Que trabalho maravilhoso! Ganhou mais uma inscrita! Mas encantador é saber que o objetivo do trabalho é levar a literatura a aqueles que não podem folhear os livros. Trabalho de vocês é luz, gratidão ❤️
É eu que achava que já tinha lido o crime do Padre Amaro, eu tenho uma edição de 2006 adaptação de José louzeiro, e confesso que esse livro que você leu tem mais detalhe gostaria de saber qual é a edição paraque eu possa tentar obtê-lo. Muito bom seu trabalho.
6:43 1.1) Foi no domingo de Páscoa que se soube em Leiria, que o pároco da Sé, José Miguéis, tinha morrido de madrugada com uma apoplexia. O pároco era um homem sangüíneo e nutrido, que passava entre o clero diocesano pelo comilão dos comilões. Contavam-se histórias singulares da sua voracidade. O Carlos da Botica - que o detestava - costumava dizer, sempre que o via sair depois da sesta, com a face afogueada de sangue, muito enfartado: - Lá vai a jibóia esmoer. Um dia estoura! Com efeito estourou, depois de uma ceia de peixe - à hora em que defronte, na casa do doutor Godinho que fazia anos, se polcava com alarido. Ninguém o lamentou, e foi pouca gente ao seu enterro. Em geral não era estimado. Era um aldeão; tinha os modos e os pulsos de um cavador, a voz rouca, cabelos nos ouvidos, palavras muito rudes. Nunca fora querido das devotas; arrotava no confessionário, e, tendo vivido sempre em freguesias da aldeia ou da serra, não compreendia certas sensibilidades requintadas da devoção: perdera por isso, logo ao princípio, quase todas as confessadas, que tinham passado para o polido padre Gusmão, tão cheio de lábia! E quando as beatas, que lhe eram fiéis, lhe iam falar de escrúpulos de visões, José Miguéis escandalizava-as, rosnando: - Ora histórias, santinha! Peça juízo a Deus! Mais miolo na bola! As exagerações dos jejuns sobretudo irritavam-no: - Coma-lhe e beba-lhe, costumava gritar, coma-lhe e beba-lhe, criatura! Era miguelista3 - e os partidos liberais, as suas opiniões, os seus jornais enchiam-no duma cólera irracionável: - Cacete! cacete! exclamava, meneando o seu enorme guarda-sol vermelho. Nos últimos anos tomara hábitos sedentários, e vivia isolado - com uma criada velha e um cão, o Joli. O seu único amigo era o chantre Valadares, que governava então o bispado, porque o senhor bispo D. Joaquim gemia, havia dois anos, o seu reumatismo, numa quinta do Alto Minho. O pároco tinha um grande respeito pelo chantre, homem seco, de grande nariz, muito curto de vista, admirador de Ovídio - que falava fazendo sempre boquinhas, e com alusões mitológicas. O chantre estimava-o. Chamava-lhe Frei Hércules. - Hércules pela força - explicava sorrindo, Frei pela gula. No seu enterro ele mesmo lhe foi aspergir a cova; e, como costumava oferecer-lhe todos os dias rapé da sua caixa de ouro, disse aos outros cônegos, baixinho, ao deixar-lhe cair sobre o caixão, segundo o ritual, o primeiro torrão de terra: - É a última pitada que lhe dou! Todo o cabido riu muito com esta graça do senhor governador do bispado; o cônego Campos contou-o à noite ao chá em casa do deputado Novais; foi celebrada com risos deleitados, todos exaltaram as virtudes do chantre, e afirmou-se com respeito - que sua excelência tinha muita pilhéria! Dias depois do enterro apareceu, errando pela Praça, o cão do pároco, o Joli. A criada entrara com sezões no hospital; a casa fora fechada; o cão, abandonado, gemia a sua fome pelos portais. Era um gozo pequeno, extremamente gordo, - que tinha vagas semelhanças com o pároco. Com o hábito das batinas, ávido dum dono, apenas via um padre punha-se a segui-lo, ganindo baixo. Mas nenhum queria o infeliz Joli; enxotavam-no com as ponteiras dos guarda-sóis; o cão, repelido como um pretendente, toda a noite uivava pelas ruas. Uma manhã apareceu morto ao pé da Misericórdia; a carroça do estrume levou-o e, como ninguém tomou a ver o cão, na Praça, o pároco José Miguéis foi definitivamente esquecido. Dois meses depois soube-se em Leiria que estava nomeado outro pároco. Dizia-se que era um homem muito novo, saído apenas do seminário. O seu nome era Amaro Vieira. Atribuía-se a sua escolha a influências políticas, e o jornal de Leiria, A Voz do Distrito, que estava na oposição, falou com amargura, citando o Gólgota, no favoritismo da corte e na reação clerical. Alguns padres tinham-se escandalizado com o artigo; conversou-se sobre isso, acremente, diante do senhor chantre. - Não, não, lá que há favor, há; e que o homem tem padrinhos, tem - disse o chantre. - A mim quem me escreveu para a confirmação foi o Brito Correia (Brito Correia era então ministro da Justiça)
11:54 1.2) Até me diz na carta que o pároco é um belo rapagão. De sorte que - acrescentou sorrindo com satisfação - depois de Frei Hércules vamos talvez ter Frei Apolo. Em Leiria havia só uma pessoa que conhecia o pároco novo: era o cônego Dias, que fora nos primeiros anos do seminário seu mestre de Moral. No seu tempo, dizia o cônego, o pároco era um rapaz franzino, acanhado, cheio de espinhas carnais... - Parece que o estou a ver com a batina muito coçada e cara de quem tem lombrigas!... De resto bom rapaz! E espertote... O cônego Dias era muito conhecido em Leiria. Ultimamente engordara, o ventre saliente enchia- lhe a batina e a sua cabecinha grisalha, as olheiras papudas, o beiço espesso faziam lembrar velhas anedotas de frades lascivos e glutões. O tio Patrício, o Antigo, negociante da Praça, muito liberal e que quando passava pelos padres rosnava como um velho cão de fila, dizia às vezes ao vê-lo atravessar a Praça, pesado, ruminando a digestão, encostado ao guarda-chuva: - Que maroto! Parece mesmo D. João VI! O cônego vivia só com uma irmã velha, a Sra. D. Josefa Dias, e uma criada, que todos conheciam também em Leiria, sempre na rua, entrouxada num xale tingido de negro, e arrastando pesadamente as suas chinelas de ourelo. O cônego Dias passava por ser rico; trazia ao pé de Leiria propriedades arrendadas, dava jantares com peru, e tinha reputação o seu vinho duque de 1815. Mas o fato saliente da sua vida - o fato comentado e murmurado - era a sua antiga amizade com a Sra. Augusta Caminha, a quem chamavam a S. Joaneira, por ser natural de S. João da Foz. A S. Joaneira morava na Rua da Misericórdia, e recebia hóspedes. Tinha uma filha, a Ameliazinha, rapariga de vinte e três anos, bonita, forte, muito desejada. O cônego Dias mostrara um grande contentamento com a nomeação de Amaro Vieira. Na botica do Carlos, na Praça, na sacristia da Sé, exaltou os seus bons estudos no seminário, a sua prudência de costumes, a sua obediência: gabava-lhe mesmo a voz: "um timbre que é um regalo.'" - Para um bocado de sentimento nos sermões da Semana Santa, está a calhar! Predizia-lhe com ênfase um destino feliz, uma conezia decerto, talvez a glória de um bispado! E um dia, enfim, mostrou com satisfação ao coadjutor da Sé, criatura servil e calada, uma carta que recebera de Lisboa de Amaro Vieira. Era uma tarde de Agosto e passeavam ambos para os lados da Ponte Nova. Andava então a construir-se a estrada da Figueira: o velho passadiço de pau sobre a ribeira do Lis tinha sido destruído, já se passava sobre a Ponte Nova, muito gabada, com os seus dois largos arcos de pedra, fortes e atarracados. Para diante as obras estavam suspendidas por questões de expropriação; ainda se via o lodoso caminho da freguesia de Marrazes, que a estrada nova devia desbastar e incorporar; camadas de cascalho cobriam o chão; e os grossos cilindros de pedra, que acalcam e recamam os macadames, enterravam-se na terra negra e úmida das chuvas. Em roda da Ponte a paisagem é larga e tranqüila. Para o lado de onde o rio vem são colinas baixas, de formas arredondadas, cobertas da rama verde-negra dos pinheiros novos; embaixo, na espessura dos