Você viu o outono chegar? As belas imagens do poder-da-flor, d'uma década onde nasce a liberdade e o progresso e o amor e a coisarada toda, desmancham nas brumas do pod em mais uma sexta de capitalismo pós-pós-tardio. Mas as miragens, mesmo que miragens, mesmo que fugazes, ganham força pelo contraste e imprimem na carne o desejo (e a convicção) de se jogar. Voo mágico. Pós-pós-ironia.
BAQUE! é o nome de batismo do projeto que entrecruza a carreira e os experimentos independentes de Mattos, Tonton, Lucas Rosseto e Gabriel Lucena. Numa sessão de jams infinitas no final de 2023, que fluíram entre a neoneopsicodelia de Boogarins e Tagore e a efervescência raiz de Syd Barrett e 13th Floor Elevators, entre o eletrônico experimental de Silver Apples e a regência ruidosa de Broadcast, passando pela visceralidade camaleônica de King Gizzard e a fluidez da Som Imaginário, o grupo se constitui, se faz e refaz a partir de imersões ritualísticas, energéticas e teatrais. Eis a certidão de nascimento das canções autorais que você conhecerá agora.
Na BAQUE!, buscamos o rock-rito e somos partidários da surrealidade. Nada melhor, então, do que começar os lançamentos fonográficos com registros (resíduos?) da música ao vivo - e viva, vivificante. Sem Piscina Jam Session é o primeiro projeto a dar tração ao trampo autoral da Baque! e vem coroar os primeiros seis meses de shows na Noite da floresta de concreto.
Word of faith é uma faixa autoral da Jam Session gravada ao vivo no estúdio Sem Piscina, em São Paulo. Produzida por Naked Creature!
Tonton: synths, guitarra, sample violão
Mattos: baixo
Lucena: bateria, pads
Lucas: guitarra
Direção de câmera: Kauã Nascimento
Edição de vídeo: Mattos
Olha como o tempo empobrece
a tua nobreza…
Embota os botões do teu elegante terno;
Empena a madeira do teu violão moderno;
Enferruja as articulações das suas ideias;
Olha tudo que cê prometeu.
O tempo é uma beleza:
A gente já te esqueceu.
O dia nem findou,
A gente te esqueceu.
A noite nem caiu e a gente já…
Vem comigo
contemplar a pelagem furta-cor
de um tigre faminto;
Fazer amizade com o rato
que mora no forro do teto
deste pobre recinto;
E observar
que o verão do amor se tornou
um eterno outono de rancor;
E observar
que teu pai tem nome azul na Wiki;
E observar:
Teu palco é o mundo
e todos te amam
mas tudo ao redor
é ruína e areia
tudo ao redor
ruínas e areia.
Vê se me encanta o seu canto de sereia
Vê se me toca esse teu raio solar
Vê se me encanta o seu canto de sereia
Vê se me engole,
Vou morar na tua garganta.
O dia nem findou
A gente te esqueceu
A noite nem caiu
A gente te esqueceu
O barco nem zarpou
A gente te esqueceu
A água nem ferveu
A gente te esqueceu
A pinga nem subiu
A gente te esqueceu
O pão nem empedrou
A mão nem calejo
A aleluia nem morreu
O papa nem rezou
A pupa nem rompeu
A nuvem nem soprou
A chuva nem chegou
O vento nem varreu
A areia nem voou
A história nem julgou
A vista que te vê
A mão que te aplaudiu
A canção que nem findou
A canção que nem findou
E a gente te esqueceu
A gente te esqueceu
Vê se me encanta o seu canto de sereia
Vê se me toca esse teu riso solar
Vê se me encanta o seu canto de sereia
Vê se me engole para eu morar na sua garganta
Vê se me encanta o seu canto de sereia
Me sacrifica num altar com teu punhal de prata
Vê se me encanta
Ruínas e areia
Vê se me engole
Vê se me engole
Vê se me engole
Eu não vou te engolir