Um defeito de cor | Exposição

A memória social é um arcabouço de narrativas coletivas: abriga me- mórias dos acontecimentos, da subjetividade do vivido, dos imaginá- rios dos grupos e de seus entrelaçamentos. É dessa natureza múltipla, no lugar do entre, que a autora Ana Maria Gonçalves navegou, entre mares ora da ficção, ora da pesquisa documental, para a escrita de Um defeito de cor. Essa fabulação instiga-nos a repensar a história e seus discursos: o que inventamos, celebramos ou esquecemos?
É, também, o que permite que lacunas e apagamentos da população negra sejam enfrentados, ao apresentar a profundidade das experiên- cias enredadas pela trajetória de Kehinde, nascida no reino de Daomé, na África, no início do século 19. Escravizada em terras brasileiras, sua epopeia encontra na narrativa absorta em oralidade seu lugar de ela- boração e perpetuação.
A personagem é construída no jogo das identidades - forjadas nas travessias afro-atlânticas - que remetem às rupturas promovidas pelo trauma da escravidão e à dominação cultural a que as negras e os ne- gros foram subjugados ao longo dos séculos.
Ao contar sua história quase centenária, deparamo-nos com referên- cias da cosmogonia africana que nos constituem, mas sobre as quais pouco sabemos. A perspectiva feminina afro-diaspórica reforça o con-
vite para esse reolhar da nossa formação social. Kehinde simboliza o registro de tantas mulheres negras que, sob o período escravagista, vivenciaram e resistiram com inteligência a múltiplas violências.
Em 2024, a obra de Ana Maria Gonçalves chega à maioridade, celebra- da como um dos grandes clássicos da literatura nacional. É objeto de inúmeras pesquisas acadêmicas, tema de samba-enredo e inspiração para a presente exposição, gestada pelo encontro curatorial da escrito- ra com Amanda Bonan e Marcelo Campos.
Novas narrativas formam-se na interlocução entre as palavras da au- tora e as obras de arte. Aqui, letras e imagens são como ibêjis, orixás associados às crianças, especialmente as gêmeas, que expressam a criatividade e a dualidade como princípios de coexistência e integração do diverso.
Para o Sesc, receber essa exposição - que já esteve em cartaz no Mu- seu de Arte do Rio (MAR) e no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasi- leira (Muncab), em Salvador - reforça a intenção de que as identidades negras sejam celebradas a partir de obras que dialogam entre si e com as histórias de cada pessoa que por elas são confrontadas. Que seja um convite disparador de novas narrativas - zona indiscernível entre fato e ficção -, em constantes travessias na direção do coletivo.
Luiz Deoclecio Massaro Galina Diretor do Sesc São Paulo
Curadoria
Amanda Bonan Ana Maria Gonçalves Marcelo Campos
25 abril a 1 dezembro 2024
Sesc Pinheiros | São Paulo
SESC - SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO ADMINISTRAÇÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO SESC - SOCIAL SERVICEOF COMMERCE ADMINISTRATION IN SÃO PAULO STATE
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Difusão e Promoção / Press Relations
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Sesc Pinheiros
Jayme Paez
UM DEFEITO DE COR
CURADORIA / CURATORS
Amanda Bonan, Ana Maria Gonçalves, Marcelo Campos
ASSISTENTES DE CURADORIA E PESQUISA / CURATORIAL AND RESEARCH ASSISTANT
Andressa Gonçalves, Thayná Trindade (São Paulo) Rogério Félix (Salvador), Amanda Rezende, Jean Carlos Azuos, Juliana Pereira, Renato Menezes, Thayná Trindade (Rio de Janeiro)
EQUIPE SESC / SESC TEAM
Adriano Alves Pinto, Aline Ribenboim, Barbara Rodrigues, Camila Hion, Cinthya Martins, Fábio Vasconcelos, Fabíola Tavares Milan, Fernanda Monteiro, Fernanda Rodrigues, Gabriela Borsoi, Henrique Vizeu, João Victor Guerrero, Juliana Okuda Campaneli, Lidia Borba, Karina Camargo Leal, Ligia Zamaro, Luciano Amadei, Mariana Lins Prado, Marina Reis, Mateus de Oliveira Santos, Paola Aparecida Ribeiro Colantuono, Robson Aparecido Pereira, Rogério Vasconcelos , Sarah Degelo, Silvia Dangelo, Silvio Basílio, Suellen Barbosa, Tina Cassie, Thays Cabette