Os humanos somos os seres mais complexos e com maior potência de agir que habitam este planeta. Essa potência consciente também traz uma maior responsabilidade por nossos atos individuais e coletivos. Somente ampliando nosso conhecimento seremos capazes de nos aproximar de uma vida plena, não isenta de sofrimentos, pois somos uma pequeníssima e frágil parte da natureza. No entanto, essa limitação não nos impede de nos esforçarmos para aprender a utilizar a razão para organizar nossas relações com os inúmeros corpos com os quais teremos outros tantos encontros ao longo de nossas vidas.
Nossa potência de agir é a capacidade de suportar (sofrer) e fazer; são as paixões e ações das quais somos capazes. Os afetos produzidos pelos encontros são a variação dessa potência. Aumentar nosso conhecimento amplia nossa capacidade de compor com os outros corpos nos encontros, buscados ou não, orientando nossos desejos e melhorando nossas ações em busca de uma vida mais feliz.
BARUCH SPINOZA - ÉTICA - PARTE QUARTA: “DA SERVIDÃO HUMANA, OU DA FORÇA DOS AFETOS” - APÊNDICE
“Capítulo I: Todos os nossos esforços ou desejos decorrem da necessidade da nossa natureza…” “…somos uma parte da natureza que, por si mesma e sem relação aos outros indivíduos, não pode ser adequadamente concebida.”
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“Capítulo III: Nossas ações, ou seja, os desejos que se definem pela potência do homem, ou seja, pela razão, são sempre bons; por outro lado, os outros podem ser tanto bons quanto maus.”
“Capítulo IV: Portanto, na vida, é útil, sobretudo, aperfeiçoar ao máximo o entendimento ou a razão, e é nisso que consiste a suprema felicidade ou beatitude do homem…”
“Capítulo XXVII: A principal utilidade que nos trazem as coisas que estão fora de nós, além da experiência e do conhecimento que adquirimos ao observá-las e transformá-las umas nas outras, é a conservação do nosso corpo; e por isso, são úteis, sobretudo, aquelas coisas que podem alimentar e nutrir o corpo de modo que todas as suas partes possam desempenhar corretamente sua função. Pois quanto mais apto é o corpo para ser afetado de várias maneiras, e para afetar de várias maneiras os corpos externos, tanto mais apta é a alma para pensar…”
AXEL CHERNIAVSKY - LA REVUELTA FILOSÓFICA
“…como parte da natureza, o ser humano segue as leis da natureza, como as plantas e os animais” …“É mais complexo, mas não é um império com leis próprias.”
GILLES DELEUZE - EM MEDIO DE SPINOZA
“O que é não saber nadar? Não saber nadar é estar à mercê dos encontros com uma onda. Vocês têm o conjunto infinito das moléculas de água que formam a onda. Digo que é uma onda porque esses corpos mais simples que chamo de ‘moléculas de água’ na verdade não são os mais simples, seria necessário ir ainda mais longe, eles já pertencem a um corpo: o corpo aquático, o corpo do oceano, o corpo do lago, etc.
O que é, então, o conhecimento do primeiro gênero? Bem, eu vou, me lanço e, como se diz, me jogo na água. O que significa ‘me jogar’? É bem simples. A palavra indica claramente que se trata de relações extrínsecas. Às vezes a onda me golpeia, às vezes me leva. São efeitos de choque. Ou seja, não conheço nada da relação que se compõe ou se descompõe, apenas recebo os efeitos de partes extrínsecas. As partes que me pertencem são sacudidas, recebem o efeito do choque das partes que pertencem à onda. Então, às vezes eu rio, outras vezes eu choro, dependendo se a onda me faz rir ou me derruba. Estou nos afetos-paixões: ‘Oh, mamãe, a onda me bateu!’.
Se, por outro lado, eu sei nadar, isso não significa necessariamente que eu tenha um conhecimento matemático, físico ou científico sobre o movimento da onda. Significa que eu tenho um saber fazer, uma incrível habilidade. Ou seja, uma espécie de senso de ritmo. A rítmica. O que significa o ritmo? Significa que eu sei compor diretamente as minhas relações características com as relações da onda...”
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“As ondas ou os amores… e dançar… são a mesma coisa.”