arvoredos, estão os casais4 que dão àqueles lugares melancólicos uma feição mais viva e humana - com as suas alegres paredes caiadas que luzem ao sol, com os fumos das lareiras que pela tarde se azulam nos ares sempre claros e lavados. Para o lado do mar, para onde o rio se arrasta nas terras baixas entre dois renques de salgueiros pálidos, estende-se até os primeiros areais o campo de Leiria, largo, fecundo, com o aspecto de águas abundantes, cheio de luz. Da Ponte pouco se vê da cidade; apenas uma esquina das cantarias pesadas e jesuíticas da Sé, um canto do muro do cemitério coberto de parietárias, e pontas agudas e negras dos ciprestes; o resto está escondido pelo duro monte ouriçado de vegetações rebeldes, onde destacam as ruínas do Castelo, todas envolvidas à tarde nos largos vôos circulares dos mochos, desmanteladas e com um grande ar histórico. Ao pé da Ponte, uma rampa desce para a alameda que se estende um pouco à beira do rio. É um lugar recolhido, coberto de árvores antigas. Chamam-lhe a Alameda Velha. Ali, caminhando devagar, falando baixo, o cônego consultava o coadjutor sobre a carta de Amaro Vieira, e sobre ''uma idéia que ela lhe dera, que lhe parecia de mestre! De mestre!'' Amaro pedia-lhe com urgência que lhe arranjasse uma casa de aluguel, barata, bem situada, e se fosse possível mobilada; falava sobretudo de quartos numa casa de hóspedes respeitável. "Bem vê o meu caro padre-mestre, dizia Amaro, que era isto o que verdadeiramente me convinha; eu não quero luxos, está claro: um quarto e uma saleta seria o bastante
1.3)O 4 Casais. Pequenas propriedades; sítios. (N.E.) 5 que é necessário é que a casa seja respeitável, sossegada, central, que a patroa tenha bom gênio e que não peça mundos e fundos; deixo tudo isto à sua prudência e capacidade, e creia que todos estes favores não cairão em terreno ingrato. Sobretudo que a patroa seja pessoa acomodada e de boa língua." - Ora a minha idéia, amigo Mendes, é esta: metê-lo em casa da S. Joaneira! resumiu o cônego com um grande contentamento. É rica idéia, hem! - Soberba idéia, disse o coadjutor com a sua voz servil. - Ela tem o quarto de baixo, a saleta pegada e o outro quarto que pode servir de escritório. Tem boa mobília, boas roupas... - Ricas roupas, disse o coadjutor com respeito. O cônego continuou: - É um belo negócio para a S. Joaneira: dando os quartos, roupas, comida, criada, pode muito bem pedir os seus seis tostões por dia. E depois sempre tem o pároco de casa. - Por causa da Ameliazinha é que eu não sei - considerou timidamente o coadjutor. - Sim, pode ser reparado. Uma rapariga nova... Diz que o senhor pároco é ainda novo... Vossa senhoria sabe o que são línguas do mundo. O cônego tinha parado: - Ora histórias! Então o padre Joaquim não vive debaixo das mesmas telhas com a afilhada da mãe? E o cônego Pedroso não vive com a cunhada, e uma irmã da cunhada, que é uma rapariga de dezenove anos? Ora essa! - Eu dizia... atenuou o coadjutor. - Não, não vejo mal nenhum. A S. Joaneira aluga os seus quartos, é como se fosse uma hospedaria. Então o secretário-geral não esteve lá uns poucos de meses? - Mas um eclesiástico... insinuou o coadjutor. - Mais garantias, Sr. Mendes, mais garantias! exclamou o cônego. E parando, com uma atitude confidencial: - E depois a mim é que me convinha, Mendes! A mim é que me convinha, meu amigo! Houve um pequeno silêncio. O coadjutor disse, baixando a voz: - Sim, vossa senhoria faz muito bem à S. Joaneira... - Faço o que posso, meu caro amigo, faço o que posso, disse o cônego. E com uma entonação terna, risonhamente paternal: - que ela é merecedora! é merecedora. Boa até ali, meu amigo! - Parou, esgazeando os olhos: - Olhe que dia em que eu não lhe apareça pela manhã às nove em ponto, está num frenesi! Oh criatura! digo-lhe eu, a senhora rala-se sem razão. Mas então, é aquilo! Pois quando eu tive a cólica o ano passado! Emagreceu, Sr. Mendes! E depois não há lembrança que não tenha! Agora, pela matança do porco, o melhor do animal é para o padre santo, você sabe? é como ela me chama. Falava com os olhos luzidos, uma satisfação babosa. - Ah, Mendes! acrescentou, é uma rica mulher! - E bonita mulher, disse o coadjutor respeitosamente. - Lá isso! exclamou o cônego parando outra vez. Lá isso! Bem conservada até ali! Pois olhe que não é uma criança! Mas nem um cabelo branco, nem um, nem um só! E então que cor de pele! - E mais baixo, com um sorriso guloso: - E isto aqui! ó Mendes, e isto aqui! - Indicava o lado do pescoço debaixo do queixo, passando-lhe devagar por cima a sua mão papuda: - É uma perfeição! E depois mulher de asseio, muitíssimo asseio! E que lembrançazinhas! Não há dia que me não mande o seu presente! é o covilhete de geléia, é o pratinho de arroz-doce, é a bela morcela de Arouca! Ontem me mandou ela uma torta de maçã. Ora havia de você ver aquilo! A maçã parecia um creme! Até a mana Josefa disse: "Está tão boa que parece que foi cozida em água benta!" - E pondo a mão espalmada sobre o peito: - São coisas que tocam a gente cá por dentro, Mendes! Não, não é lá por dizer, mas não há outra. O coadjutor escutava com a taciturnidade da inveja. - Eu bem sei, disse o cônego parando de novo e tirando lentamente as palavras, eu bem sei que por ai rosnam, rosnam... Pois é uma grandíssima calúnia! O que é, é que eu tenho muito apego àquela gente. Já o tinha em tempo do marido. Você bem o sabe, Mendes. O coadjutor teve um gesto afirmativo. - A S. Joaneira é uma pessoa de bem! olhe que é uma pessoa de bem, Mendes! exclamava o cônego batendo no chão fortemente com a ponteira do guarda. sol. - As línguas do mundo são venenosas, senhor cônego, disse o coadjutor com uma voz chorosa. E depois dum silêncio, acrescentou baixo: - Mas aquilo a vossa senhoria deve-lhe sair caro! - Pois aí está, meu amigo! Imagine você que desde que o secretário-geral se foi embora a pobre da mulher tem tido a casa vazia: eu é que tenho dado para a panela, Mendes! - Que ela tem uma fazendita, considerou o coadjutor. Uma nesga5 de terra, meu rico senhor, uma nesga de terra! E depois as décimas, os jornais! Por isso digo eu, o pároco é uma mina. Com os seis tostões que ele der, com que eu ajudar, com alguma coisa que ela tire da hortaliça que vende da fazenda, já se governa. E para mim é um alívio, Mendes. - É um alívio, senhor cônego! repetiu o coadjutor. Ficaram calados. A tarde descaía muito límpida; o alto céu tinha uma pálida cor azul; o ar estava imóvel. Naquele tempo o rio ia muito vazio; pedaços de areia reluziam em seco; e a água baixa arrastava- se com um marulho brando, toda enrugada do roçar dos seixos. Duas vacas, guardadas por uma rapariga, apareceram então pelo caminho lodoso que do outro lado do rio, defronte da alameda, corre junto de um silvado; entraram no rio devagar, e estendendo o pescoço pelado da canga, bebiam de leve, sem ruído; a espaços erguiam a cabeça bondosa, olhavam em redor com a passiva tranqüilidade dos seres fartos - e fios de água, babados, luzidios à luz, pendiam-lhes dos cantos do focinho. Com a inclinação do sol a água perdia a sua claridade espelhada, estendiam-se as sombras dos arcos da Ponte. Do lado das colinas ia subindo um crepúsculo esfumado, e as nuvens cor de sangüínea e cor de laranja que anunciam o calor faziam, sobre os lados do mar, uma decoração muito rica. - Bonita tarde! disse o coadjutor. O cônego bocejou, e fazendo uma cruz sobre o bocejo: - Vamo-nos chegando às Ave-Marias, hem? Quando, daí a pouco, iam subindo as escadarias da Sé, o cônego parou, e voltando-se para o coadjutor: - Pois está decidido, amigo Mendes, ferro o Amaro na casa da S. Joaneira! É uma pechincha para todos. - Uma grande pechincha! disse respeitosamente o coadjutor. Uma grande pechincha! E entraram na igreja, persignando-se.
