Olá Humberto! Gostaria de lhe parabenizar pelo material de expecional qualidade e de imensa valia que tu nos disponibiliza, ainda mais com a tamanha pertinência dos temas discutidos. No entanto, eu gostaria de tecer alguns comentários quanto ao presente tema, especificamente em alguns itens que, ao meu ver, demandam maior trato teórico. Em primeiro lugar, é necessário aclarar a distinção do conceito de dinheiro (equivalente universal de valor) e o conceito de moeda (signo de valor), uma vez que boa parte das imprecisões presentes neste debate se devem à uma certa neglicência da distinção teórica destes conceitos. Na teoria do Marx, o dinheiro têm de ser necessariamente uma mercadoria, eleita esponteanemente no processo de trocas mercantis. Com o desdobramento do processo de troca, uma mercadoria se destaca e assume a forma de equivalente universal de valor, no sentido de que as demais expressam relativamente seus próprios valores nela. Isto implica dizer que todas as mercadorias (com exceção ao próprio dinheiro) facultam a propriedade de serem medidas de valor ao dinheiro, que faz dela seu monopólio social e, assim, torna-se equivalente universal (ou geral) de valor. E como bem frisado por Marx, a mercadoria que se cristalizou na forma de equivalente universal foi o ouro. O conceito de moeda, por sua vez, expressa a tendência do dinheiro se desprender de sua função de meio de circulação. Já na época do Marx, o ouro vinha sendo crescemente substituído no âmbito da circulação por meros signos, isso sem contar que o desdobramento do dinheiro na função de meio de pagamento pressupõe sua retirada da circulação (No Livro III, Marx detalha o processo de retirada do ouro de sua função de meio de circulação e sua correspondente transubstanciação em meio de pagamento através da constitução do sistema de crédito, cujo representante máximo é a letra de câmbio). Por isso, faz-se necessário pincelar as características distintivas das diversas funções que o dinheiro desempenha. O dinheiro, enquanto equivalente geral de valor, apenas se transforma em meio de circulação a partir do estabelecimento do padrão de preços, mediante a oficialização do Estado. Ou seja, existe um processo extremamente complexo que antecede a esta trama, e que surge ainda na forma mais rudimentar da economia mercantil (a chamada troca direta de produtos). Claus Germer, por exemplo, demonstra que a análise de Marx se pauta no pressuposto de que as funções do dinheiro expressam a evolução das funções econômicas, além de representarem formas de intercâmbio progressivamente mais desenvolvidas. O dinheiro é uma mercadoria especial, que se exclui das demais enquanto equivalente geral de valor, no sentido que esta passa a expressar valor em estado puro, autonomizado. Portanto, a primeira função do dinheiro é ser medida de valor, uma vez que todas as mercadorias expressam seus valores nele (enquanto representações de trabalho social), e relegam a propriedade de serem medidas de valor à mercadoria específica que se converte em dinheiro (o ouro). A partir do desdobramento histórico do processo de trocas, o dinheiro (ouro) passa a servir como unidade de medida, constituindo-se como medida dos preços. Por um lado, enquanto medida de valor, o dinheiro é expressão de trabalho social, portanto, de condições econômicas objetivas; por outro, o padrão de preços que se constitui é puramente convencional, cujo estabelecimento é efetuado pelo Estado. De fato, sem o Estado, o dinheiro não poderia se constituir enquanto unidade de medida de preços, dada a sua natureza puramente convencional. É aí que o dinheiro se desdobra em meio de circulação, dado que o material monetário surge no processo de trocas, mas apenas se converte de modo pleno em meio circulante através de sua imposição pelo Estado. Portanto, a economia mercantil simples (em seu estado embrionário) antecede o Estado ( existem fartas evidências históricas de que diversas mercadorias desempenharam a função de equivalente universal de valor mesmo sem um aparato estatal) muito embora esta apenas se constitua de modo definitivo por meio da introdução do mesmo. Compreender o surgimento do Estado, enquanto pressuposto do surgimento dos mercados (ao meu ver), reflete um erro muito comum incorrido por parcela considerável dos autores marxistas que se debruçaram no tema, que é o de derivar do dinheiro somente a sua função enquanto meio de circulação (como faz Harvey, que afirma erroneamente que o valor de uso do dinheiro - mercadoria-dinheiro - é de facilitar as trocas e de servir enquanto meio de circulação, ignorando por completo as determinações subsequentes, nas quais o dinheiro é convertido em meio de pagamento, e de entesouramento, p. ex., bem como as determinações que antecedem este processo de conversão do dinheiro em meio de circulação, e que conferem à uma mercadoria específica, o caráter de equivalente universal de valor). Não se trata, portanto, de mero preciosismo teórico. Conceber o dinheiro (equivalente universal de valor) como uma criação do Estado, é reduzi-lo à sua função de meio de circulação. O Estado pode influir no processo de produção de valor e da sua circulação na forma de equivalente geral de valor (dinheiro), mas ele próprio não criar ou descriar valor. Atentando-se ao significado teórico de dinheiro cunhado por Marx, segue-se que o Estado não pode criar dinheiro. Por tais motivos, compreendo a TVT (tal como desenvolvida por Marx) e a MMT como arcabouços completamente incompatíveis do ponto de vista teórico. Evidentemente, a profundidade deste debate é muito maior do aqui foi esboçado. No mais, fico muito feliz pela devida atenção à presente temática, apesar das respectivas divergências. Saudações!
O debate é bom sim. Eu concordo com você quando distingue dinheiro e moeda. Eu não entrei nessa seara porque o vídeo já ficou longo e a dinâmica do YT não prioriza vídeos longos. Entretanto, nas entrelinhas, procurei demonstrar exatamente isso quando disse que o Estado cria o meio circulante e não o dinheiro identificado por Marx. O dinheiro seria o melhor representante do Capital justamente por representar medida de valor. O que eu disse é que o valor na TVT de Marx advém de uma relação social estabelecida que faz do trabalho socialmente necessário o construtor do valor social. Nesse sentido meu argumento é: o Estado não cria o dinheiro, cria a valuta e estabelece a relação social. Do mercado criado a partir do Estado se cria o conjunto de relações de valora o valor e da aí, ao dinheiro, tais propriedades. Quase não tenho discordâncias a respeito do teu texto. Minha discordância é a respeito da haver mercados e valuta fazendo as vezes de meio de troca antes do Estado. Discordo totalmente da existência de evidências para tal afirmação. Creio que o que tínhamos eram "moedas sociais", ou seja, instrumentos que não exerciam função econômica, apenas reorganizavam aspectos da vida social. Só há dinheiro exercendo exclusivamente funções econômicas depois do advento do Estado, aliás, as evidências dão conta que ambos surgiram juntos, o dinheiro como uma forma de manter materialmente as tropas que sustentavam o poder do Estado. Sendo assim, não vejo incompatibilidade alguma uma vez que todo o circuito do capital existe tal qual Marx descreveu, uma vez que o Estado é, como ele descreveu, o estabelecimento da classe dominante como organização de controle, uma vez que só o trabalho socialmente necessário produz valor, uma vez que o dinheiro é equivalente geral e melhor representante do Capital, além de se comportar como uma mercadoria com características especiais. Eu continuo não compreendendo qualquer incompatibilidade e continuo achando dogmatismo uma vez que Marx partiu do que tinha a época e como materialista, não poderia concluir diferente. A questão é que com base na antropologia e arqueologia, temos informações que dão conta de algo diferente do que Marx supôs a partir da economia clássica, como a versão do dinheiro aparecendo da espontaneidade do mercado. Eu estou propondo a TVT como teoria do valor para a MMT.
