Viés implícito e as desigualdades na ciência com Karin da Costa Calaza

No Colóquio “Viés implícito e as desigualdades na ciência”, a professora Karin da Costa Calaza apresenta como a neurociência pode ajudar a entender que os vieses implícitos são consequência de um processamento cerebral inconsciente. Esses vieses são associações automáticas que influenciam nossas avaliações, comportamentos e decisões, muitas vezes sem que tenhamos consciência disso. Mesmo acreditando que nossas ações seguem nossas convicções, esses vieses podem afetar nossas atitudes em relação a características como raça, etnia, gênero, idade e aparência. Utilizando dados neurocientíficos sobre o funcionamento do cérebro e vieses implícitos, a pesquisadora também discute que, embora as mulheres representem 60% dos formandos nas universidades brasileiras, elas e as pessoas negras ainda são sub-representadas em cargos de liderança.
Colóquio gravado em 13/06/2024. Karin da Costa Calaza é professora no Departamento de Neurobiologia, do Instituto de Biologia, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Brasil.
Resumo/Abstract: A neurociência tem demonstrado que grande parte do processamento cerebral ocorre de forma não consciente. O viés implícito é um fenômeno natural no qual o encéfalo forma constantemente associações automáticas de modo a gerar respostas rápidas frente as diferentes situações. O viés implícito que envolve tanto avaliações favoráveis quanto desfavoráveis é ativado involuntariamente e sem consciência ou controle intencional do indivíduo. Portanto, várias pistas do ambiente podem implicitamente afetar nosso comportamento, e em última instância nossas avaliações, comportamentos e decisões. Assim, como as pessoas não têm acesso consciente para determinar seu viés de acordo com suas convicções pessoais, este viés pode ocorrer mesmo que a pessoa esteja convencida de que nunca se comportaria de modo diferente de suas convicções. Estas associações implícitas que nosso encéfalo faz, podem nos fazer sentir e tomar atitudes em relação a outras pessoas baseadas em características como raça, etnia, gênero, idade e aparência, mesmo que a princípio não concordemos conscientemente com elas. Apesar de as mulheres já perfazerem 60% dos formandos nas universidades do Brasil, a distribuição nos cursos de diferentes áreas é significativamente desigual. Além disso, as mulheres e pessoas negras ainda se encontram sub-representadas em posições de gestão e liderança, tanto na academia quanto na política e no mercado de trabalho. Existem várias razões que poderiam explicar esse fenômeno, abordaremos mais especificamente dados da área da neurociência sobre o funcionamento do cérebro e viés implícito.
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