Eu sempre fui uma pessoa muito ocupada correndo de um lado para o outro. Fico o dia inteiro conectada à internet, esperando que alguma notícia iria mudar minha vida pra sempre. São tantas notícias e absolutamente nada muda. Eu sempre achei que estar antenada a tudo era a única forma de viver, de ser produtiva, de ser feliz.
Um dia eu recebi um convite inesperado de uma amiga que morava no interior. Ela me convidou para passar um fim de semana na casa dela para relaxar e aproveitar a natureza. Eu hesitei no primeiro momento, mas acabei aceitando. Tenho cada vez mais seguidores na internet, mas cada vez menos amigos na vida real, então talvez seja bom mudar um pouquinho os meus planos.
Quando cheguei lá na casa da minha amiga fiquei surpresa com a simplicidade e a beleza do lugar. A casa era aconchegante, cercada de flores e árvores. O ar tinha cheiro de vida, ao contrário do cheiro pesado e poluído de onde eu moro. Havia dezenas de pássaros que eu nunca havia ouvido o canto. O sol quente era gostoso de sentir na pele.
Pela primeira vez em anos joguei o celular dentro da mochila e esqueci dele por dias. Nem achei que isso era possível. E olha que havia sinal quatro Gê.
Deixei a minha mala no quarto e fui explorar o lugar. Eu me senti como uma criança, curiosa e encantada com tudo. Eu vi uma cachoeira, um lago, uma horta e um galinheiro.
O cheiro do galinheiro não era tão gostoso de sentir, mas o omelete que minha amiga fez com os ovos das galinhas era de outro mundo. Eu respirei fundo e senti uma paz que há muito tempo não sentia.
Minha amiga me chamou para sentar em um banco de madeira todo deformado. Nós conversamos sobre os nossos sonhos e nossas dificuldades. Nossos sonhos eram parecidos, e nossas dificuldades eram extremamente diferentes. O trabalho dela era difícil, mas trazia abundância. O meu trabalho não era tão difícil assim, mas me trazia algum tipo de angústia que eu nunca soube explicar.
Ela dizia ter encontrado o seu equilíbrio. E talvez seja sobre isso. Assumo que a coragem dela de abandonar um escritório da cidade grande e viver de agricultura familiar ainda me assusta. Mas eu comecei a questionar as minhas próprias escolhas e os meus próprios valores.
Trabalho tanto e só gasto com coisas fúteis, principalmente bebidas. Já minha amiga aprendeu a fazer a própria cerveja artesanal, que é muito mais gostosa das cervejas que eu consumia na cidade.
À noite, naquele momento íntimo e pessoal, eu me questionava ainda mais. Será que eu estava vivendo ou apenas sobrevivendo? Eu estava feliz ou apenas conformada com um bom salário? Eu estava aproveitando ou desperdiçando o meu tempo?
Tudo na cidade, mesmo com as novidades, parece tão análogo. Tudo aqui na natureza, que permanece igual à décadas, parece irreconhecível para mim.
Eu aprendi muitas coisas novas, como plantar e cuidar dos animais. Não sabia o nome da metade das plantas e árvores e corri de medo da maioria dos animais, principalmente dos gansos, que parecem odiar os seres humanos com todas suas forças.
Ah, e também jogamos UNO. E foi nesse momento que eu descobri que minha amiga era uma trapaceira nas cartas. Ela roubava descaradamente, colocando cartas na manga, trocando de cor sem avisar, inventando regras absurdas. Era tudo tão descarado e cômico que no final das contas eu acabava rindo junto com ela.
Foi uma loucura. Aliás, foi a melhor loucura em anos. Talvez até de todos os meus anos de vida.
Também descobri que a natureza não era tão amigável assim. Eu resolvi tomar um banho na cachoeira, mas acabei levando um susto quando vi o estado do meu cabelo depois. Ele ficou todo embaraçado e cheio de folhas e galhos. Parecia que eu tinha sido atacada por uma ninhada de pássaros de olhos vermelhos revoltados.
A visita acabou. O tempo foi tão gentil conosco. Foram três dias que valeram por um ano. Perdi até uns quilinhos. Provavelmente porque não pedi nenhuma comida por aplicativo. Eu voltei para casa com uma sensação de gratidão e de renovação. Eu percebi que a vida é muito mais do que trabalho, internet e estresse.
Dizem que a felicidade está nas coisas simples. Pois eu digo que a felicidade está nas coisas complexas: no abandono da tecnologia e da rotina. A felicidade foi uma decisão difícil, porque vivemos em uma bolha que tornou o errado certo, e o certo errado. Parecia tão errado ser feliz nesses três dias.
Essa foi a história mais bonita e divertida que eu vivi. E essa é a moral da história: não deixe que a rotina te impeça de ver a beleza da vida.