@@HumbertoMatos Compreendo, Humberto. Imaginei que não teríamos grandes divergências no que diz respeito à distinção teórica dos conceitos, mas discordo por completo da afirmação de que inexistem evidências históricas e empíricas que respaldem a tese do dinheiro enquanto uma mercadoria (por essência). Veja, o dinheiro não é uma mercadoria por mera conveniência, mas sim, por ser o resultado de um processo de generalização das trocas. Ao mesmo tempo em que você diz que Marx está certo em conceber o dinheiro como uma mercadoria, tu afirma que ele errou por enxergar os mercados como formações sociais que precedem o Estado. Ora, o dinheiro é (em sua essência) uma mercadoria, por ter emergido espontaneamente a partir do desenvolvimento progressivo das relações de troca. Se o Estado emite dinheiro, é absolutamente indiferente este ser uma mercadoria ou não, uma vez que Marx jamais concebeu o dinheiro como uma mercadoria por mera casualidade. Não tenho ideia do que você compreende por "moeda social". Se se refere à suposição de que o dinheiro não desempenhou funções econômicas (mas reorganização de aspectos da vida social, o que considero uma falsa distinção) antes da constituição de um ente estatal, você está equivocado. Como já expus anteriormente, uma mercadoria especial se destaca das demais e se generaliza enquanto medida de valor, tornando-se assim, equivalente universal de valor. Mesmo sem o Estado, o dinheiro desempenha a função econômica de medida de valor (que é justamente a função que converte a mercadoria específica em equivalente universal de valor!). Não é, portanto, conceitualmente (e nem historicamente) correto afirmar que o dinheiro não desempenhava funções econômicas relevantes em arranjos sociais precedentes ao Estado. Além disso, é necessário compreender que a autonomização do valor constitui um processo de caráter gradual. O desenvolvimento da economia mercantil constitui o desenvolvimento de uma totalidade, sendo o próprio dinheiro apenas uma etapa do desenvolvimento da forma-valor. É claro que a partir do desenvolvimento de novas relações sociais de produção, surgem novas funções econômicas, tais como: meio de entesouramento, meio de pagamento e dinheiro mundial. É verdadeiro que a conversão definitiva do dinheiro em meio de circulação (e, portanto, a plena constituição da economia mercantil simples) apenas ocorre por meio da imposição do padrão de preços, enquanto criação convencional do Estado. Mas isto apenas expressa o coroamento de um processo de desenvolvimento da economia mercantil simples, e que reflete uma das etapas de autonomização do valor, processo este que se inicia ainda na troca direta de produtos. A verdade é que a teoria do dinheiro formulada por Marx, segue até hoje, incompreendida por parcela considerável dos marxistas. Em sua teoria, Marx estabeleceu que o dinheiro tem de ser uma mercadoria por necessidade lógica, e não por mera casualidade. Por último, as tão citadas evidências antropológicas nada mais fazem que chover no molhado. Se busca demonstrar que a economia mercantil simples nunca teria existido em seu estado embrionário (troca direta de produtos), mas tal proposição apenas se sustenta por conta da confusão conceitual entre dinheiro e imposto, tão cara aos autores que nelas se sustentaram (Graeber, por exemplo). Não é a toa, portanto, que boa parte dos autores marxistas importam/importaram elementos de paradigmas teóricos concorrentes (destaca-se o pós-keynesianismo), e pouco ou nada têm a dizer com base nos alicerces teóricos postulados por Marx. Afinal, o dinheiro de fato deixou de ser uma mercadoria, mesmo no capitalismo contemporâneo?
O trabalhador produz a Mais-valor, o Estado produz o Mais-dinheiro. Sem o Mais-dinheiro a Mais-valia não se realiza na forma capitalista. Dinheiro não é uma mercadoria, é uma unidade de conta de créditos e débitos, uma unidade contábil, uma reinvidicação sobre a riqueza produzida e uma antecipação de impostos. Como unidade contábil a moeda é completamente arbitrária e estabelecida pelo Estado. O imposto antecede a moeda, era pago originalmente em grãos, gado, bens ou trabalho. A necessidade de pagar impostos forçou os camponeses a produzirem excedentes.
@Eric Moretti Ouro e Prata são mercadorias, podiam ser usadas como dinheiro, mas nem sempre, pois a forma mais comum era o crédito com pagamento em grãos na colheita. Ouro e prata tem um problema, precisam ser testados para se garantir a pureza, além disso as jazidas eram controladas pelos governantes. As moedas metálicas foram introduzidas por volta de 600 A.C. através de cunhagens feitas e distribuidas pelos Estados. Quanto a sua discordância, ela é irrelevante. Estamos falando de dados científicos amparados por pesquisas arqueológicas e antropológicas, bem como extensa documentação histórica.
@Eric Moretti Não meu filho, meu comentário está baseado nas fontes do antropólogo econômico David Graeber e nas pesquisas e aulas do professor Michael Hudson. Por exemplo, no livro Dívida - os primeiros 5 mil anos, do professor David Graeber, tem mais de 50 páginas de notas bibliográficas e 37 páginas de fontes publicadas.
Por ser imaterial e invisível, o valor requer uma representação material. Essa representação material é o dinheiro. O dinheiro é uma forma de aparência tangível, bem como um símbolo e uma representação da imaterialidade do valor social. Mas, como acontece com todas formas de representação, há uma lacuna entre representação e a realidade social que ela tenta representar.
Acho que os limites desse debate é a falta de precisão das categorias discutidas. Marx parte dos pressupostos da Economia Política clássica para fazer sua crítica, desnudando, logicamente, seu irrealismo idealista. Portanto, o mundo de produtores individuais que trocam seus excedentes entre si em relações mercantis privadas, das quais o dinheiro brotaria espontaneamente de modo necessário para que esse circuito sobrevivesse, é uma fantasia liberal. Contudo, em formações sociais pré-capitalistas diversas, quando houve situações de perenidade de certas trocas entre diferentes grupos, algumas mercadorias acabaram sendo convencionadas como equivalente geral, adquirindo a forma de dinheiro. Desse modo, se há evidências arqueológicas e históricas de que formações sociais pré-capitalistas sem Estado - o qual, para algumas correntes marxistas, como os derivacionistas alemães ou regulacionisras franceses, não teria existido até o feudalismo - tinham trocas marginais com razoável perenidade entre alguns grupos, então houveram mercadorias com forma de equivalente geral, forma dinheiro, sem o ente estatal. Não obstante, a forma equivalente geral do valor, enquanto dinheiro mercadoria, tem as funções de meio de compra/circulação e pagamento. A função de compra/circulação é a mais intrínseca às relações mercantis propriamente ditas, mais grudadas às trocas, ou seja, é a que mais faz do dinheiro uma mercadoria de equivalente geral. Porém, a função pagamento, por possibilitar um distanciamento temporal entre o cumprimento dos deveres jurídicos entre as partes de uma transação, quando alguém aliena sua mercadoria a outrem aceitando receber a contrapartida depois, também possibilita circulação não mercantil da riqueza, como é a tributação das diferentes formas de ente político dominante nos diferentes tipos de formações sociais na história. Nos modos de produção das sociedades de classes pré-capitalistas, como escravismo, modo de produção asiático e feudalismo, por ser a tributação uma das formas proeminentes de exploração do excedente da riqueza social, a função pagamento do dinheiro foi predominante à função de compra/circulação, pois as trocas eram marginais (embora a função compra/troca tenderia a ser proeminente no dinheiro dos modos de produção das sociedades sem classes mesmo nelas as trocas também serem marginais, pois não havendo exploração o dinheiro só poderia ser mesmo facilitador das trocas entre diferentes grupos e não tributo). Então, penso ser correto diferenciar dinheiro de moeda antes do capitalismo em sua fase superior monopolista, o imperialismo. Isso porque a moeda, até meados do capitalismo ainda concorrencial, tenderia ser mais o meio de exploração não mercantil do excedente da riqueza social, como os tributos e usuraria senhorial, do que mercadoria de expressão do valor de todas as outras mercadorias, o que, por sua vez, caberia ao dinheiro. Diante disso, quando o capitalismo se desenvolveu ao ponto de potencialmente universalizar as relações mercantis, as tornando dominantes na produção e reprodução social da vida, ao mesmo tempo que consolidou o Estado para os fins desse sistema chegando à fase monopolista do imperialismo, na qual a taxa de lucro médio passa a não ser mais suficiente, e o lucro máximo exige complementos à exploração do processo de valorização do valor do trabalho que lhe extrai a mais-valia, utilizando preços monopolicos, impostos, dívida emercado cambial dos Estados para pagar salários relativos com menos valor do que a força de trabalho correspondente, moeda e dinheiro passam a ser a mesma coisa completamente, dando unidade predominante entre as funções de compra e pagamento. Conclui-se disso que, antes do capitalismo, os meios de tributação e usuraria correspondiam à moeda e seguiam a lógica da MMT, e as mercadorias de facilitação ocasionais das trocas marginais eram dinheiro, que poderia ser ou não a moeda da tributação e usuraria. Com o capitalismo, a dominação da vida pelas relações mercantis e pelo Estado funde por completo dinheiro e moeda e as políticas fiscais e monetárias da macroeconomia passam a ser ora parte dos meios de exploração do trabalho para obter superlucros, pra recuos reformistas para evitar revoluções socialistas, conforme a correlação de forças entre trabalhadores e capitalistas. Do ponto de vista técnico das mecânicas monetárias, a MMT é muito boa, mas suas promessas são irrealizáveis onde não há autosuficiência o bastante para resistir as restrições externas.
Importante lembrar que, mesmo numa posição crítica em relação à Economia Política e ao capitalismo, Marx contribuiu para consolidar a representação civil do dinheiro, isto é, a representação despolitizada do dinheiro, ao dizer que sua origem estava na mercadoria. Além disso, por princípios filosóficos, sob concepção materialista das sociedades, Marx aceitou a Economia Política como a ciência que se referia ao que Hegel chamou de sistema de carências humanas, dando crédito à idéia de realidade ou ordem econômica.
