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Não existe nenhuma referência directa ou explicita à cremação em toda a obra básica de Allan Kardec. No entanto, podemos pensar sobre o tema de forma lógica e tentar chegar a uma conclusão. Sabemos que o ser humano encarnado, é composto por 3 realidades: o corpo físico, o espírito (que é a centelha divina) e o perispírito, que para nós não é matéria, no entanto os espíritos explicam que é matéria num estado que nós ainda não compreendemos. Também sabemos que quando desencarnamos, o corpo físico é como se fosse uma peça de roupa que já não está com a mínima condição de ser usada, sendo então esse corpo sepultado ou cremado. Assim, quando por exemplo um médium indica estar a ver o espírito de alguém, na verdade está a ver o perispírito, pois o espírito propriamente dito não se vê, mas por uma questão de facilidade linguística e razoabilidade, considera-se certo essa sentença (de estar a ver o espírito de alguém). Mas voltando ao tema da desencarnação, nesse caso, se o corpo físico passou a ser algo sem vida, não é capaz de transmitir sensações de frio, calor, fome, sede, dor, etc. À primeira vista e perante o raciocínio acima, tudo parece indicar no sentido de que após a morte nada se sente, certo? Então porque nas reuniões mediunicas por vezes surgem pessoas aflitas (espíritos já desencarnados) a queixarem-se de dor, falta de ar, fome, sede, etc.?! Fundamentalmente por dois motivos: 1. O momento da morte não é (ou pode não ser) sinónimo de que se desencarnou. Por outras palavras: como o perispírito está ligado ao corpo através de todas as células, eu posso morrer neste exacto momento, mas o meu perispiro ainda demorar algum tempo a desligar-se do corpo (algum tempo, entenda-se por segundos, minutos, dias e por vezes até semanas, meses ou longos anos), variando isto de acordo com vários factores. Nesse caso após a morte, o espírito pode, durante algum tempo, manter uma ligação com o corpo através do perispírito, e essa ligação pode causar um certo grau de perturbação espiritual. No entanto, essa sensação é mais psicológica ou emocional do que física, dependendo do estado de evolução do espírito, da sua preparação para a morte, e da forma como encara o processo de desencarnação. 2. A pessoa em causa não tem conhecimentos sobre a vida espiritual, não percebe que morreu, e como se vê a si prórpio, ao seu corpo (na realidade está a ver o perispirito, mas não sabe disso) julga estar no mundo material, quando na realidade continua vivo(a) sim, mas no mundo espiritual, mantendo as sensações de fome, sede, dor, etc. porque é o que está "programado" psicologicamente e emocionalmente para sentir. Dessa forma, podemos inferir que o corpo em si não sente nada (seja na cremação, seja na decomposição após sepultamento), no entanto, se o espírito ainda estiver muito apegado ao corpo ou num estado de perturbação, pode, temporariamente, sentir desconforto psicológico ao perceber o que está acontecer ao corpo (seja cremado ou não). Porém, isso depende mais da sua condição espiritual do que do processo em si. O tempo necessário para o desligamento do espírito (perispírito) do corpo pode variar, e o apego ao corpo pode influenciar as sensações que ele percepciona no momento da separação. Em resumo, a cremação, em si, não causa dor física ao espírito, mas o estado de apego ao corpo pode influenciar temporariamente a sua experiência. A evolução e o entendimento do espírito sobre a sua nova condição são factores determinantes.

@@FranciscoJReis Muito obrigada pela passagem de conhecimento, muita clareza. Entendi perfeitamente.✨✨✨🙏

Obrigado