Capítulo II Uma semana depois, soube-se que o novo pároco devia chegar pela diligência de Chão de Maçãs, que traz o correio à tarde; e desde as seis horas o cônego Dias e o coadjutor passeavam no Largo do Chafariz, à espera de Amaro. Era então nos fins de Agosto. Na longa alameda macadamizada que vai junto do rio, entre os dois renques de velhos choupos, entreviam-se vestidos claros de senhoras passeando. Do lado do Arco, na correnteza de casebres pobres, velhas fiavam à porta; crianças sujas brincavam pelo chão, mostrando seus enormes ventres nus; e galinhas em redor iam picando vorazmente as imundícies esquecidas. Em redor do chafariz cheio de ruído, onde os cântaros arrastam sobre a pedra, criadas ralham, soldados, com a sua fardeta suja, enormes botas cambadas, namoravam, meneando a chibata de junco; com o seu cântaro bojudo de barro equilibrado à cabeça sobre a rodilha, raparigas iam-se aos pares, meneando os quadris; e dois oficiais ociosos, com a farda desapertada sobre o estômago, conversavam, esperando, a ver quem viria. A diligência tardava. Quando o crepúsculo desceu, uma lamparina luziu no nicho do santo, por cima do Arco; e defronte iam-se iluminando uma a uma, com uma luz soturna, as janelas do hospital. Já tinha anoitecido quando a diligência, com as lanternas acesas, entrou na Ponte ao trote esgalgado dos seus magros cavalos brancos, e veio parar ao pé do chafariz, por baixo da estalagem do Cruz; o caixeiro do tio Patrício partiu logo a correr para a Praça com o maço dos Diários Populares; o tio Baptista, o patrão, com o cachimbo negro ao canto da boca, desatrelava, praguejando tranqüilamente; e um homem que vinha na almofada, ao pé do cocheiro, de chapéu alto e comprido capote eclesiástico, desceu cautelosamente, agarrando-se às guardas de ferro dos assentos, bateu com os pés no chão para os desentorpecer, e olhou em redor. - Oh, Amaro! gritou o cônego, que se tinha aproximado, oh ladrão! - Oh, padre-mestre! disse o outro com alegria. E abraçaram-se, enquanto o coadjutor, todo curvado, tinha o barrete na mão. Daí a pouco as pessoas que estavam nas lojas viram atravessar a Praça, entre a corpulência vagarosa do cônego Dias e a figura esguia do coadjutor, um homem um pouco curvado, com um capote 5 Nesga. Pequena porção de terra. (N.E.) 7 de padre. Soube- se que era o pároco novo; e disse-se logo na botica que era uma boa figura de homem. O João Bicha levava adiante um baú e um saco de chita; e como aquela hora já estava bêbedo, ia resmungando o Bendito. Eram quase nove horas, a noite cerrara. Em redor da Praça as casas estavam já adormecidas: das lojas debaixo da arcada saía a luz triste dos candeeiros de petróleo, entreviam-se dentro figuras sonolentas, caturrando em cavaqueira, ao balcão. As ruas que vinham dar à Praça, tortuosas, tenebrosas, com um lampião mortiço, pareciam desabitadas. E no silêncio o sino da Sé dava vagarosamente o toque das almas. O cônego Dias ia explicando pachorrentamente ao pároco "o que lhe arranjara". Não lhe tinha procurado casa: seria necessário comprar mobília, buscar criada, despesas inumeráveis! Parecera-lhe melhor tomar- lhe quartos numa casa de hóspedes respeitável, de muito conchego - e nessas condições (e ali estava o amigo coadjutor que o podia dizer), não havia como a da S. Joaneira. Era bem arejada, muito asseio, a cozinha não deitava cheiro; tinha lá estado o secretário-geral e o inspetor dos estudos; e a S. Joaneira (o Mendes amigo conhecia-a bem) era uma mulher temente a Deus, de boas contas, muito econômica e cheia de condescendências... - Você está ali como em sua casa! Tem o seu cozido, prato de meio, café... - Vamos a saber, padre-mestre: preço? disse o pároco. - Seis tostões. Que diabo! é de graça! Tem um quarto, tem uma saleta... - Uma rica saleta, comentou o coadjutor respeitosamente. - E é longe da Sé? perguntou Amaro. - Dois passos. Pode-se ir dizer missa de chinelos. Na casa há uma rapariga, continuou com a sua voz pausada o cônego Dias. E a filha da S. Joaneira. Rapariga de vinte e dois anos. Bonita. Sua pontinha de gênio, mas bom fundo... Aqui tem você a sua rua. Era estreita, de casas baixas e pobres, esmagada pelas altas paredes da velha Misericórdia, com um lampião lúgubre ao fundo. - E aqui tem você o seu palácio! disse o cônego, batendo na aldraba de uma porta esguia. No primeiro andar duas varandas de ferro, de aspecto antigo, faziam saliência, com os seus arbustos de alecrim, que se arredondavam aos cantos em caixas de madeira; as janelas de cima, pequeninas, eram de peitoril; e a parede, pelas suas irregularidades, fazia lembrar uma lata amolgada. A S. Joaneira esperava no alto da escada; uma criada, enfezada e sardenta, alumiava com um candeeiro de petróleo; e a figura da S. Joaneira destacava plenamente na luz sobre a parede caiada. Era gorda, alta, muito branca, de aspecto pachorrento. Os seus olhos pretos tinham já em redor a pele engelhada; os cabelos arrepiados, com um enfeite escarlate, eram já raros aos cantos da testa e no começo da risca; mas percebiam-se uns braços rechonchudos, um colo copioso e roupas asseadas. - Aqui tem a senhora o seu hóspede, disse o cônego subindo. - Muita honra em receber o senhor pároco! muita honra! Há-de vir muito cansado! por força! Para aqui, tem a bondade? Cuidado com o degrauzinho. Levou-o para uma sala pequena, pintada de amarelo, com um vasto canapé de palhinha encostado à parede, e defronte, aberta, uma mesa forrada de baeta verde. - É a sua sala, senhor pároco, disse a S. Joaneira. Para receber, para espairecer... Aqui - acrescentou abrindo uma porta - é o seu quarto de dormir. Tem a sua cômoda, o seu guarda-roupa... - Abriu os gavetões, gabou a cama batendo a elasticidade dos colchões. - Uma campainha para chamar sempre que queira... As chavinhas da cômoda estão aqui... Se gosta de travesseirinho mais alto... Tem um cobertor só, mas querendo... - Está bem, está tudo muito bem, minha senhora, - disse o pároco com a sua voz baixa e suave. - É pedir! O que há, da melhor vontade... - Oh criatura de Deus! interrompeu o cônego jovialmente, o que ele quer agora é cear! - Também tem a ceiazinha pronta. Desde as seis que está o caldo a apurar... E saiu, para apressar a criada, dizendo logo do fundo da escada: - Vá, Ruça, mexe-te, mexe-te!... O cônego sentou-se pesadamente no canapé, e sorvendo a sua pitada: - É contentar, meu rico. Foi o que se pôde arranjar. - Eu estou bem em toda parte, padre-mestre, disse o pároco, caçando os seus chinelos de ourelo. Olha o seminário!... E em Feirão! Caía- me a chuva na cama. Para o lado da Praça, então, sentiu-se o toque de cometas. - Que é aquilo? perguntou Amaro, indo à janela. - As nove e meia, o toque de recolher.
2.2) Amaro abriu a vidraça. Ao fim da rua um candeeiro esmorecia. A noite estava muito negra. E havia sobre a cidade um silêncio côncavo, de abóbada. Depois das cometas, um rufar lento de tambores afastou-se para o lado do quartel; por baixo da janela um soldado, que se demorara nalguma viela do Castelo, passou correndo; e das paredes da Misericórdia saía constantemente o agudo piar das corujas. - É triste isto, disse Amaro. Mas a S. Joaneira gritou de cima: - Pode subir, senhor cônego! Está o caldo na mesa! - Ora vá, vá, que você deve estar a cair de fome, Amaro! - disse o cônego, erguendo-se muito pesado. E detendo um momento o pároco, pela manga do casaco: - Vai você ver o que é um caldo de galinha feito cá pela senhora! Da gente se babar!... No meio da sala de jantar, forrada de papel escuro, a claridade da mesa alegrava, com a sua toalha muito branca, a louça, os copos reluzindo à luz forte dum candeeiro de abajur verde. Da terrina subia o vapor cheiroso do caldo e, na larga travessa a galinha gorda, afogada num arroz úmido e branco, rodeada de nacos de bom paio, tinha uma aparência suculenta de prato morgado. No armário envidraçado, um pouco na sombra, viam-se cores claras de porcelana; a um canto, ao pé da janela, estava o piano, coberto com uma colcha de cetim desbotado. Na cozinha frigia-se; e sentindo o cheiro fresco que vinha dum tabuleiro de roupa lavada, o pároco esfregou as mãos, regalado. - Para aqui, senhor pároco, para aqui, disse a S. Joaneira. Dai pode vir-lhe frio. - Foi fechar as portadas das janelas; chegou-lhe um caixão de areia para as pontas dos cigarros. - E o senhor cônego toma um copinho de geléia, sim? - Vá lá, para fazer companhia, disse jovialmente o cônego, sentando- se e desdobrando o guardanapo. A S. Joaneira, no entanto, mexendo-se pela sala, ia admirando o pároco, que, com a cabeça sobre o prato, comia em silêncio o seu caldo, soprando a colher. Parecia bem-feito; tinha um cabelo muito preto, levemente anelado. O rosto era oval, de pele trigueira e fina, os olhos negros e grandes, com pestanas compridas. O cônego, que não o via desde o seminário, achava-o mais forte, mais viril. - Você era enfezadito... - Foi o ar da serra, dizia o pároco, fez-me bem! - Contou então a sua triste existência em Feirão, na alta Beira, durante a aspereza do Inverno, só com pastores. O cônego deitava-lhe o vinho de alto, fazendo-o espumar. - Pois é beber-lhe, homem! é beber-lhe! Desta gota não pilhava você no seminário. Falaram do seminário. - Que será feito do Rabicho, o despenseiro? disse o cônego. - E do Carocho, que roubava as batatas? Riram; e bebendo, na alegria das reminiscências, recordavam as histórias de então, o catarro do 6 reitor, e o mestre do cantochão que deixara um dia cair do bolso as poesias obscenas de Bocage . - Como o tempo passa, como o tempo passa! diziam. A S. Joaneira então pôs na mesa um prato covo com maçãs assadas. - Viva! Não, lá nisso também eu entro! exclamou logo o cônego. A bela maçã assada! nunca me escapa! Grande dona de casa, meu amigo, rica dona de casa, cá a nossa S. Joaneira! Grande dona de casa! Ela ria; viam-se os seus dois dentes de diante, grandes e chumbados. Foi buscar uma garrafa de vinho do Porto; pôs no prato do cônego, com requintes devotos, uma maçã desfeita, polvilhada de açúcar; e batendo-lhe nas costas com a mão papuda e mole: - Isto é um santo, senhor pároco, isto é um santo! Ai! devo-lhe muitos favores! - Deixe falar, deixe falar, dizia o cônego. - Espalhava-se-lhe no rosto um contentamento baboso. - Boa gota! acrescentou, saboreando o seu cálice de Porto. Boa gota! - Olhe que ainda é dos anos da Amélia, senhor cônego. 