Por caminhos filosóficos materialistas, Marx concluiu que na produção social de suas vidas os homens contraem relações de produção necessárias e independentes de suas vontades (Marx, 1977, 301), e concluiu também que a produção social, não só a da subsistência individual dos homens, é condição necessária para a reprodução material das sociedades ou modos de produção como um todo (Marx, 1980). Assim, deixou em aberto a possibilidade de se concluir que a produção das condições materiais de existência em geral, por ser produção necessária, seria o maior imperativo sobre as sociedades e sobre os homens. E nada parece mais convincente e irremediável que essa concepção materialista de Marx. Porém, mesmo concordando que sejam necessidades, pois não se vive sem condições materiais de existência, e que a reprodução material das sociedades como um todo prevalece sobre a necessidade de subsistência individual dos homens, haja vista o que diz n’O Capital, especialmente a respeito de exército industrial de reserva, é preciso dizer que o funcionamento monetário prevalece sobre ambas. As ordens monetárias dominaram todas as necessidades: dominaram a classe operária; dominaram as próprias necessidades de reprodução material das sociedades e impuseram as suas: as suas necessidades absolutamente monetárias, típicas necessidades de conservação do comando instituído e dos seus meios de comandar, representantes da violência legítima, consentida.
Professor, me corrija se estiver errada . Criar emprego é mais producente do que criar valuta( dinheiro ) pois a criação de empregos até pelo estado melhoraria a economia , mesmo tendo o estado ( governo ) tendo que imprimir moeda ( MMT).
O que produz valor é o trabalho. Neste caso o aumento de moeda emitida pelo Estado na sociedade pode estimular a produção de valor através do incentivo/investimento em produção, criando cenário assim para o desempenho de trabalho e consequentemente produção de valor.
Mas historicamente falando, em que momento se dá essa imposição do valor ao dinheiro? porque se considerar que depende que formas produtivas troquem seu valor (produção) pelo dinheiro, o impositor desse dinheiro não tem barganha se não um objeto sem valor real (moeda). E se o estado pode produzir indiscriminadamente seu dinheiro, porque existem contas e despesas baseadas no tanto de arrecadação de impostos? Acho estranho considerar que o dinheiro pode ser simplesmente impresso, porque o trabalho e o fruto dele não pode ser realizado da mesma forma, entendo que o dinheiro se materializa a partir do valor criado com o trabalho e usado como moeda para transferir o direito ao beneficio da produção, mas se o Estado produz a qualquer momento, ele não depende de considerar que existem limitações para fortalecer sua própria imposição, então porque ele mesmo se limita a ter poder "infinito"?
Humberto, pode-se dizer que a MMT se une em aplicação à teoria da Mais Valia relativa quando onera o patrimônio e diminui sobre o consumo? Porque se estaria tirando dinheiro do mercado privado que iria para a renda sobre o patrimônio e aumentando o dinheiro para a circulação entre trabalhadores e crescer a renda sobre o seu trabalho. É uma contenção ao movimento próprio do capitalismo, especialmente liberal, em que a acumulação de capital e da renda sobre esse capital acumulado cresce em detrimento da renda do trabalho da classe proletária, que depende da venda de sua mão de obra. Como o superávit, déficit e tributação não são necessariamente bons ou ruins, mas servem apenas à estabilização da moeda, poderiam servir como instrumentos para a redistribuição de renda - e, consequentemente, das riquezas! No caso, parece, ao meu entendimento, que a privatização da previdência, da saúde, educação, sucateamento dos direitos trabalhistas, etc., pela MMT, não seriam propriamente boas ou ruins também, mas seu entendimento depende da conjugação com a teoria do Mais Valor (Relativo, especialmente), para que entendamos como se integra com a perspectiva do sistema de produção capitalista, e como serviria a uma distorção das rendas próprio da propriedade privada dos meios de produção. Também, não seria contraditória a MMT com a Teoria do Valor de Marx, pois a distribuição do "dinheiro" pelo Estado estaria simplesmente fazria parte do universo de relações que estabelecem o tempo de produção médio da sociedade e dos trabalho abstrato e concreto, que produzem o valor. Sendo orientado e produzindo um valor de uso e valor de troca. Ou seja, a troca do dinheiro por serviços e a tributação estariam situados dentro desse universo, até porque os serviços estatais, a própria produção do dinheiro e a tributação são atividades humanas; trabalho em si.
Humberto, excelente vídeo e to contigo total na crítica aos marxismos dogmáticos que perdem a oportunidade de se enriquecerem com novas abordagens. Mas se me permites, por volta do 14:55 em diante, vc toca num ponto sintomático e que tem a ver mesmo com o cerne da sua (e também da minha) crítica ao Marx. Vc diz que o Estado cria "a relação social que faz do seu ticket o representante das relações de trabalho e troca". Pra mim o Estado não cria relação social alguma, é resultado delas ainda que ainda em formação atue é verdade sobre elas. Ou, o Estado (nacional, burguês) é muito mais o resultado de toda uma transição/revolução nas relações sociais que, e aí o Marx tem o seu momento de gênio, tornam os trabalhos humanos passíveis de equiparação. A questão é que, mesmo antes de formatado total, o Estado já vá atuando - inclusive nisso de tornar os trabalhos equiparáveis! E vá atuando também em outras áreas, como pra fazer valer a moeda que ele produz uma forte candidata, em acordo com as moedas privadas dos bancos e a moeda mercadoria (metais principalmente) que era meio uma moeda mundial (hegemônica na fase do capitalismo comercial), a moeda nacional por excelência. Moeda esta que vai ser fundamental pra fazer valer: i) internamente, uma especialização regional naquilo que efetivamente cada região produz melhor (portanto, com menor valor!), o que vai fazer quebrar n produtores; e ii) externamente, uma competição que permita aqui e ali , proteger a indústria local. Por isso mesmo, travar as moedas no padrão ouro vai e volta nas histórias monetárias das nações. O legal das histórias do dinheiro é que esses momentos estão todos ali. É louco ver como o esfacelamento do poder no feudalismo bate com as mil e uma moedas locais (convivendo com restos de circulação da moeda romana até!) e a moeda nacional é uma exigência de articulação de um mercado nacional. Tudo anda junto! Ao tempo em que se vai abolindo aos poucos a servidão, em que se vai dependendo menos do ganho baseado no roubo (o comprar barato pra vender caro), em que se vai afastando do poder a propriedade imóvel da terra (bem como vai se evitando que chegue ao poder os camponeses que um dia viveram apenas dela), vai se construindo um outro Estado, burguês. Hoje, vemos a briga pela hegemonia mundial de moedas fortes nacionais, vemos o nascimento de moedas privadas mundiais (as cripto do bem e do mal), e por isso mesmo urge que nós marxistas ajudemos com tudo o que sabemos sobre o dinheiro como forma do valor, forma inclusive que tende a se autonomizar no processo de valorização financeira, mas sabendo incorporar as nossas análises as boas novidades, como fazermos auto-críticas quanto a problemas antigos. E aqui mora o meu ponto, eu sou um pouco mais duro do que vc na minha crítica ao Marx, porque pra mim não é que ele tenha se fixado no D-mercadoria (ouro) e por isso não viu o D-estatal, mas é que ele deixa o Estado de fora das análises formativas do capital. Pras formações de cada capitalismo nacional ele bem sabe que ele teria de entrar. Mas, a questão é, dá pra pensar, no nível abstrato mesmo, M-V-D-K, sem um E aí junto?
Dinheiro é um objeto político, representante da violência legítima. Meio de comando quando usado ou direito quando guardado. Em outras palavras, dinheiro é poder executivo, é o principal meio de governo.
O liberalismo trata de questão relativa à liberdade de cada burguês comandar o próprio dinheiro. Mas esse é um objeto governamental representante de centralização política. Na Inglaterra revolucionária do século XVII, o dinheiro continuou representando a centralização política em torno do rei, mesmo com este controlado pelo Parlamento. Foi o que obrigou e até facilitou a adoção de controles centrais pelas próprias instituições civis, talvez um paradoxo. Em rigor, o desejo burguês de liberdade monetária absoluta era de realização impossível, e assim continua. Porém, os controles centrais sobre as atividades burguesas no comércio exterior tiveram uma significativa contrapartida. Como os gastos reais podiam exceder o que o rei arrecadasse, como sempre excederam, era preciso cobrir os excessos com algo a mais do que o produto da arrecadação de impostos; era preciso cobri-los com empréstimos, o que significava endividar o rei. A solução para viabilizar, controlar e administrar esse endividamento foi a criação do Banco da Inglaterra em 1694 com funções de banco central . Foi como a consciência política burguesa mais uma vez se manifestou. Esse banco foi criado a partir de subscrição pública feita com a intenção de emprestar dinheiro ao governo em troca do privilégio, autorizado pelo Parlamento, de emitir títulos de dívida, que foram sujeitos a limites (Kock, 1955, p.11). Suas demais funções típicas de banco central viriam com o tempo, bem como o aproveitamento de seu modelo em outros países. Mas o seu significado político não parece ter sido declarado e é o que nos importa aqui. Diferente da criação de limites de intervenção governamental por meio da Bill of Rights, as funções desse banco central, com destaque para o controle da dívida pública e da emissão de dinheiro, significou a limitação do uso do principal meio de comando governamental. Com outras palavras: criou-se no capitalismo inglês uma instituição com a finalidade de limitar o governo não exatamente estreitando o espaço político de suas ações interventoras, mas controlando a mais usada das suas armas, em rigor, o seu principal poder executivo. Um de seus resultados foi o aparecimento de um problema de supremacia política que hoje existe onde quer que haja algum banco com as suas funções.
