LIVRO DO ZERO AO ESTADOS UNIDOS
ฝัง
- เผยแพร่เมื่อ 7 ก.พ. 2025
- Capítulo 14 - *A Trilha Silenciosa*
Sentado na Kombi, o barulho das rodas cortando o asfalto irregular misturava-se ao latejar de pensamentos que vinham à minha mente como uma tempestade. O homem ao meu lado, um guatemalteco de aparência cansada, olhou para mim com o mesmo olhar que eu já havia visto muitas vezes: o olhar de quem também busca algo, de quem também sonha com um destino além das fronteiras que o mundo impõe. A certa altura, ele falou em um espanhol apressado, mas fácil de compreender: “Eu também. Se você me ajudar pagando a minha passagem, eu te levo para a cidade da Guatemala e coloco você em um hotel seguro.”
A proposta era simples, mas carregada de promessas. Havia algo na forma como ele falava que me fazia acreditar. Não hesitei. Concordei e paguei a passagem, uma barganha naquele jogo maior que ambos estávamos jogando.
Com a passagem garantida, ele ainda mencionou algo que me trouxe preocupação: meu chip de El Salvador não funcionaria na Guatemala. A rede de telefonia de um país não ultrapassava suas fronteiras de forma amigável, e eu, estrangeiro em solo guatemalteco, não teria a liberdade de comprar um novo chip. “Somente residentes podem comprar um chip telefônico,” ele explicou com um tom resignado. Mas, como se fosse o destino conspirando a meu favor, ele me ofereceu seu documento para que eu conseguisse fazer a compra. O gesto parecia uma mão estendida no meio do caos. Com o documento em mãos, comprei o chip e, finalmente, seguimos rumo à cidade da Guatemala.
Quando o relógio marcava pouco mais das sete da noite, a cidade surgiu à minha frente. E o que vi me surpreendeu. A Guatemala, em sua essência, carregava uma estranha semelhança com São Paulo, minha cidade natal. As ruas largas, os prédios, a pressa dos transeuntes... era como se, de alguma maneira, o destino quisesse me lembrar de onde eu vinha. No entanto, o homem ao meu lado fez questão de me arrancar dessa sensação de familiaridade. “Aqui, você não pode sair. Todos querem tirar proveito de você,” alertou com severidade. A Guatemala, apesar de parecer familiar, tinha suas próprias regras. “Fique longe dos policiais, eles são muito corruptos,” acrescentou, e percebi naquele momento que minha jornada apenas trocava de cenário, mas os perigos permaneciam.
Chegamos ao hotel, um lugar modesto, porém seguro, de acordo com meu novo companheiro. Ao passar pela entrada, notei um ambiente que transpirava um misto de cansaço e esperança. O lobby estava repleto de rostos desconhecidos, imigrantes como eu, cada um carregando seus próprios sonhos e fardos. Cinco ou seis idiomas diferentes flutuavam pelo ar como pequenos fragmentos de histórias inacabadas. Ali, naquele microcosmo de deslocados, percebi que estava no caminho certo. Cada idioma, cada olhar perdido, me dizia que eu não estava sozinho em minha busca.
O recepcionista, um homem jovem e simpático, parecia conhecer bem o roteiro dos recém-chegados. Fui orientado a não sair do hotel por nenhum motivo. Ele havia recebido instruções claras de meu companheiro: se eu quisesse comer, ele próprio compraria a comida para mim. Se eu precisasse de um táxi, ele faria a chamada. “Você deve descansar,” disse, com uma voz tranquila, mas firme. O tom não deixava espaço para questionamentos. O hotel seria minha prisão temporária, mas era uma prisão necessária. O perigo espreitava lá fora, e eu sabia que, naquela noite, qualquer passo em falso poderia custar caro.
A noite caía sobre a cidade, e o barulho das ruas se tornava um eco distante. As luzes dos prédios vizinhos refletiam nas janelas embaçadas do meu quarto, criando sombras que dançavam nas paredes. Lembrei-me das palavras do guatemalteco: "Aqui, todos querem tirar proveito." A cidade, apesar de sua semelhança com São Paulo, trazia consigo um peso diferente, uma ameaça que parecia estar em cada esquina.
Antes de deitar, recebi mais uma orientação. Amanhã de manhã, eu deveria pegar um táxi até o **Terminal Sur**, onde um ônibus me aguardaria para seguir viagem em direção à fronteira entre a Guatemala e o México. A cada passo, a cada nova fronteira, a distância entre mim e os Estados Unidos parecia diminuir, mas o fardo nos ombros apenas crescia. O sono veio pesado, quase como um alívio forçado após dias de inquietude. Mas eu sabia que o dia seguinte traria novos desafios.
Enquanto me preparava para fechar os olhos, ouvi mais uma vez os diferentes idiomas ecoando pelo corredor. Espanhol, inglês, português, línguas que não conhecia. Cada um daqueles sons era uma história viva, uma luta silenciosa por um futuro melhor. Ali, no limiar entre o sono e a vigília, percebi que minha jornada não era solitária. Eu fazia parte de algo maior, um fluxo interminável de pessoas que, assim como eu, ousavam sonhar em terras distantes.
Com esse pensamento, adormeci, sabendo que o dia seguinte poderia ser um divisor de águas.
História da vida soam como esperiencias de tudo, tiramos histórias, até mesmo das dificuldades ,sim ,mas o importante é o objetivo e concerteza depois da tempestade vem o vento 🍃 . Observando sua história e de muitos outros cada vez mais eu estou chegando ao meu destino que concerteza não é o Brasil. Parabéns irmão Deus te abençoe cada vez mais 🙏
Me inspirei com sua trajetória irmão. Espero que dê certo e possamos ler esse livro🙏🏻👏🏻👏🏻👏🏻