6 Observe a crítica ao clero desenvolvida pelo narrador desde o inicio da narrativa Os religiosos agem apenas por interesses grosseiramente materiais: dinheiro, alimento e sexo Há uma contradição entre o que realmente são e o que aparentam ser, como ocorre com o mestre de cantochão (canto religioso monótono), que se divertia lendo poemas obscenos do poeta pré-romântico português Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) (N.E.) 9 - E onde está ela, a pequena? - Foi ao Morenal com a D. Maria. Aquilo naturalmente foram para casa das Gansosos passar a noite. - Cá esta senhora é proprietária, explicou o cônego, falando do Morenal. É um condado! - Ria com bonomia, e os seus olhos luzidios percorriam ternamente a corpulência da S. Joaneira. - Ah, senhor pároco, deixe falar, é uma nesga de terra... disse ela. Mas vendo a criada encostada à parede, sacudida com aflições de tosse: - Ó mulher, vai tossir lá para dentro! credo! A moça saiu, pondo o avental sobre a boca. - Parece doente, coitada, observou o pároco. Muito achacada, muito!... A pobre de Cristo era sua afilhada, órfã, e estava quase tísica. Tinha-a tomado por piedade... - E também porque a criada que cá tinha foi para o hospital, a desavergonhada... Meteu-se aí com um soldado!... O padre Amaro baixou devagar os olhos - e trincando migalhas, perguntou se havia muitas doenças naquele Verão. - Colerinas, das frutas verdes, rosnou o cônego. Metem-se pelas melancias, depois tarraçadas de água... E suas febritas... Falaram então das sezões do campo, dos ares de Leiria. - Que eu agora, dizia o padre Amaro, ando mais forte. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, tenho saúde, tenho! - Ai, Nosso Senhor lha conserve, que nem sabe o bem que é! exclamou a S. Joaneira. - Contou imediatamente a grande desgraça que tinha em casa, uma irmã meio idiota entrevada havia dez anos! Ia fazer sessenta anos... No Inverno viera-lhe um catarro, e desde então, coitadinha, definhava, definhava... - Há bocado, ao fim da tarde, teve ela um ataque de tosse! Pensei que se ia embora. Agora descansou mais... Continuou a falar "daquela tristeza", depois da sua Ameliazinha, das Gansosos, do antigo chantre, da carestia de tudo - sentada, com o gato no colo, rolando com os dois dedos, monotonamente, bolinhas depão. O cônego, pesado, cerrava as pálpebras; tudo na sala parecia ir gradualmente adormecendo; a luz do candeeiro esmorecia. - Pois senhores, disse por fim o cônego mexendo-se, isto são horas! O padre Amaro ergueu-se, e com os olhos baixos deu as graças. - O senhor pároco quer lamparina? perguntou cuidadosamente a S. Joaneira. - Não, minha senhora. Não uso. Boas noites! E desceu devagar, palitando os dentes. A S. Joaneira alumiava no patamar, com o candeeiro. Mas nos primeiros degraus o pároco parou, e voltando-se, afetuosamente: - É verdade, minha senhora, amanhã é sexta-feira, é jejum... - Não, não, acudiu o cônego que se embrulhava na capa de lustrina, bocejando, você amanhã janta comigo. Eu venho por cá, vamos ao chantre, á Sé, e por aí... E olhe que tenho lulas. É um milagre, que isto aqui nunca há peixe. A S. Joaneira tranqüilizou logo o pároco. - Ai, é escusado lembrar os jejuns, senhor pároco. Tenho o maior escrúpulo! - Eu dizia, explicou o pároco, porque infelizmente hoje em dia ninguém cumpre. - Tem vossa senhoria muita razão, atalhou ela. - Mas eu! credo!... A salvação da minha alma antes de tudo! A campainha embaixo, então, retiniu fortemente. - Há-de ser a pequena, disse a S. Joaneira. Abre, Ruça! A porta bateu, sentiram-se vozes, risinhos. - És tu, Amélia? Uma voz disse adeusinho! adeusinho! E apareceu, subindo quase a correr, com os vestidos um pouco apanhados adiante, uma bela rapariga, forte, alta, bem-feita, com uma manta branca pela cabeça e na mão um ramo de alecrim. - Sobe, filha. Aqui está o senhor pároco. Chegou agora à noitinha, sobe! Amélia tinha parado um pouco embaraçada, olhando para os degraus de cima, onde o pároco ficara, encostado ao corrimão. Respirava fortemente de ter corrido; vinha corada; os seus olhos vivos e negros luziam; e saía dela uma sensação de frescura e de prados atravessados. O pároco desceu, cingido ao corrimão, para a deixar passar, murmurando boas-noites! com a cabeça baixa. O cônego, que descia atrás, pesadamente, tomou o meio da escada, diante de Amélia: - Então isto são horas, sua brejeira? Ela teve um risinho, encolheu-se. - Ora vá-se encomendar a Deus, vá! disse batendo-lhe no rosto devagarinho com a sua mão grossa e cabeluda. Ela subiu a correr, enquanto o cônego, depois de ir buscar o guarda- sol à saleta, saía, dizendo à criada, que erguia o candeeiro sobre a escada: - Está bem, eu vejo, não apanhes frio, rapariga. Então às oito, Amaro! Esteja a pé! Vai-te, rapariga, adeus! Reza à Senhora da Piedade que te seque essa catarreira. O pároco fechou a porta do quarto. A roupa da cama entreaberta, alva, tinha um bom cheiro de linho lavado. Por cima da cabeceira pendia a gravura antiga dum Cristo crucificado. Amaro abriu o seu Breviário, ajoelhou aos pés da cama, persignou-se; mas estava fatigado, vinham-lhe grandes bocejos; e então por cima, sobre o teto, através das orações rituais que maquinalmente ia lendo, começou a sentir o tique-tique das botinas de Amélia e o ruído das saias engomadas que ela sacudia ao despir-se.
@elianebernardes109 hj não digo que são forçados mas até umas décadas atrás eram na maioria das vezes obrigados sim!! A família fazia acordos com igreja, fazia as vezes promessa e outros formas de obrigar meninos (tbm meninas) a entrarem em um caminho que não tinham a menor ideia do que era.. Sistema tirânico 😢😢
Concordo.Somente a Igreja Católica proibe os padres de se casarem. Eles usam como exemplo Jesus , que nunca se casou , mas isso foi porque ele tinha a missão de evangelizar que deveria ser cumprida até os 33 anos de idade e não tinha tempo para mais nada.
Uma linguagem estilosa e pura, mas diferente da nossa forma de falar da época. De qualquer forma, um insulto à Igreja, ao Clero. De tudo se deduz que Eça de Queiroz, das duas uma: É ateu, ou é um intolerante, insensível aos rituais e costumes da Igeja católica.
@@crisantofortaleza Eça em sua segunda fase - fase que escreveu esse livro - estava no movimento *realista*, que, adorava fazer críticas a todos, instituicoes, as pessoas, aos costumes. Os argumentos que utilizavam quando perguntavam se tinham vergonha de escrever aquilo eles respondiam: - Vergonha devia ter quem comete esses crimes, eu só escrevo o que acontece. E eu amo essa justificativa, afinal, não era ele criando mentiras pra atacar a igreja católica, era ele mostrando algumas verdades que eram ocultadas pela igreja católica. Se você é católico, não sinta-se ofendido com esse livro, a igreja católica era muito corrupta, isso não acontece mais hoje!
Tretas! Já perto do final do livro, Eça apresenta o Abade Ferrão. Também ele é membro do clero, também ele é católico, mas tem um carácter muito diferente dos outros. Contrasta bem com os outros e bem podemos sentir que as simpatias do Eça recaem sobre este personagem. Repare que até o Padre Amaro é apresentado como uma pessoa com a qual podemos empatizar em muitos momentos, perceber de onde lhe vem a frustração. Ser contra o clero não é o mesmo que não ter religião; não é o mesmo que ser intolerante. "Insensível aos rituais e costumes" ... Você queria que ele apresentasse padres glutões, fornicadores, violadores do segredo de confissão, homicidas (entregar um bebé à "tecedeira de anjos" é praticamente um homicídio), com falta de caridade (veja-se o tratamento dado à paralítica) e que contivesse a crítca por respeito aos RITUAIS? Que asneira é essa? Eça critica o clero - pois sim! - um CERTO clero, dando a entender que há OUTRO além desse. Eça criticou pecados grotescos de homens falíveis e você viu um ataque a uma classe! Eça fez um retrato a cores e você viu-o a preto e branco!
Capítulo 1 - 6:43
Capítulo 2 - 25:30
Capítulo 3 - 45:03
Capítulo 4 - 1:43:05
Capítulo 5 - 2:12:13
Capítulo 6 - 2:50:57
Capítulo 7 - 3:24:51
Capítulo 8 - 4:02:20
Capítulo 9 - 4:27:52
* Em meu livro o capítulo nove ñ se inicia aqui mad blz
Muito obrigada
Obrigada! 😊
Magnífica narração.
Muito obrigada por disponibilizar 😊😍
Essa obra-prima lida por uma voz clássica ficou ainda melhor. Todos nós conhecemos-la das dublagens.
Excelente narrador
Desculpa perguntar, mas sabe o nome desse dublador?
@@catarinamagalhaes321 Também quero saber 🍀🙏
@@catarinamagalhaes321 CARLOS CAMPANILE é o narrador.❤️
A riqueza do texto é maravilhosa
Que trabalho maravilhoso! Ganhou mais uma inscrita! Mas encantador é saber que o objetivo do trabalho é levar a literatura a aqueles que não podem folhear os livros. Trabalho de vocês é luz, gratidão ❤️
i realize Im quite randomly asking but do anybody know a good site to watch new series online ?
Cap 10- 5:08:54
Cap 11- 6:34:25
Cap 12- 7:21:37
Cap 13-
Cap 15-
capítulo 13: 07:48:48
Narração humana masculina excelente 👍
adoro ouvir Eça de Queiroz adoroooo
MARAVILHOSO esse áudiobook, suas notas de rodapé complementam demais com seus argumentos extremamente claros e objetivos... Muito bom mesmp!!!
Já li esse livro 5 vezes ..guando eu estudava no ensino médio .... Comecei ouvir hj Aki....
Esse audiolivro me ajudou MUITOOOOO obrigada
Fantástico! Fala da hipocrisia de religiosos da época, que pode ser muito bem trazida aos dias atuais.
6:43 - capítulo 1
Amo esse livro
Sensacional! Muito obrigado!!
3:40:00 pág 88
4:43:00 pág 112
5:00:00 pág 118
5:33:45 página 131
6:34:40 página 154
6:51:40 página 160
7:48:50 capítulo 13 página 180
8:18:00 página 191
O Sr Carlos Campanile dá um show de narração neste livro e no de Dom casmurro do machado de assis
me ajudou muito mesmo! obg
Muito bom, tenho um trabalho para fazer... Ajudou bastante
acho esse livro engraçado para um romance dessa época. principalmente do Doutor Gouveia que foi perfeita.