A ortodoxia é fundamental para não confundir análises concretas distintas. Não confunda ortodoxia com dogmatismo ou teoricismo. Dito isso, a MMT não é uma teoria elaborada que parta da compreensão do dinheiro em Marx. Agora tem gente que quer combinar MMT e a teoria do valor em Marx, pois querem se afirmar marxistas ao assumir a MMT. Não passa de engodo. Não há interesse teórico para um marxista se a MMT teoriza bem ou mal sobre o dinheiro, mas ele se preocupa sim se a MMT aponta para a superação do capitalismo com base na crítica do capitalismo. Mas a MMT defende a forma do dinheiro, portanto oculta parte da compreensão do que seja o dinheiro. Portanto, a MMT está totalmente inserida na lógica reprodutiva do capital, talvez mais perfeitamente do que qualquer das teorias neoclássicas. A crítica das diversas concepções neokeynesianas é tão urgente para os marxistas quanto a crítica das teorias liberais. Não conheço ninguém que faça mais confusão teórica com leitura de O Capital de Marx do que o Humberto.
Esse termo está na teoria Marxista? É um termo usado na ciência política? Fiquei curios, mas não consegui nem encontrar a etimologia correta nas pesquisas @@HumbertoMatos
Apesar de não concordar com a MMT na afirmação de que o curso forçado é determinado pela necessidade de pagamento de tributos, não vejo incompatibilidade alguma entre a MMT e a TVT.
Ooo, Humberto? Tá discordando do Marx!? 😊 Bom, quando ele estava lá, o Keynes ainda não tinha difundido as ideias dele. E MMT é um Keynesianismo 2.0, não é não? E tem essa "categoria" nova aí: "valuta". Dá pra descrevê-la com Materialismo Histórico?
Achei muito fracos os argumentos, porque Marx explica o processo de surgimento do dinheiro muito bem, então em vez de uma crítica genérica a Marx deveria desmontar o que Marx coloca, não falar que ele está errado mas porque ele está errado, essa afirmação esquece que há consequências, se o dinheiro é estabelecido pelo estado ele não surge pela generalização de uma mercadoria importante em dada sociedade, também as relações de troca, que são importantes para ditar a dinâmica do valor e sua tendência ao preço devem ser deixadas de lado, pois não é o valor da mercadoria geral em seus processos de troca que a estabelece como dinheiro, também a questão da crise desaba já que o valor ainda que não seja preço, não é qualquer coisa... É algo concreto que está intimamente ligado a lógica de crise do capital, pela superprodução de capitais... Enfim achei fraca, acho que sua posição em favor da mmt forçou tirar respostas da cartola, acho que o autor citado pode ter se apressado em falar na dinâmica de inflação, mas essa se explica indiretamente pela questão da circulação, um desequilíbrio entre possibilidade de investimentos seguros e a quantidade de capitais no momento da crise, que leva à valorização de certos ativos e a desvalorização da moeda, a isso a mmt não dá resposta, apenas promessas, outra questão é sobre a "soberanidade" da moeda, basicamente só poucas moedas seriam soberanas ao ponto da mmt ter validade, certamente não moedas de países como o Brasil... (De fato só moedas que são aceitas para pagamentos internacionais)
Pergunta para ele quem veio primeiro o ovo ou a galinha,lógico que impostos são gastos,tanto é que a lei de responsabilidade fiscal proibe o Bacen monetizar a dívida pública ou seja o Bacen não pode financiar o Tesouro,ele no máximo pode financiar o Tesouro indiretamente ao comprar titulos do Tesouro no mercado aberto e dai por que Lula e o PT são contra a independência do Bacen,por saberem que o presidente do Bacen for independente pode barrar a gastanca de qualquer governante.
@@guiavurto O Humberto foi extremamente arrogante com o Gustavo nas redes sociais, achei muito infantil. Isso só confirma o rigor do Gustavo e o despreparo do Humberto...simples
@@jeann2946 A minha crítica foi bem pontual: esse vídeo aqui em questão não foi uma resposta ao Gustavo porque antecede a crítica que o Gustavo fez ao Humberto. No mais, também não gostei do modo como o Humberto tratou essa discussão.
Leia mais algumas vezes o artigo pois estás afirmando o que não está no ARTIGO, não entendeste nada. É muita petulância contestar Michael Roberts, é uma piada chegando a dizer que Marx estava errado.
Humberto para criticar os ancaps: SEM ESTADO NÃO TEM DINHEIRO!!!! Humberto para defender a MMT: O valor é produzido pela sociedade, logo o poder do estado em criar dinheiro é inútil sem o poder de alterar a produção. Ou você defende uma coisa ou outra, ou vc abraça a ideia de que o dinheiro estatal é desnecessário, substituível e utilizado pela classe dominante como ferramenta de controle e exploração ou vc defende o dinheiro estatal.
Até onde eu já ouvi falar... o VALOR é subjetivo. Essa é a tese vigente no mainstream econômico. Os neoliberais acreditam que o valor é SUBJETIVO. Valor está nos olhos de quem vê. Não é o GOVERNO quem determina valor e não é o TRABALHO que determina o valor de algo. (Se vc passar horas trabalhando em um bolo de terra mas ninguém quer comê-lo, seu trabalho não vale de nada). Sendo o valor SUBJETIVO...um youtuber pode ganhar milhões de reais ao passo que um professor pode ganhar uma mixaria. Uma "obra de arte" pode custar milhões de reais enquanto outro produto pode valer uma merreca. Sendo o dinheiro um PRODUTO...quanto mais raro, maior valor o dinheiro tem. Quanto mais dinheiro, menos valor ele tem(INFLAÇÃO) Me corrijam se eu estiver errado.
Nome O valor é determinante do preço, atua sobre ele como tendência. É a substância de valor social. O preço é sua expressão em unidades monetárias. Atuam sobre o valor as oscilações de mercado como contra-tendências na formação do preço. É aí que atua a lei de marcado, sobre os preços que ao cabo perseguem o valor uma vez que o desequilíbrio é estrutural na economia capitalista. O que há de mais próximo do valor em termos de preço, são os custos de produção porém, ainda assim, é preciso realizar a transformação para distinguir o valor do preço. Enfim, o valor é determinante do preço, porém, trocamos as mercadorias no mercado por seus preços não seus valores uma vez que a lei de mercado atua sobre tal determinação contra-tendencialmente.
@@HumbertoMatos Não ficou claro pra mim a sua explicação. Deu a entender que o valor sendo subjetivo então o preço é " sua expressão em unidades monetárias"(objetivo). Logo, ambos são a mesma coisa na prática. Me corrija se eu estiver errado.
Suas explicações são d+.. Parabéns e muito obrigado!
Olá Humberto! Gostaria de lhe parabenizar pelo material de expecional qualidade e de imensa valia que tu nos disponibiliza, ainda mais com a tamanha pertinência dos temas discutidos. No entanto, eu gostaria de tecer alguns comentários quanto ao presente tema, especificamente em alguns itens que, ao meu ver, demandam maior trato teórico.
Em primeiro lugar, é necessário aclarar a distinção do conceito de dinheiro (equivalente universal de valor) e o conceito de moeda (signo de valor), uma vez que boa parte das imprecisões presentes neste debate se devem à uma certa neglicência da distinção teórica destes conceitos.
Na teoria do Marx, o dinheiro têm de ser necessariamente uma mercadoria, eleita esponteanemente no processo de trocas mercantis. Com o desdobramento do processo de troca, uma mercadoria se destaca e assume a forma de equivalente universal de valor, no sentido de que as demais expressam relativamente seus próprios valores nela. Isto implica dizer que todas as mercadorias (com exceção ao próprio dinheiro) facultam a propriedade de serem medidas de valor ao dinheiro, que faz dela seu monopólio social e, assim, torna-se equivalente universal (ou geral) de valor. E como bem frisado por Marx, a mercadoria que se cristalizou na forma de equivalente universal foi o ouro.
O conceito de moeda, por sua vez, expressa a tendência do dinheiro se desprender de sua função de meio de circulação. Já na época do Marx, o ouro vinha sendo crescemente substituído no âmbito da circulação por meros signos, isso sem contar que o desdobramento do dinheiro na função de meio de pagamento pressupõe sua retirada da circulação (No Livro III, Marx detalha o processo de retirada do ouro de sua função de meio de circulação e sua correspondente transubstanciação em meio de pagamento através da constitução do sistema de crédito, cujo representante máximo é a letra de câmbio).
