Em relação à palestra propriamente dita. Bom, li o livro do Kingsley sobre Jung e o junguianismo, em função da indicação do Roberto Gambini. E o espírito do livro é esse mesmo, a que me referi abaixo ao citar o Millor (poderia falar também de outro grande, que aliás fez todo o percurso, partindo do partidarismo de esquerda e em seguida rompendo com isso: Arnaldo Jabor), é exatamente esse, não temer romper com os grupos majoritários que, no fundo, de certo modo, se suportam a contragosto e silenciosamente. É a polêmica saudável, que nada tem a ver, aliás, com o que se passou a significar essa prática. Argumentar livremente e livremente aguardar o contrargumento. Como diz Gambini, isso se perdeu e com oeesa perda surgiu a intolerância: o embriãozinho da sepente. A palestra do Gambini, acho eu, pode ser resumida numa frase do Jung, falada pelo Bishop numa palestra de sábado pela manhã: "There is no real life without archetype experience" ["Não há vida real sem a experiência arquetípica"]. E mais, a técnica que o Gambini descreve, sugerida pelo Kingsley - apreender tudo ao mesmo tempo com os 5 sentidos como forma de ir ampliando e mantendo a conexão com o Todo, no sentido de quebrar com a hegemonia tirânica da razão e incluir, equilibrando as coisas, o irracianal (que é aliás, a pátria da vida arquetípica), é o que os budistas chamam de meditação da plena atenção. É assim que, segundo ele conclui na palestra, com essa aliança paradoxal entre Perséfone e Afrodite (eu diria talvez, entre a loucura e o desejo, respectivamente), se retoma o equilíbrio psíquico. Magnífica palestra. E ela vem sugerir a importância polêmica dos livros do Kingsley.
Palestra, como sempre, magistral do Gambini. Permita-se me, no entanto, tecer uma crítica (claro que no espírito do que ele menciona na sua fala, com o qual concordo e já adota, apesar de sermos minoria; refiro-me à discordância como fator ou elemento de uma dialética democrática, quer dizer, condição do aparecimento, digo mais, da gênese do pensamento na reflexão). Vamos lá. Não deve ser necessário ser junguiano, freudiano, ou qualquer "ismo" para se tomar qualquer posição! Aliás, eu diria que é essencial que o ponto de partida seja o eu (aquele que tomas as decisões, e assume os caminhos e vive os desafios da existência) livre de qualquer chancela. E creio que isso bate de maneira perfeitamente coerente com o próprio relato do percurso biográfico rico e cheio de meandros com que nos brindou Roberto Gambini. Portanto, apoiar Bolsonaro, um apoiador de torturadores e torturas, independente de qualquer perspectiva junguiana, ou outra que seja, é por si só inadmissível. E, permito-me acrescentar e apontar, no meu modo de ver, uma lacuna: apoiar Lula idem. São as duas obsolecências, caracteres residuais que, infelizmente, nos restaram (aparentemente, até agora, não há saída). E a existência de um, a meu ver, não implica a aceitação do outro. Como dizia o saudoso Millor Fernandes (um dos últimos espécimes da praticamente instinta imprensa nacional), "pensar é não ceder a ideologias". E o pensamento que não é crítico, não existe. [Na verdade, faço um paráfrase do que ele dizia, que era: "Imprensa é oposição, o resto é secos e molhados!"] Me parece muito questionável o silêncio em relação a Lula...
O que ficou foi além das suas palavras. Adorei. Obrigada!!! 🌷
Adorei ver vc bem ! Vc esta muito chic sofro por ter perdido esse terapeuta!
Roberto "sem palavras" 😊 muito obrigada por tanta inspiração.
Gratidão, Gambini! Suas falas me tocaram como a poesia de Adélia Prado, do lado de dentro!
Obrigada por existir!
Muito obrigada por tanto, Gambini. ❤
Amo ele Roberto
A voz e o tempo é um dos livros que releio sempre. Assisti as palestras dele nos congressos que participei. Um ser de luz e amor.
Monstro sagradissimo!
Em relação à palestra propriamente dita. Bom, li o livro do Kingsley sobre Jung e o junguianismo, em função da indicação do Roberto Gambini. E o espírito do livro é esse mesmo, a que me referi abaixo ao citar o Millor (poderia falar também de outro grande, que aliás fez todo o percurso, partindo do partidarismo de esquerda e em seguida rompendo com isso: Arnaldo Jabor), é exatamente esse, não temer romper com os grupos majoritários que, no fundo, de certo modo, se suportam a contragosto e silenciosamente. É a polêmica saudável, que nada tem a ver, aliás, com o que se passou a significar essa prática. Argumentar livremente e livremente aguardar o contrargumento. Como diz Gambini, isso se perdeu e com oeesa perda surgiu a intolerância: o embriãozinho da sepente.
A palestra do Gambini, acho eu, pode ser resumida numa frase do Jung, falada pelo Bishop numa palestra de sábado pela manhã: "There is no real life without archetype experience" ["Não há vida real sem a experiência arquetípica"]. E mais, a técnica que o Gambini descreve, sugerida pelo Kingsley - apreender tudo ao mesmo tempo com os 5 sentidos como forma de ir ampliando e mantendo a conexão com o Todo, no sentido de quebrar com a hegemonia tirânica da razão e incluir, equilibrando as coisas, o irracianal (que é aliás, a pátria da vida arquetípica), é o que os budistas chamam de meditação da plena atenção. É assim que, segundo ele conclui na palestra, com essa aliança paradoxal entre Perséfone e Afrodite (eu diria talvez, entre a loucura e o desejo, respectivamente), se retoma o equilíbrio psíquico. Magnífica palestra. E ela vem sugerir a importância polêmica dos livros do Kingsley.
Palestra, como sempre, magistral do Gambini. Permita-se me, no entanto, tecer uma crítica (claro que no espírito do que ele menciona na sua fala, com o qual concordo e já adota, apesar de sermos minoria; refiro-me à discordância como fator ou elemento de uma dialética democrática, quer dizer, condição do aparecimento, digo mais, da gênese do pensamento na reflexão). Vamos lá. Não deve ser necessário ser junguiano, freudiano, ou qualquer "ismo" para se tomar qualquer posição! Aliás, eu diria que é essencial que o ponto de partida seja o eu (aquele que tomas as decisões, e assume os caminhos e vive os desafios da existência) livre de qualquer chancela. E creio que isso bate de maneira perfeitamente coerente com o próprio relato do percurso biográfico rico e cheio de meandros com que nos brindou Roberto Gambini. Portanto, apoiar Bolsonaro, um apoiador de torturadores e torturas, independente de qualquer perspectiva junguiana, ou outra que seja, é por si só inadmissível. E, permito-me acrescentar e apontar, no meu modo de ver, uma lacuna: apoiar Lula idem. São as duas obsolecências, caracteres residuais que, infelizmente, nos restaram (aparentemente, até agora, não há saída). E a existência de um, a meu ver, não implica a aceitação do outro. Como dizia o saudoso Millor Fernandes (um dos últimos espécimes da praticamente instinta imprensa nacional), "pensar é não ceder a ideologias". E o pensamento que não é crítico, não existe. [Na verdade, faço um paráfrase do que ele dizia, que era: "Imprensa é oposição, o resto é secos e molhados!"]
Me parece muito questionável o silêncio em relação a Lula...
Ótima observação.