É eu que achava que já tinha lido o crime do Padre Amaro, eu tenho uma edição de 2006 adaptação de José louzeiro, e confesso que esse livro que você leu tem mais detalhe gostaria de saber qual é a edição paraque eu possa tentar obtê-lo. Muito bom seu trabalho.
Quando vc for comprar é só pedir a edição mais recente!!
th-cam.com/video/qHm7KGTeKbc/w-d-xo.html
sim tb estou lendo a de 2006, não tem a nota de rodapé, mas no kindle consigo ver 70% das palavras que não conheço e aparecem na notinha.
👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
6:43 1.1) Foi no domingo de Páscoa que se soube em Leiria, que o pároco da Sé, José Miguéis, tinha
morrido de madrugada com uma apoplexia. O pároco era um homem sangüíneo e nutrido, que passava
entre o clero diocesano pelo comilão dos comilões. Contavam-se histórias singulares da sua voracidade. O
Carlos da Botica - que o detestava - costumava dizer, sempre que o via sair depois da sesta, com a face
afogueada de sangue, muito enfartado:
- Lá vai a jibóia esmoer. Um dia estoura!
Com efeito estourou, depois de uma ceia de peixe - à hora em que defronte, na casa do doutor
Godinho que fazia anos, se polcava com alarido. Ninguém o lamentou, e foi pouca gente ao seu enterro.
Em geral não era estimado. Era um aldeão; tinha os modos e os pulsos de um cavador, a voz rouca,
cabelos nos ouvidos, palavras muito rudes.
Nunca fora querido das devotas; arrotava no confessionário, e, tendo vivido sempre em
freguesias da aldeia ou da serra, não compreendia certas sensibilidades requintadas da devoção: perdera
por isso, logo ao princípio, quase todas as confessadas, que tinham passado para o polido padre Gusmão,
tão cheio de lábia!
E quando as beatas, que lhe eram fiéis, lhe iam falar de escrúpulos de visões, José Miguéis
escandalizava-as, rosnando:
- Ora histórias, santinha! Peça juízo a Deus! Mais miolo na bola!
As exagerações dos jejuns sobretudo irritavam-no:
- Coma-lhe e beba-lhe, costumava gritar, coma-lhe e beba-lhe, criatura!
Era miguelista3
- e os partidos liberais, as suas opiniões, os seus jornais enchiam-no duma cólera
irracionável:
- Cacete! cacete! exclamava, meneando o seu enorme guarda-sol vermelho.
Nos últimos anos tomara hábitos sedentários, e vivia isolado - com uma criada velha e um cão, o
Joli. O seu único amigo era o chantre Valadares, que governava então o bispado, porque o senhor bispo
D. Joaquim gemia, havia dois anos, o seu reumatismo, numa quinta do Alto Minho. O pároco tinha um
grande respeito pelo chantre, homem seco, de grande nariz, muito curto de vista, admirador de Ovídio -
que falava fazendo sempre boquinhas, e com alusões mitológicas.
O chantre estimava-o. Chamava-lhe Frei Hércules.
- Hércules pela força - explicava sorrindo, Frei pela gula.
No seu enterro ele mesmo lhe foi aspergir a cova; e, como costumava oferecer-lhe todos os dias
rapé da sua caixa de ouro, disse aos outros cônegos, baixinho, ao deixar-lhe cair sobre o caixão, segundo
o ritual, o primeiro torrão de terra:
- É a última pitada que lhe dou!
Todo o cabido riu muito com esta graça do senhor governador do bispado; o cônego Campos
contou-o à noite ao chá em casa do deputado Novais; foi celebrada com risos deleitados, todos exaltaram
as virtudes do chantre, e afirmou-se com respeito - que sua excelência tinha muita pilhéria!
Dias depois do enterro apareceu, errando pela Praça, o cão do pároco, o Joli. A criada entrara
com sezões no hospital; a casa fora fechada; o cão, abandonado, gemia a sua fome pelos portais. Era um
gozo pequeno, extremamente gordo, - que tinha vagas semelhanças com o pároco. Com o hábito das
batinas, ávido dum dono, apenas via um padre punha-se a segui-lo, ganindo baixo. Mas nenhum queria o
infeliz Joli; enxotavam-no com as ponteiras dos guarda-sóis; o cão, repelido como um pretendente, toda a
noite uivava pelas ruas. Uma manhã apareceu morto ao pé da Misericórdia; a carroça do estrume levou-o
e, como ninguém tomou a ver o cão, na Praça, o pároco José Miguéis foi definitivamente esquecido.
Dois meses depois soube-se em Leiria que estava nomeado outro pároco. Dizia-se que era um
homem muito novo, saído apenas do seminário. O seu nome era Amaro Vieira. Atribuía-se a sua escolha
a influências políticas, e o jornal de Leiria, A Voz do Distrito, que estava na oposição, falou com
amargura, citando o Gólgota, no favoritismo da corte e na reação clerical. Alguns padres tinham-se
escandalizado com o artigo; conversou-se sobre isso, acremente, diante do senhor chantre.
- Não, não, lá que há favor, há; e que o homem tem padrinhos, tem - disse o chantre. - A mim
quem me escreveu para a confirmação foi o Brito Correia (Brito Correia era então ministro da Justiça)
11:54 1.2) Até me diz na carta que o pároco é um belo rapagão. De sorte que - acrescentou sorrindo com satisfação -
depois de Frei Hércules vamos talvez ter Frei Apolo.
Em Leiria havia só uma pessoa que conhecia o pároco novo: era o cônego Dias, que fora nos
primeiros anos do seminário seu mestre de Moral. No seu tempo, dizia o cônego, o pároco era um rapaz
franzino, acanhado, cheio de espinhas carnais...
- Parece que o estou a ver com a batina muito coçada e cara de quem tem lombrigas!... De resto
bom rapaz! E espertote...
O cônego Dias era muito conhecido em Leiria. Ultimamente engordara, o ventre saliente enchia-
lhe a batina e a sua cabecinha grisalha, as olheiras papudas, o beiço espesso faziam lembrar velhas
anedotas de frades lascivos e glutões.
O tio Patrício, o Antigo, negociante da Praça, muito liberal e que quando passava pelos padres
rosnava como um velho cão de fila, dizia às vezes ao vê-lo atravessar a Praça, pesado, ruminando a
digestão, encostado ao guarda-chuva:
- Que maroto! Parece mesmo D. João VI!
O cônego vivia só com uma irmã velha, a Sra. D. Josefa Dias, e uma criada, que todos
conheciam também em Leiria, sempre na rua, entrouxada num xale tingido de negro, e arrastando
pesadamente as suas chinelas de ourelo. O cônego Dias passava por ser rico; trazia ao pé de Leiria
propriedades arrendadas, dava jantares com peru, e tinha reputação o seu vinho duque de 1815. Mas o
fato saliente da sua vida - o fato comentado e murmurado - era a sua antiga amizade com a Sra. Augusta
Caminha, a quem chamavam a S. Joaneira, por ser natural de S. João da Foz. A S. Joaneira morava na
Rua da Misericórdia, e recebia hóspedes. Tinha uma filha, a Ameliazinha, rapariga de vinte e três anos,
bonita, forte, muito desejada.
O cônego Dias mostrara um grande contentamento com a nomeação de Amaro Vieira. Na botica
do Carlos, na Praça, na sacristia da Sé, exaltou os seus bons estudos no seminário, a sua prudência de
costumes, a sua obediência: gabava-lhe mesmo a voz: "um timbre que é um regalo.'"
- Para um bocado de sentimento nos sermões da Semana Santa, está a calhar!
Predizia-lhe com ênfase um destino feliz, uma conezia decerto, talvez a glória de um bispado!
E um dia, enfim, mostrou com satisfação ao coadjutor da Sé, criatura servil e calada, uma carta
que recebera de Lisboa de Amaro Vieira.
Era uma tarde de Agosto e passeavam ambos para os lados da Ponte Nova. Andava então a
construir-se a estrada da Figueira: o velho passadiço de pau sobre a ribeira do Lis tinha sido destruído, já
se passava sobre a Ponte Nova, muito gabada, com os seus dois largos arcos de pedra, fortes e
atarracados. Para diante as obras estavam suspendidas por questões de expropriação; ainda se via o lodoso
caminho da freguesia de Marrazes, que a estrada nova devia desbastar e incorporar; camadas de
cascalho cobriam o chão; e os grossos cilindros de pedra, que acalcam e recamam os macadames,
enterravam-se na terra negra e úmida das chuvas.
Em roda da Ponte a paisagem é larga e tranqüila. Para o lado de onde o rio vem são colinas
baixas, de formas arredondadas, cobertas da rama verde-negra dos pinheiros novos; embaixo, na
espessura dos arvoredos, estão os casais4
que dão àqueles lugares melancólicos uma feição mais viva e
humana - com as suas alegres paredes caiadas que luzem ao sol, com os fumos das lareiras que pela tarde
se azulam nos ares sempre claros e lavados. Para o lado do mar, para onde o rio se arrasta nas
terras baixas entre dois renques de salgueiros pálidos, estende-se até os primeiros areais o campo de
Leiria, largo, fecundo, com o aspecto de águas abundantes, cheio de luz. Da Ponte pouco se vê da cidade;
apenas uma esquina das cantarias pesadas e jesuíticas da Sé, um canto do muro do cemitério coberto de
parietárias, e pontas agudas e negras dos ciprestes; o resto está escondido pelo duro monte ouriçado de
vegetações rebeldes, onde destacam as ruínas do Castelo, todas envolvidas à tarde nos largos vôos
circulares dos mochos, desmanteladas e com um grande ar histórico.