Por isso, faz-se necessário pincelar as características distintivas das diversas funções que o dinheiro desempenha. O dinheiro, enquanto equivalente geral de valor, apenas se transforma em meio de circulação a partir do estabelecimento do padrão de preços, mediante a oficialização do Estado. Ou seja, existe um processo extremamente complexo que antecede a esta trama, e que surge ainda na forma mais rudimentar da economia mercantil (a chamada troca direta de produtos).
Claus Germer, por exemplo, demonstra que a análise de Marx se pauta no pressuposto de que as funções do dinheiro expressam a evolução das funções econômicas, além de representarem formas de intercâmbio progressivamente mais desenvolvidas. O dinheiro é uma mercadoria especial, que se exclui das demais enquanto equivalente geral de valor, no sentido que esta passa a expressar valor em estado puro, autonomizado. Portanto, a primeira função do dinheiro é ser medida de valor, uma vez que todas as mercadorias expressam seus valores nele (enquanto representações de trabalho social), e relegam a propriedade de serem medidas de valor à mercadoria específica que se converte em dinheiro (o ouro).
A partir do desdobramento histórico do processo de trocas, o dinheiro (ouro) passa a servir como unidade de medida, constituindo-se como medida dos preços. Por um lado, enquanto medida de valor, o dinheiro é expressão de trabalho social, portanto, de condições econômicas objetivas; por outro, o padrão de preços que se constitui é puramente convencional, cujo estabelecimento é efetuado pelo Estado.
De fato, sem o Estado, o dinheiro não poderia se constituir enquanto unidade de medida de preços, dada a sua natureza puramente convencional. É aí que o dinheiro se desdobra em meio de circulação, dado que o material monetário surge no processo de trocas, mas apenas se converte de modo pleno em meio circulante através de sua imposição pelo Estado.
Portanto, a economia mercantil simples (em seu estado embrionário) antecede o Estado ( existem fartas evidências históricas de que diversas mercadorias desempenharam a função de equivalente universal de valor mesmo sem um aparato estatal) muito embora esta apenas se constitua de modo definitivo por meio da introdução do mesmo.
Compreender o surgimento do Estado, enquanto pressuposto do surgimento dos mercados (ao meu ver), reflete um erro muito comum incorrido por parcela considerável dos autores marxistas que se debruçaram no tema, que é o de derivar do dinheiro somente a sua função enquanto meio de circulação (como faz Harvey, que afirma erroneamente que o valor de uso do dinheiro - mercadoria-dinheiro - é de facilitar as trocas e de servir enquanto meio de circulação, ignorando por completo as determinações subsequentes, nas quais o dinheiro é convertido em meio de pagamento, e de entesouramento, p. ex., bem como as determinações que antecedem este processo de conversão do dinheiro em meio de circulação, e que conferem à uma mercadoria específica, o caráter de equivalente universal de valor).
Não se trata, portanto, de mero preciosismo teórico. Conceber o dinheiro (equivalente universal de valor) como uma criação do Estado, é reduzi-lo à sua função de meio de circulação. O Estado pode influir no processo de produção de valor e da sua circulação na forma de equivalente geral de valor (dinheiro), mas ele próprio não criar ou descriar valor. Atentando-se ao significado teórico de dinheiro cunhado por Marx, segue-se que o Estado não pode criar dinheiro. Por tais motivos, compreendo a TVT (tal como desenvolvida por Marx) e a MMT como arcabouços completamente incompatíveis do ponto de vista teórico.
Evidentemente, a profundidade deste debate é muito maior do aqui foi esboçado. No mais, fico muito feliz pela devida atenção à presente temática, apesar das respectivas divergências.
Saudações!
O debate é bom sim. Eu concordo com você quando distingue dinheiro e moeda. Eu não entrei nessa seara porque o vídeo já ficou longo e a dinâmica do YT não prioriza vídeos longos. Entretanto, nas entrelinhas, procurei demonstrar exatamente isso quando disse que o Estado cria o meio circulante e não o dinheiro identificado por Marx. O dinheiro seria o melhor representante do Capital justamente por representar medida de valor. O que eu disse é que o valor na TVT de Marx advém de uma relação social estabelecida que faz do trabalho socialmente necessário o construtor do valor social. Nesse sentido meu argumento é: o Estado não cria o dinheiro, cria a valuta e estabelece a relação social. Do mercado criado a partir do Estado se cria o conjunto de relações de valora o valor e da aí, ao dinheiro, tais propriedades.
Quase não tenho discordâncias a respeito do teu texto. Minha discordância é a respeito da haver mercados e valuta fazendo as vezes de meio de troca antes do Estado. Discordo totalmente da existência de evidências para tal afirmação. Creio que o que tínhamos eram "moedas sociais", ou seja, instrumentos que não exerciam função econômica, apenas reorganizavam aspectos da vida social. Só há dinheiro exercendo exclusivamente funções econômicas depois do advento do Estado, aliás, as evidências dão conta que ambos surgiram juntos, o dinheiro como uma forma de manter materialmente as tropas que sustentavam o poder do Estado.
Sendo assim, não vejo incompatibilidade alguma uma vez que todo o circuito do capital existe tal qual Marx descreveu, uma vez que o Estado é, como ele descreveu, o estabelecimento da classe dominante como organização de controle, uma vez que só o trabalho socialmente necessário produz valor, uma vez que o dinheiro é equivalente geral e melhor representante do Capital, além de se comportar como uma mercadoria com características especiais.
Eu continuo não compreendendo qualquer incompatibilidade e continuo achando dogmatismo uma vez que Marx partiu do que tinha a época e como materialista, não poderia concluir diferente. A questão é que com base na antropologia e arqueologia, temos informações que dão conta de algo diferente do que Marx supôs a partir da economia clássica, como a versão do dinheiro aparecendo da espontaneidade do mercado.
Eu estou propondo a TVT como teoria do valor para a MMT.
Jonathan Lima E?
@@HumbertoMatos Compreendo, Humberto. Imaginei que não teríamos grandes divergências no que diz respeito à distinção teórica dos conceitos, mas discordo por completo da afirmação de que inexistem evidências históricas e empíricas que respaldem a tese do dinheiro enquanto uma mercadoria (por essência).
Veja, o dinheiro não é uma mercadoria por mera conveniência, mas sim, por ser o resultado de um processo de generalização das trocas. Ao mesmo tempo em que você diz que Marx está certo em conceber o dinheiro como uma mercadoria, tu afirma que ele errou por enxergar os mercados como formações sociais que precedem o Estado. Ora, o dinheiro é (em sua essência) uma mercadoria, por ter emergido espontaneamente a partir do desenvolvimento progressivo das relações de troca. Se o Estado emite dinheiro, é absolutamente indiferente este ser uma mercadoria ou não, uma vez que Marx jamais concebeu o dinheiro como uma mercadoria por mera casualidade.
Não tenho ideia do que você compreende por "moeda social". Se se refere à suposição de que o dinheiro não desempenhou funções econômicas (mas reorganização de aspectos da vida social, o que considero uma falsa distinção) antes da constituição de um ente estatal, você está equivocado. Como já expus anteriormente, uma mercadoria especial se destaca das demais e se generaliza enquanto medida de valor, tornando-se assim, equivalente universal de valor. Mesmo sem o Estado, o dinheiro desempenha a função econômica de medida de valor (que é justamente a função que converte a mercadoria específica em equivalente universal de valor!). Não é, portanto, conceitualmente (e nem historicamente) correto afirmar que o dinheiro não desempenhava funções econômicas relevantes em arranjos sociais precedentes ao Estado.
Além disso, é necessário compreender que a autonomização do valor constitui um processo de caráter gradual. O desenvolvimento da economia mercantil constitui o desenvolvimento de uma totalidade, sendo o próprio dinheiro apenas uma etapa do desenvolvimento da forma-valor. É claro que a partir do desenvolvimento de novas relações sociais de produção, surgem novas funções econômicas, tais como: meio de entesouramento, meio de pagamento e dinheiro mundial. É verdadeiro que a conversão definitiva do dinheiro em meio de circulação (e, portanto, a plena constituição da economia mercantil simples) apenas ocorre por meio da imposição do padrão de preços, enquanto criação convencional do Estado. Mas isto apenas expressa o coroamento de um processo de desenvolvimento da economia mercantil simples, e que reflete uma das etapas de autonomização do valor, processo este que se inicia ainda na troca direta de produtos.
A verdade é que a teoria do dinheiro formulada por Marx, segue até hoje, incompreendida por parcela considerável dos marxistas. Em sua teoria, Marx estabeleceu que o dinheiro tem de ser uma mercadoria por necessidade lógica, e não por mera casualidade. Por último, as tão citadas evidências antropológicas nada mais fazem que chover no molhado. Se busca demonstrar que a economia mercantil simples nunca teria existido em seu estado embrionário (troca direta de produtos), mas tal proposição apenas se sustenta por conta da confusão conceitual entre dinheiro e imposto, tão cara aos autores que nelas se sustentaram (Graeber, por exemplo).
