poeta. E, à francesa, fantasiada de vida, C'est la vie, cavalgará amazona em direção às savanas onde, dizem as más línguas, poesias correm nuas, sem os quereres que as fazem tão velhas. Me deixará caindo aos pedaços para nunca mais me encontrar sendo agora ela, só dela. Sendo eu, só um teimoso desejador.

ความคิดเห็น • 3

  • @Jessicamouzinho2
    @Jessicamouzinho2 12 ปีที่แล้ว

    Gostei muito!

  • @leticialp
    @leticialp 12 ปีที่แล้ว

    Muito bom.

  • @tlfmb
    @tlfmb 12 ปีที่แล้ว

    Boa, Beto!