Ao pé da Ponte, uma rampa desce para a alameda que se estende um pouco à beira do rio. É um
lugar recolhido, coberto de árvores antigas. Chamam-lhe a Alameda Velha. Ali, caminhando devagar,
falando baixo, o cônego consultava o coadjutor sobre a carta de Amaro Vieira, e sobre ''uma idéia que ela
lhe dera, que lhe parecia de mestre! De mestre!'' Amaro pedia-lhe com urgência que lhe arranjasse uma
casa de aluguel, barata, bem situada, e se fosse possível mobilada; falava sobretudo de quartos numa casa
de hóspedes respeitável. "Bem vê o meu caro padre-mestre, dizia Amaro, que era isto o que
verdadeiramente me convinha; eu não quero luxos, está claro: um quarto e uma saleta seria o bastante
1.3)O
4 Casais. Pequenas propriedades; sítios. (N.E.)
5
que é necessário é que a casa seja respeitável, sossegada, central, que a patroa tenha bom gênio e que não peça mundos e fundos; deixo tudo isto à sua prudência e capacidade, e creia que todos estes favores não cairão em terreno ingrato. Sobretudo que a patroa seja pessoa acomodada e de boa língua."
- Ora a minha idéia, amigo Mendes, é esta: metê-lo em casa da S. Joaneira! resumiu o cônego com um grande contentamento. É rica idéia, hem!
- Soberba idéia, disse o coadjutor com a sua voz servil.
- Ela tem o quarto de baixo, a saleta pegada e o outro quarto que pode servir de escritório. Tem boa mobília, boas roupas...
- Ricas roupas, disse o coadjutor com respeito.
O cônego continuou:
- É um belo negócio para a S. Joaneira: dando os quartos, roupas, comida, criada, pode muito
bem pedir os seus seis tostões por dia. E depois sempre tem o pároco de casa.
- Por causa da Ameliazinha é que eu não sei - considerou timidamente o coadjutor. - Sim, pode
ser reparado. Uma rapariga nova... Diz que o senhor pároco é ainda novo... Vossa senhoria sabe o que são línguas do mundo.
O cônego tinha parado:
- Ora histórias! Então o padre Joaquim não vive debaixo das mesmas telhas com a afilhada da mãe? E o cônego Pedroso não vive com a cunhada, e uma irmã da cunhada, que é uma rapariga de dezenove anos? Ora essa!
- Eu dizia... atenuou o coadjutor.
- Não, não vejo mal nenhum. A S. Joaneira aluga os seus quartos, é como se fosse uma hospedaria. Então o secretário-geral não esteve lá uns poucos de meses?
- Mas um eclesiástico... insinuou o coadjutor.
- Mais garantias, Sr. Mendes, mais garantias! exclamou o cônego. E parando, com uma atitude confidencial: - E depois a mim é que me convinha, Mendes! A mim é que me convinha, meu amigo!
Houve um pequeno silêncio. O coadjutor disse, baixando a voz:
- Sim, vossa senhoria faz muito bem à S. Joaneira...
- Faço o que posso, meu caro amigo, faço o que posso, disse o cônego. E com uma entonação
terna, risonhamente paternal: - que ela é merecedora! é merecedora. Boa até ali, meu amigo! - Parou, esgazeando os olhos: - Olhe que dia em que eu não lhe apareça pela manhã às nove em ponto, está num frenesi! Oh criatura! digo-lhe eu, a senhora rala-se sem razão. Mas então, é aquilo! Pois quando eu tive a cólica o ano passado! Emagreceu, Sr. Mendes! E depois não há lembrança que não tenha! Agora, pela matança do porco, o melhor do animal é para o padre santo, você sabe? é como ela me chama.
Falava com os olhos luzidos, uma satisfação babosa.
- Ah, Mendes! acrescentou, é uma rica mulher!
- E bonita mulher, disse o coadjutor respeitosamente.
- Lá isso! exclamou o cônego parando outra vez. Lá isso! Bem conservada até ali! Pois olhe que
não é uma criança! Mas nem um cabelo branco, nem um, nem um só! E então que cor de pele! - E mais baixo, com um sorriso guloso: - E isto aqui! ó Mendes, e isto aqui! - Indicava o lado do pescoço debaixo do queixo, passando-lhe devagar por cima a sua mão papuda: - É uma perfeição! E depois mulher de asseio, muitíssimo asseio! E que lembrançazinhas! Não há dia que me não mande o seu presente! é o covilhete de geléia, é o pratinho de arroz-doce, é a bela morcela de Arouca! Ontem me mandou ela uma torta de maçã. Ora havia de você ver aquilo! A maçã parecia um creme! Até a mana Josefa disse: "Está tão boa que parece que foi cozida em água benta!" - E pondo a mão espalmada sobre o peito: - São coisas que tocam a gente cá por dentro, Mendes! Não, não é lá por dizer, mas não há outra.
O coadjutor escutava com a taciturnidade da inveja.
- Eu bem sei, disse o cônego parando de novo e tirando lentamente as palavras, eu bem sei que por ai rosnam, rosnam... Pois é uma grandíssima calúnia! O que é, é que eu tenho muito apego àquela gente. Já o tinha em tempo do marido. Você bem o sabe, Mendes.
O coadjutor teve um gesto afirmativo.
- A S. Joaneira é uma pessoa de bem! olhe que é uma pessoa de bem, Mendes! exclamava o cônego batendo no chão fortemente com a ponteira do guarda. sol.
- As línguas do mundo são venenosas, senhor cônego, disse o coadjutor com uma voz chorosa. E depois dum silêncio, acrescentou baixo: - Mas aquilo a vossa senhoria deve-lhe sair caro!
- Pois aí está, meu amigo! Imagine você que desde que o secretário-geral se foi embora a pobre da mulher tem tido a casa vazia: eu é que tenho dado para a panela, Mendes!
- Que ela tem uma fazendita, considerou o coadjutor.
Uma nesga5 de terra, meu rico senhor, uma nesga de terra! E depois as décimas, os jornais! Por isso digo eu, o pároco é uma mina. Com os seis tostões que ele der, com que eu ajudar, com alguma coisa que ela tire da hortaliça que vende da fazenda, já se governa. E para mim é um alívio, Mendes.
- É um alívio, senhor cônego! repetiu o coadjutor.
Ficaram calados. A tarde descaía muito límpida; o alto céu tinha uma pálida cor azul; o ar estava imóvel. Naquele tempo o rio ia muito vazio; pedaços de areia reluziam em seco; e a água baixa arrastava- se com um marulho brando, toda enrugada do roçar dos seixos.
Duas vacas, guardadas por uma rapariga, apareceram então pelo caminho lodoso que do outro lado do rio, defronte da alameda, corre junto de um silvado; entraram no rio devagar, e estendendo o pescoço pelado da canga, bebiam de leve, sem ruído; a espaços erguiam a cabeça bondosa, olhavam em redor com a passiva tranqüilidade dos seres fartos - e fios de água, babados, luzidios à luz, pendiam-lhes dos cantos do focinho. Com a inclinação do sol a água perdia a sua claridade espelhada, estendiam-se as sombras dos arcos da Ponte. Do lado das colinas ia subindo um crepúsculo esfumado, e as nuvens cor de sangüínea e cor de laranja que anunciam o calor faziam, sobre os lados do mar, uma decoração muito rica.
- Bonita tarde! disse o coadjutor.
O cônego bocejou, e fazendo uma cruz sobre o bocejo:
- Vamo-nos chegando às Ave-Marias, hem?
Quando, daí a pouco, iam subindo as escadarias da Sé, o cônego parou, e voltando-se para o
coadjutor:
- Pois está decidido, amigo Mendes, ferro o Amaro na casa da S. Joaneira! É uma pechincha para
todos.
- Uma grande pechincha! disse respeitosamente o coadjutor. Uma grande pechincha! E entraram na igreja, persignando-se.
Capítulo II
Uma semana depois, soube-se que o novo pároco devia chegar pela diligência de Chão de Maçãs, que traz o correio à tarde; e desde as seis horas o cônego Dias e o coadjutor passeavam no Largo do Chafariz, à espera de Amaro.
Era então nos fins de Agosto. Na longa alameda macadamizada que vai junto do rio, entre os dois renques de velhos choupos, entreviam-se vestidos claros de senhoras passeando. Do lado do Arco, na correnteza de casebres pobres, velhas fiavam à porta; crianças sujas brincavam pelo chão, mostrando seus enormes ventres nus; e galinhas em redor iam picando vorazmente as imundícies esquecidas. Em redor do chafariz cheio de ruído, onde os cântaros arrastam sobre a pedra, criadas ralham, soldados, com a sua fardeta suja, enormes botas cambadas, namoravam, meneando a chibata de junco; com o seu cântaro bojudo de barro equilibrado à cabeça sobre a rodilha, raparigas iam-se aos pares, meneando os quadris; e dois oficiais ociosos, com a farda desapertada sobre o estômago, conversavam, esperando, a ver quem viria. A diligência tardava. Quando o crepúsculo desceu, uma lamparina luziu no nicho do santo, por cima do Arco; e defronte iam-se iluminando uma a uma, com uma luz soturna, as janelas do hospital.
Já tinha anoitecido quando a diligência, com as lanternas acesas, entrou na Ponte ao trote esgalgado dos seus magros cavalos brancos, e veio parar ao pé do chafariz, por baixo da estalagem do Cruz; o caixeiro do tio Patrício partiu logo a correr para a Praça com o maço dos Diários Populares; o tio Baptista, o patrão, com o cachimbo negro ao canto da boca, desatrelava, praguejando tranqüilamente; e um homem que vinha na almofada, ao pé do cocheiro, de chapéu alto e comprido capote eclesiástico, desceu cautelosamente, agarrando-se às guardas de ferro dos assentos, bateu com os pés no chão para os desentorpecer, e olhou em redor.
- Oh, Amaro! gritou o cônego, que se tinha aproximado, oh ladrão!