Não é a toa, portanto, que boa parte dos autores marxistas importam/importaram elementos de paradigmas teóricos concorrentes (destaca-se o pós-keynesianismo), e pouco ou nada têm a dizer com base nos alicerces teóricos postulados por Marx. Afinal, o dinheiro de fato deixou de ser uma mercadoria, mesmo no capitalismo contemporâneo?
Parabéns camarada Humberto. Tamanha qualidade deste vídeo, que poderia ser objeto de discussões de pós-graduação das ciências humanas.
Humberto, camarada, você sempre arregaça em vídeos sobre economia. Parabéns.
pena que erra em tudo kkkk
O trabalhador produz a Mais-valor, o Estado produz o Mais-dinheiro. Sem o Mais-dinheiro a Mais-valia não se realiza na forma capitalista. Dinheiro não é uma mercadoria, é uma unidade de conta de créditos e débitos, uma unidade contábil, uma reinvidicação sobre a riqueza produzida e uma antecipação de impostos. Como unidade contábil a moeda é completamente arbitrária e estabelecida pelo Estado. O imposto antecede a moeda, era pago originalmente em grãos, gado, bens ou trabalho. A necessidade de pagar impostos forçou os camponeses a produzirem excedentes.
@Eric Moretti Só na tua cabeça. Que lucro se não havia Dinheiro?
@Eric Moretti Ouro e Prata são mercadorias, podiam ser usadas como dinheiro, mas nem sempre, pois a forma mais comum era o crédito com pagamento em grãos na colheita. Ouro e prata tem um problema, precisam ser testados para se garantir a pureza, além disso as jazidas eram controladas pelos governantes. As moedas metálicas foram introduzidas por volta de 600 A.C. através de cunhagens feitas e distribuidas pelos Estados.
Quanto a sua discordância, ela é irrelevante. Estamos falando de dados científicos amparados por pesquisas arqueológicas e antropológicas, bem como extensa documentação histórica.
@Eric Moretti A divisão do trabalho exige uma sociedade organizada hierarquicamente, portanto Estado.
@Eric Moretti Não meu filho, meu comentário está baseado nas fontes do antropólogo econômico David Graeber e nas pesquisas e aulas do professor Michael Hudson. Por exemplo, no livro Dívida - os primeiros 5 mil anos, do professor David Graeber, tem mais de 50 páginas de notas bibliográficas e 37 páginas de fontes publicadas.
"dinheiro não é uma mercadoria" sim, você pode estar certo e Marx errado
Por ser imaterial e invisível, o valor requer uma representação material. Essa representação material é o dinheiro. O dinheiro é uma forma de aparência tangível, bem como um símbolo e uma representação da imaterialidade do valor social. Mas, como acontece com todas formas de representação, há uma lacuna entre representação e a realidade social que ela tenta representar.
Videozão, Humberto! Parabéns
Na real, vídeo do ano!
Excelente vídeo. Humberto, sua capacidade de síntese é muito boa.
Eu não entendi muito bem essa tal valuta. O Estado pega parte do valor da produção?
Sua didática é incrível Humberto
Gostei muito! Tive dificuldades por causa desses termos complicados da economia, mas ainda assim consegui compreender. Obrigada!
MMT falacias e mais falácias.O rico(Amigo dos politicos ou especulador) fica cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre.
Acho que os limites desse debate é a falta de precisão das categorias discutidas.
Marx parte dos pressupostos da Economia Política clássica para fazer sua crítica, desnudando, logicamente, seu irrealismo idealista. Portanto, o mundo de produtores individuais que trocam seus excedentes entre si em relações mercantis privadas, das quais o dinheiro brotaria espontaneamente de modo necessário para que esse circuito sobrevivesse, é uma fantasia liberal.
Contudo, em formações sociais pré-capitalistas diversas, quando houve situações de perenidade de certas trocas entre diferentes grupos, algumas mercadorias acabaram sendo convencionadas como equivalente geral, adquirindo a forma de dinheiro. Desse modo, se há evidências arqueológicas e históricas de que formações sociais pré-capitalistas sem Estado - o qual, para algumas correntes marxistas, como os derivacionistas alemães ou regulacionisras franceses, não teria existido até o feudalismo - tinham trocas marginais com razoável perenidade entre alguns grupos, então houveram mercadorias com forma de equivalente geral, forma dinheiro, sem o ente estatal.
Não obstante, a forma equivalente geral do valor, enquanto dinheiro mercadoria, tem as funções de meio de compra/circulação e pagamento. A função de compra/circulação é a mais intrínseca às relações mercantis propriamente ditas, mais grudadas às trocas, ou seja, é a que mais faz do dinheiro uma mercadoria de equivalente geral. Porém, a função pagamento, por possibilitar um distanciamento temporal entre o cumprimento dos deveres jurídicos entre as partes de uma transação, quando alguém aliena sua mercadoria a outrem aceitando receber a contrapartida depois, também possibilita circulação não mercantil da riqueza, como é a tributação das diferentes formas de ente político dominante nos diferentes tipos de formações sociais na história. Nos modos de produção das sociedades de classes pré-capitalistas, como escravismo, modo de produção asiático e feudalismo, por ser a tributação uma das formas proeminentes de exploração do excedente da riqueza social, a função pagamento do dinheiro foi predominante à função de compra/circulação, pois as trocas eram marginais (embora a função compra/troca tenderia a ser proeminente no dinheiro dos modos de produção das sociedades sem classes mesmo nelas as trocas também serem marginais, pois não havendo exploração o dinheiro só poderia ser mesmo facilitador das trocas entre diferentes grupos e não tributo).
Então, penso ser correto diferenciar dinheiro de moeda antes do capitalismo em sua fase superior monopolista, o imperialismo. Isso porque a moeda, até meados do capitalismo ainda concorrencial, tenderia ser mais o meio de exploração não mercantil do excedente da riqueza social, como os tributos e usuraria senhorial, do que mercadoria de expressão do valor de todas as outras mercadorias, o que, por sua vez, caberia ao dinheiro. Diante disso, quando o capitalismo se desenvolveu ao ponto de potencialmente universalizar as relações mercantis, as tornando dominantes na produção e reprodução social da vida, ao mesmo tempo que consolidou o Estado para os fins desse sistema chegando à fase monopolista do imperialismo, na qual a taxa de lucro médio passa a não ser mais suficiente, e o lucro máximo exige complementos à exploração do processo de valorização do valor do trabalho que lhe extrai a mais-valia, utilizando preços monopolicos, impostos, dívida emercado cambial dos Estados para pagar salários relativos com menos valor do que a força de trabalho correspondente, moeda e dinheiro passam a ser a mesma coisa completamente, dando unidade predominante entre as funções de compra e pagamento.
Conclui-se disso que, antes do capitalismo, os meios de tributação e usuraria correspondiam à moeda e seguiam a lógica da MMT, e as mercadorias de facilitação ocasionais das trocas marginais eram dinheiro, que poderia ser ou não a moeda da tributação e usuraria. Com o capitalismo, a dominação da vida pelas relações mercantis e pelo Estado funde por completo dinheiro e moeda e as políticas fiscais e monetárias da macroeconomia passam a ser ora parte dos meios de exploração do trabalho para obter superlucros, pra recuos reformistas para evitar revoluções socialistas, conforme a correlação de forças entre trabalhadores e capitalistas.
Do ponto de vista técnico das mecânicas monetárias, a MMT é muito boa, mas suas promessas são irrealizáveis onde não há autosuficiência o bastante para resistir as restrições externas.
Ótima explicação e análise!
Importante lembrar que, mesmo numa posição crítica em relação à Economia Política e ao capitalismo, Marx contribuiu para consolidar a representação civil do dinheiro, isto é, a representação despolitizada do dinheiro, ao dizer que sua origem estava na mercadoria. Além disso, por princípios filosóficos, sob concepção materialista das sociedades, Marx aceitou a Economia Política como a ciência que se referia ao que Hegel chamou de sistema de carências humanas, dando crédito à idéia de realidade ou ordem econômica.
Por caminhos filosóficos materialistas, Marx concluiu que na produção social de suas vidas os homens contraem relações de produção necessárias e independentes de suas vontades (Marx, 1977, 301), e concluiu também que a produção social, não só a da subsistência individual dos homens, é condição necessária para a reprodução material das sociedades ou modos de produção como um todo (Marx, 1980). Assim, deixou em aberto a possibilidade de se concluir que a produção das condições materiais de existência em geral, por ser produção necessária, seria o maior imperativo sobre as sociedades e sobre os homens.
E nada parece mais convincente e irremediável que essa concepção materialista de Marx. Porém, mesmo concordando que sejam necessidades, pois não se vive sem condições materiais de existência, e que a reprodução material das sociedades como um todo prevalece sobre a necessidade de subsistência individual dos homens, haja vista o que diz n’O Capital, especialmente a respeito de exército industrial de reserva, é preciso dizer que o funcionamento monetário prevalece sobre ambas. As ordens monetárias dominaram todas as necessidades: dominaram a classe operária; dominaram as próprias necessidades de reprodução material das sociedades e impuseram as suas: as suas necessidades absolutamente monetárias, típicas necessidades de conservação do comando instituído e dos seus meios de comandar, representantes da violência legítima, consentida.
