3) MÁRTIRES MEDIEVAIS | INQUISIÇÃO, HEREGES, A BEGUINA, A FALSA FREIRA E A GUERREIRA

Livro: Mártires cristãs: mulheres que deram a vida por amor a Jesus / Autora: Rute Salviano Almeida.
Trechos deste capítulo:
(...) "Uma das beguinas mais conhecidas de sua época foi Margarida Porete, considerada uma beguina errante, que não tinha lugar fixo de moradia, viajando constantemente para divulgar suas ideias.
Ela escreveu o livro O espelho das almas simples e aniquiladas (Le miroir des âmes simples e anéanties). Essa única obra que escreveu é suficiente para entendermos uma das mais singulares místicas da história do cristianismo, que deixou um modelo de coragem ao enfrentar com serenidade a morte na fogueira.
Apesar de colocar a salvação da alma simples em sua própria capacidade de se aniquilar na busca da vontade divina, ela deixou claro que falava em seu próprio nome, e não no de Deus
Margarida combateu mais a Igreja e seus líderes do que seus predecessores. Ela afirmou que havia uma IGREJA INVISÍVEL:
“a GRANDE IGREJA ”, IDEAL no MUNDO ESPIRITUAL, constituída de almas LIVRES e SIMPLES, que foram chamadas para julgar “a pequena igreja”, estabelecida na Terra, e para reforçar que Deus castigaria toda a hierarquia eclesiástica que havia falhado.
Em sua obra, faz uma clara distinção entre as almas livres, a real Igreja Santa, a qual é governada pelo amor divino, e a Santa Igreja, a pequena, que é governada pela razão.
Foi sua insistência em viajar, disseminando sua doutrina, que causou sua prisão pelas autoridades. A acusação foi de que era suspeita de promover a heresia do livre espírito. Seu inquisidor extraiu artigos de seu livro e os submeteu a uma comissão de 21 teólogos docentes da Sorbonne para exame.
Eles declararam 15 artigos heréticos, entre os quais: a alma aniquilada abandona as virtudes e não precisa mais das consolações e dos dons de Deus, porque está completamente voltada para ele, que a impede de tais coisas. Aprisionada em Paris, Margarida recusou-se a pedir absolvição ou fazer os juramentos, então foi deixada debilitar-se por 18 meses. Como herege que não se retrata de suas crenças, ela caiu na condenação (...)
Em 31 de maio de 1310, foi executada a sentença de morte contra ela. Sua coragem e dignidade diante da perseguição e morte, além de sua firmeza na fé, fizeram dela um símbolo de esperança, e muitos aderiram aos seus ensinos. Várias pessoas que assistiram à sua execução tiveram compaixão dela (...)
a execução de Margarida Porète comoveu as pessoas da época e choca os leitores atuais, por saberem que a fé era defendida com armas anticristãs e que o preço por pensar diferente era pago com a própria vida" (...)
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