- Oh, padre-mestre! disse o outro com alegria. E abraçaram-se, enquanto o coadjutor, todo curvado, tinha o barrete na mão.
Daí a pouco as pessoas que estavam nas lojas viram atravessar a Praça, entre a corpulência vagarosa do cônego Dias e a figura esguia do coadjutor, um homem um pouco curvado, com um capote
5 Nesga. Pequena porção de terra. (N.E.)
7
de padre. Soube- se que era o pároco novo; e disse-se logo na botica que era uma boa figura de homem. O João Bicha levava adiante um baú e um saco de chita; e como aquela hora já estava bêbedo, ia resmungando o Bendito.
Eram quase nove horas, a noite cerrara. Em redor da Praça as casas estavam já adormecidas: das lojas debaixo da arcada saía a luz triste dos candeeiros de petróleo, entreviam-se dentro figuras sonolentas, caturrando em cavaqueira, ao balcão. As ruas que vinham dar à Praça, tortuosas, tenebrosas, com um lampião mortiço, pareciam desabitadas. E no silêncio o sino da Sé dava vagarosamente o toque das almas.
O cônego Dias ia explicando pachorrentamente ao pároco "o que lhe arranjara". Não lhe tinha procurado casa: seria necessário comprar mobília, buscar criada, despesas inumeráveis! Parecera-lhe melhor tomar- lhe quartos numa casa de hóspedes respeitável, de muito conchego - e nessas condições (e ali estava o amigo coadjutor que o podia dizer), não havia como a da S. Joaneira. Era bem arejada, muito asseio, a cozinha não deitava cheiro; tinha lá estado o secretário-geral e o inspetor dos estudos; e a S. Joaneira (o Mendes amigo conhecia-a bem) era uma mulher temente a Deus, de boas contas, muito econômica e cheia de condescendências...
- Você está ali como em sua casa! Tem o seu cozido, prato de meio, café... - Vamos a saber, padre-mestre: preço? disse o pároco.
- Seis tostões. Que diabo! é de graça! Tem um quarto, tem uma saleta...
- Uma rica saleta, comentou o coadjutor respeitosamente.
- E é longe da Sé? perguntou Amaro.
- Dois passos. Pode-se ir dizer missa de chinelos. Na casa há uma rapariga, continuou com a sua voz pausada o cônego Dias. E a filha da S. Joaneira. Rapariga de vinte e dois anos. Bonita. Sua pontinha de gênio, mas bom fundo... Aqui tem você a sua rua.
Era estreita, de casas baixas e pobres, esmagada pelas altas paredes da velha Misericórdia, com um lampião lúgubre ao fundo.
- E aqui tem você o seu palácio! disse o cônego, batendo na aldraba de uma porta esguia.
No primeiro andar duas varandas de ferro, de aspecto antigo, faziam saliência, com os seus arbustos de alecrim, que se arredondavam aos cantos em caixas de madeira; as janelas de cima, pequeninas, eram de peitoril; e a parede, pelas suas irregularidades, fazia lembrar uma lata amolgada.
A S. Joaneira esperava no alto da escada; uma criada, enfezada e sardenta, alumiava com um candeeiro de petróleo; e a figura da S. Joaneira destacava plenamente na luz sobre a parede caiada. Era gorda, alta, muito branca, de aspecto pachorrento. Os seus olhos pretos tinham já em redor a pele engelhada; os cabelos arrepiados, com um enfeite escarlate, eram já raros aos cantos da testa e no começo da risca; mas percebiam-se uns braços rechonchudos, um colo copioso e roupas asseadas.
- Aqui tem a senhora o seu hóspede, disse o cônego subindo.
- Muita honra em receber o senhor pároco! muita honra! Há-de vir muito cansado! por força! Para aqui, tem a bondade? Cuidado com o degrauzinho.
Levou-o para uma sala pequena, pintada de amarelo, com um vasto canapé de palhinha encostado à parede, e defronte, aberta, uma mesa forrada de baeta verde.
- É a sua sala, senhor pároco, disse a S. Joaneira. Para receber, para espairecer... Aqui - acrescentou abrindo uma porta - é o seu quarto de dormir. Tem a sua cômoda, o seu guarda-roupa... - Abriu os gavetões, gabou a cama batendo a elasticidade dos colchões. - Uma campainha para chamar sempre que queira... As chavinhas da cômoda estão aqui... Se gosta de travesseirinho mais alto... Tem um cobertor só, mas querendo...
- Está bem, está tudo muito bem, minha senhora, - disse o pároco com a sua voz baixa e suave. - É pedir! O que há, da melhor vontade...
- Oh criatura de Deus! interrompeu o cônego jovialmente, o que ele quer agora é cear!
- Também tem a ceiazinha pronta. Desde as seis que está o caldo a apurar...
E saiu, para apressar a criada, dizendo logo do fundo da escada:
- Vá, Ruça, mexe-te, mexe-te!...
O cônego sentou-se pesadamente no canapé, e sorvendo a sua pitada:
- É contentar, meu rico. Foi o que se pôde arranjar.
- Eu estou bem em toda parte, padre-mestre, disse o pároco, caçando os seus chinelos de ourelo.
Olha o seminário!... E em Feirão! Caía- me a chuva na cama.
Para o lado da Praça, então, sentiu-se o toque de cometas. - Que é aquilo? perguntou Amaro, indo à janela.
- As nove e meia, o toque de recolher.
2.2) Amaro abriu a vidraça. Ao fim da rua um candeeiro esmorecia. A noite estava muito negra. E havia sobre a cidade um silêncio côncavo, de abóbada.
Depois das cometas, um rufar lento de tambores afastou-se para o lado do quartel; por baixo da janela um soldado, que se demorara nalguma viela do Castelo, passou correndo; e das paredes da Misericórdia saía constantemente o agudo piar das corujas.
- É triste isto, disse Amaro.
Mas a S. Joaneira gritou de cima:
- Pode subir, senhor cônego! Está o caldo na mesa!
- Ora vá, vá, que você deve estar a cair de fome, Amaro! - disse o cônego, erguendo-se muito
pesado.
E detendo um momento o pároco, pela manga do casaco:
- Vai você ver o que é um caldo de galinha feito cá pela senhora! Da gente se babar!...
No meio da sala de jantar, forrada de papel escuro, a claridade da mesa alegrava, com a sua
toalha muito branca, a louça, os copos reluzindo à luz forte dum candeeiro de abajur verde. Da terrina subia o vapor cheiroso do caldo e, na larga travessa a galinha gorda, afogada num arroz úmido e branco, rodeada de nacos de bom paio, tinha uma aparência suculenta de prato morgado. No armário envidraçado, um pouco na sombra, viam-se cores claras de porcelana; a um canto, ao pé da janela, estava o piano, coberto com uma colcha de cetim desbotado. Na cozinha frigia-se; e sentindo o cheiro fresco que vinha dum tabuleiro de roupa lavada, o pároco esfregou as mãos, regalado.
- Para aqui, senhor pároco, para aqui, disse a S. Joaneira. Dai pode vir-lhe frio. - Foi fechar as portadas das janelas; chegou-lhe um caixão de areia para as pontas dos cigarros. - E o senhor cônego toma um copinho de geléia, sim?
- Vá lá, para fazer companhia, disse jovialmente o cônego, sentando- se e desdobrando o guardanapo.
A S. Joaneira, no entanto, mexendo-se pela sala, ia admirando o pároco, que, com a cabeça sobre o prato, comia em silêncio o seu caldo, soprando a colher. Parecia bem-feito; tinha um cabelo muito preto, levemente anelado. O rosto era oval, de pele trigueira e fina, os olhos negros e grandes, com pestanas compridas.
O cônego, que não o via desde o seminário, achava-o mais forte, mais viril.
- Você era enfezadito...
- Foi o ar da serra, dizia o pároco, fez-me bem! - Contou então a sua triste existência em Feirão,
na alta Beira, durante a aspereza do Inverno, só com pastores. O cônego deitava-lhe o vinho de alto, fazendo-o espumar.
- Pois é beber-lhe, homem! é beber-lhe! Desta gota não pilhava você no seminário. Falaram do seminário.
- Que será feito do Rabicho, o despenseiro? disse o cônego.
- E do Carocho, que roubava as batatas?
Riram; e bebendo, na alegria das reminiscências, recordavam as histórias de então, o catarro do
6 reitor, e o mestre do cantochão que deixara um dia cair do bolso as poesias obscenas de Bocage .
- Como o tempo passa, como o tempo passa! diziam.
A S. Joaneira então pôs na mesa um prato covo com maçãs assadas.
- Viva! Não, lá nisso também eu entro! exclamou logo o cônego. A bela maçã assada! nunca me
escapa! Grande dona de casa, meu amigo, rica dona de casa, cá a nossa S. Joaneira! Grande dona de casa! Ela ria; viam-se os seus dois dentes de diante, grandes e chumbados. Foi buscar uma garrafa de vinho do Porto; pôs no prato do cônego, com requintes devotos, uma maçã desfeita, polvilhada de açúcar;
e batendo-lhe nas costas com a mão papuda e mole:
- Isto é um santo, senhor pároco, isto é um santo! Ai! devo-lhe muitos favores!
- Deixe falar, deixe falar, dizia o cônego. - Espalhava-se-lhe no rosto um contentamento baboso.
- Boa gota! acrescentou, saboreando o seu cálice de Porto. Boa gota! - Olhe que ainda é dos anos da Amélia, senhor cônego.
6 Observe a crítica ao clero desenvolvida pelo narrador desde o inicio da narrativa Os religiosos agem apenas por interesses grosseiramente materiais: dinheiro, alimento e sexo Há uma contradição entre o que realmente são e o que aparentam ser, como ocorre com o mestre de cantochão (canto religioso monótono), que se divertia lendo poemas obscenos do poeta pré-romântico português Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) (N.E.)