Gosto de seus vídeos de economia. É o diferencial do seu canal.
E o mestrado?
sempre tive curiosidade sobre a TEORIA MONETÁRIA MODERNA
otimo video, camarada!
Só ganhamos com este debate esclarecido. Parabéns!
Professor, me corrija se estiver errada . Criar emprego é mais producente do que criar valuta( dinheiro ) pois a criação de empregos até pelo estado melhoraria a economia , mesmo tendo o estado ( governo ) tendo que imprimir moeda ( MMT).
O que produz valor é o trabalho. Neste caso o aumento de moeda emitida pelo Estado na sociedade pode estimular a produção de valor através do incentivo/investimento em produção, criando cenário assim para o desempenho de trabalho e consequentemente produção de valor.
@@carlpissatto1198foi exatamente minha pergunta quase afirmação.
Obrigada
Mas historicamente falando, em que momento se dá essa imposição do valor ao dinheiro? porque se considerar que depende que formas produtivas troquem seu valor (produção) pelo dinheiro, o impositor desse dinheiro não tem barganha se não um objeto sem valor real (moeda). E se o estado pode produzir indiscriminadamente seu dinheiro, porque existem contas e despesas baseadas no tanto de arrecadação de impostos? Acho estranho considerar que o dinheiro pode ser simplesmente impresso, porque o trabalho e o fruto dele não pode ser realizado da mesma forma, entendo que o dinheiro se materializa a partir do valor criado com o trabalho e usado como moeda para transferir o direito ao beneficio da produção, mas se o Estado produz a qualquer momento, ele não depende de considerar que existem limitações para fortalecer sua própria imposição, então porque ele mesmo se limita a ter poder "infinito"?
Humberto, pode-se dizer que a MMT se une em aplicação à teoria da Mais Valia relativa quando onera o patrimônio e diminui sobre o consumo? Porque se estaria tirando dinheiro do mercado privado que iria para a renda sobre o patrimônio e aumentando o dinheiro para a circulação entre trabalhadores e crescer a renda sobre o seu trabalho. É uma contenção ao movimento próprio do capitalismo, especialmente liberal, em que a acumulação de capital e da renda sobre esse capital acumulado cresce em detrimento da renda do trabalho da classe proletária, que depende da venda de sua mão de obra.
Como o superávit, déficit e tributação não são necessariamente bons ou ruins, mas servem apenas à estabilização da moeda, poderiam servir como instrumentos para a redistribuição de renda - e, consequentemente, das riquezas!
No caso, parece, ao meu entendimento, que a privatização da previdência, da saúde, educação, sucateamento dos direitos trabalhistas, etc., pela MMT, não seriam propriamente boas ou ruins também, mas seu entendimento depende da conjugação com a teoria do Mais Valor (Relativo, especialmente), para que entendamos como se integra com a perspectiva do sistema de produção capitalista, e como serviria a uma distorção das rendas próprio da propriedade privada dos meios de produção.
Também, não seria contraditória a MMT com a Teoria do Valor de Marx, pois a distribuição do "dinheiro" pelo Estado estaria simplesmente fazria parte do universo de relações que estabelecem o tempo de produção médio da sociedade e dos trabalho abstrato e concreto, que produzem o valor. Sendo orientado e produzindo um valor de uso e valor de troca. Ou seja, a troca do dinheiro por serviços e a tributação estariam situados dentro desse universo, até porque os serviços estatais, a própria produção do dinheiro e a tributação são atividades humanas; trabalho em si.
Humberto, excelente vídeo e to contigo total na crítica aos marxismos dogmáticos que perdem a oportunidade de se enriquecerem com novas abordagens. Mas se me permites, por volta do 14:55 em diante, vc toca num ponto sintomático e que tem a ver mesmo com o cerne da sua (e também da minha) crítica ao Marx. Vc diz que o Estado cria "a relação social que faz do seu ticket o representante das relações de trabalho e troca". Pra mim o Estado não cria relação social alguma, é resultado delas ainda que ainda em formação atue é verdade sobre elas. Ou, o Estado (nacional, burguês) é muito mais o resultado de toda uma transição/revolução nas relações sociais que, e aí o Marx tem o seu momento de gênio, tornam os trabalhos humanos passíveis de equiparação. A questão é que, mesmo antes de formatado total, o Estado já vá atuando - inclusive nisso de tornar os trabalhos equiparáveis! E vá atuando também em outras áreas, como pra fazer valer a moeda que ele produz uma forte candidata, em acordo com as moedas privadas dos bancos e a moeda mercadoria (metais principalmente) que era meio uma moeda mundial (hegemônica na fase do capitalismo comercial), a moeda nacional por excelência. Moeda esta que vai ser fundamental pra fazer valer: i) internamente, uma especialização regional naquilo que efetivamente cada região produz melhor (portanto, com menor valor!), o que vai fazer quebrar n produtores; e ii) externamente, uma competição que permita aqui e ali , proteger a indústria local. Por isso mesmo, travar as moedas no padrão ouro vai e volta nas histórias monetárias das nações. O legal das histórias do dinheiro é que esses momentos estão todos ali. É louco ver como o esfacelamento do poder no feudalismo bate com as mil e uma moedas locais (convivendo com restos de circulação da moeda romana até!) e a moeda nacional é uma exigência de articulação de um mercado nacional. Tudo anda junto! Ao tempo em que se vai abolindo aos poucos a servidão, em que se vai dependendo menos do ganho baseado no roubo (o comprar barato pra vender caro), em que se vai afastando do poder a propriedade imóvel da terra (bem como vai se evitando que chegue ao poder os camponeses que um dia viveram apenas dela), vai se construindo um outro Estado, burguês. Hoje, vemos a briga pela hegemonia mundial de moedas fortes nacionais, vemos o nascimento de moedas privadas mundiais (as cripto do bem e do mal), e por isso mesmo urge que nós marxistas ajudemos com tudo o que sabemos sobre o dinheiro como forma do valor, forma inclusive que tende a se autonomizar no processo de valorização financeira, mas sabendo incorporar as nossas análises as boas novidades, como fazermos auto-críticas quanto a problemas antigos. E aqui mora o meu ponto, eu sou um pouco mais duro do que vc na minha crítica ao Marx, porque pra mim não é que ele tenha se fixado no D-mercadoria (ouro) e por isso não viu o D-estatal, mas é que ele deixa o Estado de fora das análises formativas do capital. Pras formações de cada capitalismo nacional ele bem sabe que ele teria de entrar. Mas, a questão é, dá pra pensar, no nível abstrato mesmo, M-V-D-K, sem um E aí junto?
Dinheiro é um objeto político, representante da violência legítima. Meio de comando quando usado ou direito quando guardado. Em outras palavras, dinheiro é poder executivo, é o principal meio de governo.
O liberalismo trata de questão relativa à liberdade de cada burguês comandar o próprio dinheiro. Mas esse é um objeto governamental representante de centralização política. Na Inglaterra revolucionária do século XVII, o dinheiro continuou representando a centralização política em torno do rei, mesmo com este controlado pelo Parlamento. Foi o que obrigou e até facilitou a adoção de controles centrais pelas próprias instituições civis, talvez um paradoxo. Em rigor, o desejo burguês de liberdade monetária absoluta era de realização impossível, e assim continua.
Porém, os controles centrais sobre as atividades burguesas no comércio exterior tiveram uma significativa contrapartida. Como os gastos reais podiam exceder o que o rei arrecadasse, como sempre excederam, era preciso cobrir os excessos com algo a mais do que o produto da arrecadação de impostos; era preciso cobri-los com empréstimos, o que significava endividar o rei. A solução para viabilizar, controlar e administrar esse endividamento foi a criação do Banco da Inglaterra em 1694 com funções de banco central . Foi como a consciência política burguesa mais uma vez se manifestou.
Esse banco foi criado a partir de subscrição pública feita com a intenção de emprestar dinheiro ao governo em troca do privilégio, autorizado pelo Parlamento, de emitir títulos de dívida, que foram sujeitos a limites (Kock, 1955, p.11). Suas demais funções típicas de banco central viriam com o tempo, bem como o aproveitamento de seu modelo em outros países. Mas o seu significado político não parece ter sido declarado e é o que nos importa aqui.
Diferente da criação de limites de intervenção governamental por meio da Bill of Rights, as funções desse banco central, com destaque para o controle da dívida pública e da emissão de dinheiro, significou a limitação do uso do principal meio de comando governamental. Com outras palavras: criou-se no capitalismo inglês uma instituição com a finalidade de limitar o governo não exatamente estreitando o espaço político de suas ações interventoras, mas controlando a mais usada das suas armas, em rigor, o seu principal poder executivo. Um de seus resultados foi o aparecimento de um problema de supremacia política que hoje existe onde quer que haja algum banco com as suas funções.
A ortodoxia é fundamental para não confundir análises concretas distintas. Não confunda ortodoxia com dogmatismo ou teoricismo. Dito isso, a MMT não é uma teoria elaborada que parta da compreensão do dinheiro em Marx. Agora tem gente que quer combinar MMT e a teoria do valor em Marx, pois querem se afirmar marxistas ao assumir a MMT. Não passa de engodo. Não há interesse teórico para um marxista se a MMT teoriza bem ou mal sobre o dinheiro, mas ele se preocupa sim se a MMT aponta para a superação do capitalismo com base na crítica do capitalismo. Mas a MMT defende a forma do dinheiro, portanto oculta parte da compreensão do que seja o dinheiro. Portanto, a MMT está totalmente inserida na lógica reprodutiva do capital, talvez mais perfeitamente do que qualquer das teorias neoclássicas. A crítica das diversas concepções neokeynesianas é tão urgente para os marxistas quanto a crítica das teorias liberais. Não conheço ninguém que faça mais confusão teórica com leitura de O Capital de Marx do que o Humberto.
Faltou vc ler a parte final de O Capital
Allan Felix 😂😂😂
O que é valuta?
Daniel É o "tiket" que me refiro no vídeo.
Esse termo está na teoria Marxista? É um termo usado na ciência política? Fiquei curios, mas não consegui nem encontrar a etimologia correta nas pesquisas @@HumbertoMatos
Alguém poderia me dizer qual o professor que ele cita no final do vídeo?
Eu me perco nos seus vídeos
Poderia colocar legendas para ficar mais didático para os iniciantes.
Apesar de não concordar com a MMT na afirmação de que o curso forçado é determinado pela necessidade de pagamento de tributos, não vejo incompatibilidade alguma entre a MMT e a TVT.
Ooo, Humberto? Tá discordando do Marx!? 😊 Bom, quando ele estava lá, o Keynes ainda não tinha difundido as ideias dele. E MMT é um Keynesianismo 2.0, não é não? E tem essa "categoria" nova aí: "valuta". Dá pra descrevê-la com Materialismo Histórico?
MMT vem de teorias neo-keynesianas.
Discordar de Marx é tão normal quanto discordar de astrólogo, de alquimista ou outras pseudociências esquizofrênicas.
@@revolucaoculturalnordestin9901 CTRL+P , é isso que é a mmt
@@danielmu22 oi? explica isso ai faz favor
@@fabiotrombini1555 Qual parte das coisas que eu falei você quer explicação?
Algoritimo
Queria ver material dos "ortodoxos" brasileiros que você pôs na imagem; tem vídeos?
Muito bom!
Deu um bug lokasso no video aqui
meu deus....
Pelo engajamento
👏👏👏👏👏👏👏👏🤯🤯🤯
Achei muito fracos os argumentos, porque Marx explica o processo de surgimento do dinheiro muito bem, então em vez de uma crítica genérica a Marx deveria desmontar o que Marx coloca, não falar que ele está errado mas porque ele está errado, essa afirmação esquece que há consequências, se o dinheiro é estabelecido pelo estado ele não surge pela generalização de uma mercadoria importante em dada sociedade, também as relações de troca, que são importantes para ditar a dinâmica do valor e sua tendência ao preço devem ser deixadas de lado, pois não é o valor da mercadoria geral em seus processos de troca que a estabelece como dinheiro, também a questão da crise desaba já que o valor ainda que não seja preço, não é qualquer coisa... É algo concreto que está intimamente ligado a lógica de crise do capital, pela superprodução de capitais... Enfim achei fraca, acho que sua posição em favor da mmt forçou tirar respostas da cartola, acho que o autor citado pode ter se apressado em falar na dinâmica de inflação, mas essa se explica indiretamente pela questão da circulação, um desequilíbrio entre possibilidade de investimentos seguros e a quantidade de capitais no momento da crise, que leva à valorização de certos ativos e a desvalorização da moeda, a isso a mmt não dá resposta, apenas promessas, outra questão é sobre a "soberanidade" da moeda, basicamente só poucas moedas seriam soberanas ao ponto da mmt ter validade, certamente não moedas de países como o Brasil... (De fato só moedas que são aceitas para pagamentos internacionais)
Ótimo.
como assim dinheiro de imposto não é usado pelo governo?? como assim ele destrói???
É isso mesmo, olha o vídeo que está na descrição do último vídeo aqui do Canal.
Pergunta para ele quem veio primeiro o ovo ou a galinha,lógico que impostos são gastos,tanto é que a lei de responsabilidade fiscal proibe o Bacen monetizar a dívida pública ou seja o Bacen não pode financiar o Tesouro,ele no máximo pode financiar o Tesouro indiretamente ao comprar titulos do Tesouro no mercado aberto e dai por que Lula e o PT são contra a independência do Bacen,por saberem que o presidente do Bacen for independente pode barrar a gastanca de qualquer governante.
Poxa camarada, não teve coragem de citar o canal Orientação Marxista? Esse vídeo foi uma resposta a ele. Tá com medo do público ver seu despreparo?
Cara, a crítica do Gustavo ao Humberto foi de umas semanas atrás. Esse vídeo do Humberto foi postado em dezembro do ano passado.
@@guiavurto O Humberto foi extremamente arrogante com o Gustavo nas redes sociais, achei muito infantil. Isso só confirma o rigor do Gustavo e o despreparo do Humberto...simples
@@jeann2946 A minha crítica foi bem pontual: esse vídeo aqui em questão não foi uma resposta ao Gustavo porque antecede a crítica que o Gustavo fez ao Humberto. No mais, também não gostei do modo como o Humberto tratou essa discussão.
Leia mais algumas vezes o artigo pois estás afirmando o que não está no ARTIGO, não entendeste nada. É muita petulância contestar Michael Roberts, é uma piada chegando a dizer que Marx estava errado.
Nota 9.0
TIRANIA MONETÁRIA MODERNA,o governo gasta,o rico fica mais rico e tu fica cada vez mais pobre.
@Baguera Viva o estatismo?
@Baguera Estado só drsdnvolve corrupção e hipocrísia
#Psol50
oa
Humberto para criticar os ancaps: SEM ESTADO NÃO TEM DINHEIRO!!!!
Humberto para defender a MMT: O valor é produzido pela sociedade, logo o poder do estado em criar dinheiro é inútil sem o poder de alterar a produção.
Ou você defende uma coisa ou outra, ou vc abraça a ideia de que o dinheiro estatal é desnecessário, substituível e utilizado pela classe dominante como ferramenta de controle e exploração ou vc defende o dinheiro estatal.
Ancapismo é um delírio quando se trata do fim do estado, não oferece soluções além do mais puro genocídio dos pobres
A criação do dinheiro deve-de ao Estado. Re-fu-ta-do. Próximo...
@@jblp92 prove.
@@jblp92 o monetarismo só existe com um Estado emitindo moeda. Sem isso é só papel.
@@rverasart MMT tbm é um delirio total, nem kenesyanismo 2.0 e mt menos liberalismo podem regir o capitalismo.
Até onde eu já ouvi falar... o VALOR é subjetivo. Essa é a tese vigente no mainstream econômico. Os neoliberais acreditam que o valor é SUBJETIVO.
Valor está nos olhos de quem vê. Não é o GOVERNO quem determina valor e não é o TRABALHO que determina o valor de algo. (Se vc passar horas trabalhando em um bolo de terra mas ninguém quer comê-lo, seu trabalho não vale de nada).
Sendo o valor SUBJETIVO...um youtuber pode ganhar milhões de reais ao passo que um professor pode ganhar uma mixaria. Uma "obra de arte" pode custar milhões de reais enquanto outro produto pode valer uma merreca.
Sendo o dinheiro um PRODUTO...quanto mais raro, maior valor o dinheiro tem.
Quanto mais dinheiro, menos valor ele tem(INFLAÇÃO)
Me corrijam se eu estiver errado.
Nome isso que tu tá falando é preço.
@@HumbertoMatos Qual a diferença de preço e valor ?
Nome O valor é determinante do preço, atua sobre ele como tendência. É a substância de valor social. O preço é sua expressão em unidades monetárias. Atuam sobre o valor as oscilações de mercado como contra-tendências na formação do preço. É aí que atua a lei de marcado, sobre os preços que ao cabo perseguem o valor uma vez que o desequilíbrio é estrutural na economia capitalista. O que há de mais próximo do valor em termos de preço, são os custos de produção porém, ainda assim, é preciso realizar a transformação para distinguir o valor do preço. Enfim, o valor é determinante do preço, porém, trocamos as mercadorias no mercado por seus preços não seus valores uma vez que a lei de mercado atua sobre tal determinação contra-tendencialmente.
@@HumbertoMatos Não ficou claro pra mim a sua explicação. Deu a entender que o valor sendo subjetivo então o preço é " sua expressão em unidades monetárias"(objetivo). Logo, ambos são a mesma coisa na prática. Me corrija se eu estiver errado.
Achar que Marx tem alguma coisa a dizer sobre economia monetaria é o mesmo que perguntar sobre astrofisica a um terraplanista
?
Fale mais.