9
- E onde está ela, a pequena?
- Foi ao Morenal com a D. Maria. Aquilo naturalmente foram para casa das Gansosos passar a noite.
- Cá esta senhora é proprietária, explicou o cônego, falando do Morenal. É um condado! - Ria com bonomia, e os seus olhos luzidios percorriam ternamente a corpulência da S. Joaneira.
- Ah, senhor pároco, deixe falar, é uma nesga de terra... disse ela.
Mas vendo a criada encostada à parede, sacudida com aflições de tosse:
- Ó mulher, vai tossir lá para dentro! credo!
A moça saiu, pondo o avental sobre a boca.
- Parece doente, coitada, observou o pároco.
Muito achacada, muito!... A pobre de Cristo era sua afilhada, órfã, e estava quase tísica. Tinha-a
tomado por piedade...
- E também porque a criada que cá tinha foi para o hospital, a desavergonhada... Meteu-se aí com
um soldado!...
O padre Amaro baixou devagar os olhos - e trincando migalhas, perguntou se havia muitas
doenças naquele Verão.
- Colerinas, das frutas verdes, rosnou o cônego. Metem-se pelas melancias, depois tarraçadas de
água... E suas febritas...
Falaram então das sezões do campo, dos ares de Leiria.
- Que eu agora, dizia o padre Amaro, ando mais forte. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo,
tenho saúde, tenho!
- Ai, Nosso Senhor lha conserve, que nem sabe o bem que é! exclamou a S. Joaneira. - Contou
imediatamente a grande desgraça que tinha em casa, uma irmã meio idiota entrevada havia dez anos! Ia fazer sessenta anos... No Inverno viera-lhe um catarro, e desde então, coitadinha, definhava, definhava...
- Há bocado, ao fim da tarde, teve ela um ataque de tosse! Pensei que se ia embora. Agora descansou mais...
Continuou a falar "daquela tristeza", depois da sua Ameliazinha, das Gansosos, do antigo chantre, da carestia de tudo - sentada, com o gato no colo, rolando com os dois dedos, monotonamente, bolinhas depão. O cônego, pesado, cerrava as pálpebras; tudo na sala parecia ir gradualmente adormecendo; a luz do candeeiro esmorecia.
- Pois senhores, disse por fim o cônego mexendo-se, isto são horas!
O padre Amaro ergueu-se, e com os olhos baixos deu as graças.
- O senhor pároco quer lamparina? perguntou cuidadosamente a S. Joaneira.
- Não, minha senhora. Não uso. Boas noites!
E desceu devagar, palitando os dentes.
A S. Joaneira alumiava no patamar, com o candeeiro. Mas nos primeiros degraus o pároco parou,
e voltando-se, afetuosamente:
- É verdade, minha senhora, amanhã é sexta-feira, é jejum...
- Não, não, acudiu o cônego que se embrulhava na capa de lustrina, bocejando, você amanhã
janta comigo. Eu venho por cá, vamos ao chantre, á Sé, e por aí... E olhe que tenho lulas. É um milagre, que isto aqui nunca há peixe.
A S. Joaneira tranqüilizou logo o pároco.
- Ai, é escusado lembrar os jejuns, senhor pároco. Tenho o maior escrúpulo!
- Eu dizia, explicou o pároco, porque infelizmente hoje em dia ninguém cumpre.
- Tem vossa senhoria muita razão, atalhou ela. - Mas eu! credo!... A salvação da minha alma
antes de tudo!
A campainha embaixo, então, retiniu fortemente.
- Há-de ser a pequena, disse a S. Joaneira. Abre, Ruça!
A porta bateu, sentiram-se vozes, risinhos.
- És tu, Amélia?
Uma voz disse adeusinho! adeusinho! E apareceu, subindo quase a correr, com os vestidos um
pouco apanhados adiante, uma bela rapariga, forte, alta, bem-feita, com uma manta branca pela cabeça e na mão um ramo de alecrim.
- Sobe, filha. Aqui está o senhor pároco. Chegou agora à noitinha, sobe!
Amélia tinha parado um pouco embaraçada, olhando para os degraus de cima, onde o pároco ficara, encostado ao corrimão. Respirava fortemente de ter corrido; vinha corada; os seus olhos vivos e negros luziam; e saía dela uma sensação de frescura e de prados atravessados. O pároco desceu, cingido ao corrimão, para a deixar passar, murmurando boas-noites! com a cabeça baixa. O cônego, que descia atrás, pesadamente, tomou o meio da escada, diante de Amélia:
- Então isto são horas, sua brejeira?
Ela teve um risinho, encolheu-se.
- Ora vá-se encomendar a Deus, vá! disse batendo-lhe no rosto devagarinho com a sua mão
grossa e cabeluda.
Ela subiu a correr, enquanto o cônego, depois de ir buscar o guarda- sol à saleta, saía, dizendo à
criada, que erguia o candeeiro sobre a escada:
- Está bem, eu vejo, não apanhes frio, rapariga. Então às oito, Amaro! Esteja a pé! Vai-te,
rapariga, adeus! Reza à Senhora da Piedade que te seque essa catarreira.
O pároco fechou a porta do quarto. A roupa da cama entreaberta, alva, tinha um bom cheiro de
linho lavado. Por cima da cabeceira pendia a gravura antiga dum Cristo crucificado. Amaro abriu o seu Breviário, ajoelhou aos pés da cama, persignou-se; mas estava fatigado, vinham-lhe grandes bocejos; e então por cima, sobre o teto, através das orações rituais que maquinalmente ia lendo, começou a sentir o tique-tique das botinas de Amélia e o ruído das saias engomadas que ela sacudia ao despir-se.
@@jozz9Mar7 MUITO OBRIGADA VOCE ME AJUDOU MUITO!!!
quem quer ler rápido pra uerj poe na velocidade 2 e acompanha com o livro pra não se perder
O livro é bom, porém o áudio é muito baixo... Não dá pra escutar em qualquer lugar 😞
o pior da Igreja catolica e' proibirem os padres de casarem e' a unica religiao a fazer isso , Jesus Cristo nunca o proibiu
Eles vão pro que quer pro seminário,ninguém forçou eles irem
@elianebernardes109 hj não digo que são forçados mas até umas décadas atrás eram na maioria das vezes obrigados sim!! A família fazia acordos com igreja, fazia as vezes promessa e outros formas de obrigar meninos (tbm meninas) a entrarem em um caminho que não tinham a menor ideia do que era.. Sistema tirânico 😢😢
Concordo.Somente a Igreja Católica proibe os padres de se casarem.
Eles usam como exemplo Jesus , que nunca se casou , mas isso foi porque ele tinha a missão de evangelizar que deveria ser cumprida até os 33 anos de idade e não tinha tempo para mais nada.
A vocação do sacerdote é bela! Não se casam,porque fazem voto e se doam totalmente para a Igreja.
Crítica para à Igreja feita com sucesso.
So pra quem vai fzr a específica da UERJ
Exatamente hahahahah
Tmj
Cap 1 em 6:30
¿Que significa polcava? no encontré en el diccionario
Do verbo "polcar": dançar polca
¡Muchas gracias!
2:29:07
Cap 3: 45:03
06:40
16:48
32:21
38:08
55:00
1.52.00
1:00:00
1:48:00
2:28:00
3:18:00
4:00:00
4:40:00
Uma linguagem estilosa e pura, mas diferente da nossa forma de falar da época. De qualquer forma, um insulto à Igreja, ao Clero. De tudo se deduz que Eça de Queiroz, das duas uma: É ateu, ou é um intolerante, insensível aos rituais e costumes da Igeja católica.
Creio mesmo que criou "O crime do Padre Amaro" simplesmente para chincalhar o clero.
@@crisantofortaleza Eça em sua segunda fase - fase que escreveu esse livro - estava no movimento *realista*, que, adorava fazer críticas a todos, instituicoes, as pessoas, aos costumes.
Os argumentos que utilizavam quando perguntavam se tinham vergonha de escrever aquilo eles respondiam: - Vergonha devia ter quem comete esses crimes, eu só escrevo o que acontece.
E eu amo essa justificativa, afinal, não era ele criando mentiras pra atacar a igreja católica, era ele mostrando algumas verdades que eram ocultadas pela igreja católica.
Se você é católico, não sinta-se ofendido com esse livro, a igreja católica era muito corrupta, isso não acontece mais hoje!
Aliás, eu sou Agnóstico, e acredito - pelos livros que escreveu - que Eça de Queiroz também era.
Tretas!
Já perto do final do livro, Eça apresenta o Abade Ferrão. Também ele é membro do clero, também ele é católico, mas tem um carácter muito diferente dos outros. Contrasta bem com os outros e bem podemos sentir que as simpatias do Eça recaem sobre este personagem.
Repare que até o Padre Amaro é apresentado como uma pessoa com a qual podemos empatizar em muitos momentos, perceber de onde lhe vem a frustração.
Ser contra o clero não é o mesmo que não ter religião; não é o mesmo que ser intolerante.
"Insensível aos rituais e costumes" ... Você queria que ele apresentasse padres glutões, fornicadores, violadores do segredo de confissão, homicidas (entregar um bebé à "tecedeira de anjos" é praticamente um homicídio), com falta de caridade (veja-se o tratamento dado à paralítica) e que contivesse a crítca por respeito aos RITUAIS? Que asneira é essa?
Eça critica o clero - pois sim! - um CERTO clero, dando a entender que há OUTRO além desse.
Eça criticou pecados grotescos de homens falíveis e você viu um ataque a uma classe!
Eça fez um retrato a cores e você viu-o a preto e branco!
8:14:05
O ladrão! E isso mesmo.pra quem leu o livro ?
03/09/2018
Que porra de livro chato cruzes
Aí só para quem tem cultura não para imbecil
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37:18 p/ o resumo
3
cap3 = flashback
1:08:04
cap4
1:08:00